Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Crescer, namorar, casar, cuidar da casa e ter filhos era o futuro de muitas mulheres. No entanto, isso mudou. A decisão de optar por não ter filhos tem se tornado cada vez mais comum. Essa tendência reflete uma série de fatores sociais, emocionais, financeiros e pessoais. Atualmente, a decisão tem sido mais complexa e envolve uma profunda reflexão sobre o papel que cada um deseja desempenhar em suas vidas.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam essa observação. Segundo as Estatísticas do Registro Civil, o Brasil registrou 2,54 milhões de nascimentos em 2022, representando uma queda de 3,5% em comparação com 2021, quando foram registrados 2,63 milhões de nascimentos.
Esse foi o quarto ano consecutivo de recuo no número de nascimentos, que atingiu o menor nível desde 1977. As regiões Nordeste (-6,7%) e Norte (-3,8%) foram as que mais registraram essa redução.
Para se aprofundar mais nas questões que pesam nessa decisão, o Portal RIOS DE NOTÍCIAS entrevistou a psicanalista Samiza Soares, que destacou a importância de entender as diversas camadas que compõem essa escolha.
A psicanalista enfatiza que compreender as motivações pessoais, sociais e emocionais envolvidas é importante para uma discussão profunda e informada sobre o tema. Além disso, a decisão de não ter filhos não deve ser vista como uma tendência passageira, mas como um reflexo das transformações pelas quais a sociedade está passando.
“O papel da terapia pode ser fundamental para ajudar as pessoas a explorar seus sentimentos e a tomar decisões que estejam alinhadas com seus valores e objetivos pessoais”, ressaltou a psicanalista.
Fatores que levam a decisão
Antes vista como obrigação, hoje vista como opção: Se há anos atrás a maternidade era um dos únicos destinos de uma mulher, isso mudou bastante. Atualmente, muitas mulheres têm priorizado exercer outros papéis na sociedade, e nenhum deles inclui a maternidade.
Em um cenário marcado por incertezas no mercado de trabalho e transformações nas estruturas familiares, a busca por estabilidade financeira e realização profissional tem sido apontada como um dos principais motivos para essa escolha.
De acordo com a psicanalista, as mudanças sociais e econômicas tem pesado para as mulheres optarem por abrir mão da maternidade.
“A insegurança econômica, a pressão para equilibrar vida profissional e pessoal, e a mudança nos papéis tradicionais de gênero são fatores significativos. Para muitas mulheres, a decisão de não ter filhos está ligada à necessidade de estabilidade financeira e à busca por realização profissional”, destacou Samiza.
Além da busca por estabilidade, a priorização do autoconhecimento e da realização pessoal também tem influenciado essas decisões. Muitas mulheres estão colocando suas relações profissionais e objetivos pessoais em primeiro lugar, o que leva a maternidade a ser colocada em segundo plano ou até descartada.
“A busca por identidade e a valorização das próprias aspirações podem influenciar a decisão de não ter filhos. Muitas mulheres preferem investir em suas carreiras, educação e hobbies, sentindo que ter filhos pode limitar suas oportunidades de crescimento pessoal”, disse.
Pressão social e impactos
Para além dos motivos já citados, há também as pressões, expectativas sociais e os impactos da maternidade na vida das pessoas, visto que estes são maiores em relação à mulher. Samiza destaca que a sociedade impõe uma série de expectativas na maternidade, o que pode gerar uma pressão exacerbada e ansiedade.
“As expectativas sociais, somadas a desafios como o estigma associado ao desejo de não ser mãe, podem pesar na decisão. As mulheres frequentemente enfrentam críticas e julgamentos por suas escolhas, o que pode intensificar a resistência a atender a essas expectativas.”, frisou a psicanalista.
Os impactos emocionais e psicológicos da responsabilidade que a maternidade traz também são elementos levados em consideração. Muitas mulheres já entram em relacionamentos com parceiros que compartilham da mesma vontade.
“A pressão para ser uma mãe perfeita e a carga emocional associada à maternidade podem ser intimidantes. Muitas mulheres ponderam sobre a sua capacidade de lidar com a responsabilidade e o estresse que vêm com a criação de filhos, e isso pode influenciar sua decisão”, apontou a terapeuta.
Por fim, a saúde e o bem-estar são outros elementos importante nessa decisão. Problemas de saúde, falta de suporte emocional e a necessidade de cuidar de si mesma são fatores que muitas mulheres levam em conta.
Em conclusão, a psicóloga enfatiza a importância de buscar entender o que é melhor para cada pessoa, e respeitar as motivações que levam a tomar a decisão de adiar ou descartar a maternidade.
“A terapia pode ajudar a explorar esses aspectos e a tomar decisões que respeitem o bem-estar individual”, concluiu.