Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Ondas de calor, queimadas, fumaça e até chuva de granizo, registrada nesta quarta-feira, 20/9, em Manaus, são alguns dos fenômenos enfrentados nos últimos meses pela população do Amazonas. As mudanças climáticas causadas pela ação do homem são uma realidade em todo o mundo, e já podem ser sentidas no Estado amazonense.
As alterações climáticas, decorrentes do aquecimento global, já não são mais uma previsão distante do futuro. As enchentes na Líbia, que vitimaram 10 mil pessoas, em setembro, até as ondas de calor na Europa, são alguns dos eventos extremos recentes que têm incidido em intervalos cada vez mais curtos nos centros urbanos.
Nesta quarta-feira, uma chuva de granizo atingiu o bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus, segundo populares. Em vídeos publicados nas redes sociais é possível ver moradores segurando pequenos blocos de gelo nas mãos. Conforme o especialista em clima e ambiente, Rogério Marinho, a formação de granizo não é comum na capital do Amazonas.
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“No caso desta quarta-feira, formou-se um sistema convectivo de tempestade com nuvens do tipo cumulonimbus. Essas nuvens são conhecidas por serem altas e volumosas, causam chuvas com fortes ventos, e algumas vezes pedaços de gelo presentes nessas nuvens podem chegar ao solo como granizo”, explica o climatologista, Rogério Marinho.
O fenômeno causou surpresa aos moradores. Poucas horas antes, ainda no mesmo dia, a cidade amanheceu sob forte calor e encoberta por uma camada densa de fumaça, que tem sido vista com mais frequência nos últimos dias na capital amazonense.
Aquecimento do planeta
Segundo Rogério Marinho, os fenômenos observados nos últimos meses estão relacionados entre si e fazem parte da dinâmica atmosférica da região amazônica. No entanto, em razão do aquecimento do planeta, eles têm se tornado mais frequentes e intensos.
“Por exemplo, das últimas 10 maiores cheias do Rio Negro registradas na régua do Porto de Manaus, seis ocorreram nos últimos 20 anos, comparando os dados de mais de 100 anos de registros. Esses eventos climáticos extremos, resultados de mudanças rápidas da atmosfera, ocorreram hoje em Manaus, mas nas últimas semanas também tivemos fortes chuvas no Rio Grande do Sul, Líbia, Grécia, Espanha e Bulgária”, destaca Rogério Marinho.
De acordo com o especialista, o aquecimento do planeta é fruto de ações humanas, as quais aumentam emissões de gases de efeito estufa. “O aumento da concentração desses gases na atmosfera tem elevado a temperatura média do planeta e ocasionado mudanças no clima e maior ocorrência de eventos extremos, como fortes chuvas e secas severas”.
Fumaça e queimadas
Conforme os dados do “Programa Queimadas”, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta quarta-feira pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidades (Semmas), a forte fumaça em Manaus é fruto de queimadas provocadas no meio rural do interior do Amazonas. Nos últimos dois dias, a plataforma do Inpe não identificou focos de queimadas em Manaus.
Apenas no município de Autazes, a 112quilômetros da capital amazonense, o painel do Inpe registrou cerca de 32 focos de incêndios entre os dias 19 de 20 de setembro. O número corresponde a 12,8% dos focos de incêndios no Estado. Já o município de Guajará registrou 25 focos e Novo Aripuanã 20.
“Lamentavelmente no dia de hoje, a população de Manaus se depara com um cenário de fumaça em toda área urbana. Os nossos registros que nós conseguimos apurar do INPE, são as imagens de satélite, detectam que a grande ocorrência de queimadas presentes na área metropolitana de Manaus, há um destaque para a quantidade oriunda do município de Autazes”
Antonio Stroski, secretário da Semmas
De acordo com o painel do Inpe, o Amazonas registrou entre os dias 1 e 20 de setembro cerca de 5.224 focos de incêndio em 2023. O número é menor em comparação com o mesmo período de 2022, quando foram identificados 6.243 focos de incêndio no Estado.
Apesar da redução de queimadas no Estado, o município de Autazes, situado na região metropolitana de Manaus, houve um aumento de focos. Segundo os registros, as 94 ocorrências registradas nos primeiros 20 dias de setembro de 2022 saltaram para 510 focos de queimadas no mesmo período em 2023, uma alta de 428%.
Calor
Agosto e setembro de 2023 bateram recordes de temperatura na capital amazonense com o registro de ondas de calor. O fenômeno identificado por temperaturas acima do normal por vários dias consecutivos favorece as queimadas na Amazônia, conforme o meteorologista e professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal do Pará, Glauber Cirino.
De acordo com o meteorologista, as altas temperaturas identificadas no Amazonas acontecem, de uma forma geral, devido ao fenômeno El Niño, quando ocorre o aquecimento anormal das águas do oceano pacífico. Apesar de ser um fenômeno natural, o El Niño tem se tornado cada vez mais frequente em razão do aquecimento global.
“Você vulnerabiliza mais as florestas ao fogo e condiciona a queimada ilegal, pois é mais fácil de queimar. Por isso o governo precisa entrar com medidas mais rigorosas especialmente nestes próximos anos porque vamos viver este período de El Niño”
Glauber Cirino, meteorologista
De acordo com o Inmet, o mês de agosto de 2023 registrou o dia mais quente para o mês nos últimos 47 anos. O dia 25 de agosto alcançou 38° e superou os 37,6° registrados em 1976. O instituto também aponta que o mês registrou redução no volume de chuvas, com apenas um dia de precipitação.
“Quando a gente fala de El Niño, a gente mexe com a circulação de Walker, que é uma circulação que vai produzir subsidência nesta região da Amazônia, incluindo o Estado do Amazonas e o Pará. A subsidência é o movimento descendente das massas de ar. Isso faz a supressão de nuvens. Então, se você não forma nuvens você não faz chuva”, explica o professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal do Pará, Glauber Cirino.
Glauber Cirino, meteorologista