Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O portal RIOS DE NOTÍCIAS esteve na Ilha Tupinambarana e escutou de perto as vozes de quem vive no bairro Palmares, um dos territórios mais antigos e tradicionais de Parintins. O que começou como uma das primeiras “invasões” urbanas da cidade transformou-se em um reduto do Boi Caprichoso. Agora, ganha ainda mais visibilidade com a toada “Palmares, uma Invasão Caprichoso”, que integra o álbum 2025, “É Tempo de Retomada.”
Na letra da toada, dois bares ganham destaque: o Canto da Porrada e a Calçada da Fama. Ambos se tornaram espaços de memória, resistência e festa da galera azulada. Instalado “pra lá da placa”, como canta a toada, o Canto da Porrada carrega uma história que se mistura com a própria formação do bairro.
O atual proprietário do bar, Hernando Serrão Paes, mais conhecido como Chon, contou ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS como tudo começou, ainda na época em que seu pai, Fernando Luiz Pinheiro Paes, o Cocó, abriu um quiosque na região, por volta de 1986 – que mais tarde se tornaria o bar Canto da Porrada.



“Naquela época, a rua vivia cheia de briga de galera. A turma se juntava, pegava madeira, pedra… e o pessoal da Lombrigueira vinha também. Era confronto direto, vinha gente de outros bairros. O Palmares ficou conhecido como lugar de ‘galeroso’, como a gente diz até hoje. Tinha até placa marcando, e o povo já dizia: ‘não vai pra lá que é perigoso.”
Hernando Paes, dono do Bar Canto da Porrada
O compositor da toada, Adriano Aguiar, também é morador do Palmares e explicou, em um vídeo nas redes sociais, o significado por trás de expressões como “pra lá da placa” e “galeroso”.
“No começo, o Palmares era quase o fim da cidade. Quem morava ali, morava ‘pra lá da placa’, porque era tudo mato, começando a ocupar. Já o termo ‘galeroso’ pegou porque a galera daqui era conhecida por ser valente, animada, barulhenta… Hoje é tudo no bom sentido, claro, com muito amor pelo boi.”
Adriano Aguiar, compositor
Do outro lado da via, o bar Calçada da Fama também foi citado na toada do touro negro. Fundado a partir do antigo bar do Zé Nilson, o espaço foi batizado por Arthur Teixeira e virou referência entre os apaixonados pelo Caprichoso e no trecho da toada: “Aqui a galera é confiada, é arretada, faz o esquenta na Calçada [da Fama] ou no Canto da Porrada“, diz o trecho.



“Aqui é reduto azulado. A gente se junta pra conversar, sair no boi de rua, planejar. Essa ‘calçada’ sempre foi um ponto de encontro, a toada só deu mais força pra isso”, contou Nelson Campos, um dos sócios do lugar, à reportagem.
Famoso por reunir torcedores apaixonados do Caprichoso, o boteco que existe há 33 anos, se tornou Fundação Cultural Confraria Calçada da Fama, com CNPJ e formação de diretoria. Localizado na rua Senador José Esteves, o ponto é referência para quem gosta de jogar dominó, tomar uma cerveja e falar de boi-bumbá.
Além dos bares, a toada também menciona personagens e lugares simbólicos, como o campo Seu Jovem, a beira d’água e, claro, a lendária Lombrigueira, uma árvore típica da Ilha da Magia, e até para lendas sobrenaturais. Segundo o compositor Adriano Aguiar, ela se tornou um símbolo do bairro