Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – No dia 13 de maio de 1888 foi homologada a Lei Áurea, que simboliza o Dia da Abolição da Escravatura no Brasil. Mas será que esta é uma data a se comemorar? Quais seus efeitos práticos para as pessoas até então escravizadas e seus descendentes?
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com o ativista e presidente estadual do Instituto Internacional Afro Origem (Inaô-AM), Christian Rocha, que fez uma análise sobre o contexto em que ocorreu a abolição e quais seus impactos no cotidiano social de pessoas negras, até os dias atuais.
“O 13 de maio é uma data para se refletir e o 20 de novembro é uma data para reivindicar. Nós precisamos entender o porquê que essa abolição foi mal feita, o porquê que se acabou com a escravidão, mas infelizmente, a segregação e a desigualdade social e racial continuaram existindo. Mas a liberdade foi protagonizada pelo povo preto”, comentou o ativista.
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Christian Rocha explica que as datas que aboliram a escravidão, fazem todo sentido para a existência dos movimentos de negritude, e que a existência de tais movimentos, é uma resposta para as injustiças que existiram de forma histórica e que até hoje continuam existindo.
“Abolição mal feita! Depois da abolição as leis que proibiam os negros de estudar e adquirir terras. Há apenas 21 anos o Brasil passou a estudar a história negra do ‘Brasil Afro’. O atraso desta consciência e conhecimento técnico fez com quem soframos com diversos tipos de Racismo, como o Estrutural, Institucional, Científico, Tecnológico, Ambiental e Recreativo”, detalhou o presidente estadual do Inaô-AM.
Perfilamento e Letramento Racial
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Segundo Christian Rocha, Perfilamento Racial é o ato de suspeitar ou visar uma pessoa, com base em suas características ou comportamentos observados, analisando sua identidade racial em vez de uma suspeita individual.
“Até mesmo de forma involuntária, você acha que uma pessoa negra não pode ocupar cargos de destaque, a não ser a subalternidade, devido a cor da pele. A gente se acostumou a ver o negro sempre abaixo de qualquer outra pessoa. Por que? A televisão nos ensinou que o negro é mordomo, é o garçom, é o motorista, é o capataz”, elencou o ativista.
Já o termo o Letramento Racial está vinculado ao entendimento e à conscientização sobre as relações raciais presentes na sociedade. Isso inclui reconhecer e questionar estereótipos, preconceitos, discriminações e injustiças raciais, além de valorizar a diversidade.
“Quando a gente começa a pegar coisas que se tornaram culturais e se naturalizaram, com expressões que passam a impressão de que tudo que é ligado ao negro é ruim, como ‘A coisa tá preta’, ‘Lista Negra’, ‘Ovelha Negra’, ‘Humor Negro’, temos que refletir. Esse letramento que a sociedade também precisa discutir”, explicou Christian.
Soluções
O presidente estadual do Instituto Internacional Afro Origem ressalta que para além de se colocar esta realidade, também se faz necessário apresentar soluções para diminuir essa problemática.
“Eu não sinto prazer em falar sobre o sofrimento da negritude, mas eu sinto prazer quando eu falo nas conquistas. Hoje em Manaus, nós temos a primeira Secretaria Municipal de Promoção de Igualdade Racial. É uma conquista do povo negro. É uma conquista de um povo que reivindica muito e que já conquistou algumas coisas. Mas ainda falta muito”, completou Christian Rocha.