Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O senador Omar Aziz (PSD) tem recebido críticas após declarar que as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ocorridas em junho de 2022, teriam sido motivadas por uma “vingança pessoal” em vez de um ato vinculado ao contexto de violência e crime organizado na região do Vale do Javari, no Amazonas.
Durante uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, realizada em 30 de outubro, onde se discutia o Projeto de Lei (PL) 10.326/2022 sobre o porte de armas para agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Aziz afirmou que o incidente teria resultado de um ato de vingança, o que provocou reações imediatas das famílias das vítimas e de organizações indígenas.
“Eu sempre disse que armamento não é uma coisa que resolva o problema de insegurança lá no Amazonas, essa questão de Atalaia do Norte, existe uma versão dada nacionalmente de que, infelizmente, duas pessoas foram a óbito, numa ação que disseram ser narcotráfico, não sei o quê, não era nada disso. Era um caboclo que foi humilhado por um funcionário na frente dos filhos, tocaram fogo na rede e tudo mais, e ele esperou o momento certo para se vingar”, afirmou Aziz.
Leia também: Declaração de Omar Aziz sobre caso Bruno e Dom é repudiada por ‘desserviço à verdade’ pela Univaja
Em nota oficial, as famílias de Bruno Pereira e Dom Phillips condenaram a fala do senador como “leviana” e desprovida de respaldo nas investigações da Polícia Federal.
“A versão mencionada por ele não possui sustentação nas investigações conduzidas pela PF nem nas provas reunidas no processo judicial”, afirmam as famílias, que ressaltam que a declaração minimiza a complexidade do duplo homicídio, tratando-o como se fosse o desfecho de uma simples desavença pessoal.
A nota ainda critica Aziz por revitimizar Bruno e Dom e por “desacreditar o árduo trabalho dispendido pelo Estado brasileiro na elucidação dos fatos”.
Univaja se posiciona
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização com a qual Bruno colaborava, também emitiu um posicionamento contra as declarações de Aziz.
A Univaja destacou que o senador “prestou um desserviço à verdade e à memória” das vítimas, sugerindo que os próprios atos de Bruno e Dom teriam contribuído para suas mortes.
“Ao relativizar o duplo homicídio e colocar a conduta do indigenista Bruno como central no episódio, o parlamentar colabora com a torrente de desinformação que busca inocentar os criminosos e desvalorizar a luta justa dos povos indígenas em defesa de seu modo de vida”, diz a nota da Univaja.
Funai repudia
A Funai também repudiou veementemente as declarações de Aziz, reiterando seu compromisso com a proteção dos direitos indígenas e a segurança de seus servidores.
Em nota, a fundação destacou que a violência na região do Vale do Javari, uma das áreas com maior concentração de povos isolados no mundo, é alimentada por atividades ilegais, como o narcotráfico e a exploração de recursos naturais, que tornam a atuação dos agentes de proteção extremamente arriscada. (Leia a nota na íntegra aqui).
“A proteção territorial é um conceito fundamental… Cabe ao Estado brasileiro atuar para garantir a segurança dessas áreas”, afirma a nota, lembrando que a região é alvo frequente de invasões e violência.
As críticas também vieram do próprio contexto da reunião do Senado, que tratava de uma medida para garantir mais segurança aos agentes da Funai, evidenciando que os riscos enfrentados por indigenistas, jornalistas e defensores dos direitos indígenas na Amazônia são agravados pela presença de quadrilhas armadas e pela ausência de apoio adequado.