Júnior Almeida e Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Com a falta de pavimentação de trechos da BR-319, e o mais grave: falta de vontade política para recuperar a rodovia, único caminho por terra que liga o Amazonas ao resto do Brasil, centenas de quilômetros se tornam intrafegáveis, principalmente nos períodos de fortes chuvas.
O cenário de precariedade é visto principalmente no chamado “trecho do meio”, localizado a partir do quilômetro 250 ao quilômetro 655, passando pelos municípios amazonenses de Borba, Beruri, Manicoré, Tapauá, Canutama e Humaitá.
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E o desabamento de duas pontes, em 2022, com apenas dez dias de intervalo, agravou ainda mais a situação. No acidente da passagem sobre o rio Curuçá, no dia 28 de setembro, quatro pessoas morreram e outras dez ficaram feridas. Não houve vítimas na queda da ponte sobre o rio Autaz Mirim, no dia 8 de outubro.
Apesar de todo o apelo dos deputados federais e senadores que compõem a bancada do Amazonas no Congresso Nacional para tornar possível a pavimentação da BR-319, o projeto ficou fora do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Seleções, ao contrário do que havia prometido o presidente Lula.
A principal problemática que impede o avanço das obras é a liberação do projeto ambiental junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, novamente sob o comando de Marina Silva, considerada pela população como “inimiga do Amazonas”.
Isso porque em novembro do ano passado, durante depoimento na CPI das ONGs, a ministra Marina Silva disse que “não se faz uma estrada de 400 quilômetros no meio de floresta virgem apenas para passear de carro, se não tiver associada a um projeto produtivo”.
As falas da ministra causaram revolta nos amazonenses e teve grande repercussão no meio político, resultando em uma nota de repúdio assinada por todos os deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).
Luta de quem precisa da estrada
A equipe do Portal RIOS DE NOTÍCIAS pegou a estrada e foi até o município de Careiro da Várzea, a 23,4 quilômetros de Manaus, para conversar com caminhoneiros e trabalhadores que dependem diretamente da rodovia para sobreviver.
Manoel Nunes, de 60 anos, disse que há 24 anos administra um mercadinho localizado nas margens da 319 e disse que já perdeu as esperanças em ver a estrada recuperada. “A BR nunca sai, falam que vai sair mas nunca sai. O rio ainda secou. Pessoas aqui próximas perderam tudo”, lamentou.
A professora Cláudia Gomes de Araújo, de 47 anos, contou que antes do desabamento da ponte sobre o rio Curuçá a duração de uma viagem da comunidade onde mora até Manaus era de poucas horas. Após a queda da estrutura, o percurso levava quase o dia inteiro, mesmo com uma balsa fixa auxiliando na travessia.
“A estiagem piorou ainda mais para a gente, para nossa alimentação, e influenciou para os alunos e para a escola. Nossos alunos ultimamente estão parados”, contou. Ela disse que em um caso de urgência é uma preocupação o tempo de socorro por causa das condições da rodovia.
Fabrício Lima, de 28 anos, também destacou que a queda das duas pontes não atrapalhou apenas motoristas, como também usuários de transporte público: “depois que essa ponte caiu, prejudicou todo mundo. A ponte está totalmente destruída“.