Letícia Rolim – Rios de Noticias
SÃO PAULO (SP) – Um vídeo do humorista Léo Lins foi recentemente retirado do ar por determinação judicial, e desde o cumprimento dessa decisão o assunto vem gerando um intenso debate nas redes sociais sobre os limites do humor e a linha tênue, que separa a liberdade de expressão da censura.
Enquanto algumas pessoas comemoram alegando que o conteúdo do humorista propagava racismo e preconceito e, que a medida deveria ser mesmo aplicada, outros defendem que essa ação representa uma forma de censura.
No vídeo em questão, intitulado “Perturbador“, Léo Lins faz piadas com pessoas idosas e com deficiências de cunho religioso, escravidão, minorias e maiorias, como é o caso dos negros no Brasil, por esse motivo foi alvo de uma decisão judicial que determinou sua remoção das plataformas online, entre outras medidas, o humorista foi proibido de deixar a cidade de São Paulo durante 10 dias.
Leia também: PL das Fake News: ‘nenhuma liberdade é infinita’, afirma tesoureiro da Fenaj sobre proposta da OAB
Nas redes sociais, a tag #CENSURANÃO estava sendo utilizada em apoio ao humorista. Léo Lins, que publicou em todas as suas plataformas uma imagem com a frase “Um show de humor é removido da internet a mando do Ministério Público”.
O humorista Fábio Porchat comentou sobre o caso e saiu em defesa do colega de profissão nas suas redes sociais.
“Não gosta de uma piada? Não consuma essa piada. Se a piada não incitou o ódio e a violência ela é só uma piada. Quem foi lá assistir ao @LeoLins adorou. Riram muito. Quem não gostou das piadas são os que não foram. Pronto, assim que tem que ser. Ah, mas fez piada com minorias… E qual o problema legal? Nenhum” escreveu Porchat.
O caso de Léo Lins reaviva uma discussão mais ampla sobre os limites do humor na sociedade contemporânea. Enquanto alguns defendem que o humor deve ser irreverente e livre de restrições, outros argumentam que piadas ofensivas e discriminatórias devem ser combatidas, pois podem perpetuar estigmas e incitar o ódio.
O ator, escritor e ativista Fabrício Mendes também contribui para o debate sobre os limites do humor na sociedade contemporânea. Ele acredita que o humor deve ser feito com responsabilidade.
“O humor é importante dentro da sociedade, tem um papel de ser, uma voz social e crítica. Atingindo vários universos, principalmente o político. Tem o dever de conscientizar e instruir. Porém, o humorista é um formador de opinião e como pessoa pública, ele carrega consigo responsabilidades. É necessário ter uma atenção sensível para que o humor não extrapole o limite da liberdade de expressão”, destacou Mendes.
Para Fábricio, quando o humor fere os direitos garantidos pela constituição, perde seu propósito e deixa de ser engraçado.
“O humor quando fere os direitos da constituição, e os direitos humanos, e afeta na liberdade e na segurança das minorias, perde o sentido. A piada não tem graça, ela muda de rosto. Humor que ataca os direitos fundamentais de uma comunidade, não é humor! É crime! E o que fizeram com o Léo Lins, Não é censura! É a aplicação constitucional da Lei”, reforçou o ativista.
Nesse contexto, a liberdade de expressão não é absoluta, e encontra limites no respeito aos direitos fundamentais e na promoção da igualdade. A Constituição Federal garante o direito à liberdade de expressão, mas também veda a disseminação de discursos que incitem a violência, o ódio ou a discriminação.
Outra perspectiva vem do humorista Marcos Paiva, para ele o humor é uma forma de arte, e como tal, não deve ter limites, mas sim contextos específicos nos quais é apresentado. No entanto, o humor é frequentemente mal compreendido como uma forma de expressão que reflete opiniões pessoais.
Segundo Marcos, o humor não tem limites, mas sim locais apropriados para ser apresentado. Assim como um médico que realiza uma cirurgia em um hospital é considerado um herói, mas se fizer a mesma coisa fora do local de trabalho seria um crime, o comediante também pode ser visto da mesma forma.
“Considero o humor uma arte. E como arte não deve ter limites, mas local apropriado. Por exemplo, os filmes de terror onde o ator que interpreta o Jason ou outro assassino, mata todo mundo do filme e no final ele não vai preso. Como Renata Sorrah que fez o papel que sequestrou criança, assassinou, roubou e no final ninguém quis prender. Pelo contrário, ela foi reconhecida pelo papel. Porém, na comédia as pessoas não entendem como arte e pensam que representam opinião. Humor não tem limite tem local, igual a um médico que se fizer uma cirurgia no hospital e na sala de cirurgia é visto como herói, porém, se esse mesmo médico fizer a mesma coisa fora do local de trabalho, é um criminoso. No palco, o artista está somente interpretando, não é ele e sim o personagem” exemplificou o humorista.
Para Marcos, se deixar de falar sobre o cotidiano e a realidade das pessoas ele estaria as excluindo.
“Eu como artista não posso fingir que isso não acontece, se eu não falar do cadeirante ou do negro e fingir que eles não existem estarei novamente colocando eles de fora” disse Paiva.
Diante desse episódio envolvendo Léo Lins e seu vídeo retirado do ar, é importante que haja um debate amplo sobre os limites do humor e a responsabilidade dos comediantes na sociedade, além de ponderar a liberdade de expressão com o impacto social das palavras e ações.
É necessário que haja um diálogo aberto e inclusivo para que diferente perspectivas sejam ouvidas e para que se possa construir um consenso sobre os limites éticos do humor. Sendo importante lembrar que o humor pode ser uma forma de questionar e desafiar normas e comportamentos, mas deve ser feito de maneira responsável e empática.
Veja algumas publicações do humorista:
![](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/05/remover-show.png)
![](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/05/leo-lins-1024x530.png)