Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma cena de caos e tensão marcou a comunidade Nova União 2, situada na zona Norte de Manaus. Acontece que um grupo de moradores em um assentamento de terra se sentiu atemorizado, nesta quinta-feira, 17/8, ao ser surpreendido com uma abordagem policial truculenta após terem sido coagidos por dois funcionários de uma empresa de segurança, cujo prédio fica ao lado do lote onde vive a comunidade.
Segundo o relato do presidente da comunidade, Antônio da Silva, o episódio começou quando os moradores estavam em seus lotes e a polícia chegou de forma abrupta, lançando bombas de gás lacrimogêneo no meio de crianças com idades de dois e três anos, além de usar spray de pimenta. Antônio também mencionou que um policial militar, portando um terçado, agrediu um homem idoso, que conseguiu se defender com um pedaço de pau.
Leia também: Vídeo registra homem espancando mulher em via pública no município de Manicoré
A violência dos policiais militares foi o estopim que desencadeou em revolta da comunidade, que confrontou a polícia para retirar o agente das costas do ancião. Os vídeos que foram enviados ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS confirmam a versão apresentada por Antônio da Silva.
Antônio da Silva disse que lidera a comunidade há dois anos, e há pelo menos um ano, o terreno que pertence ao Estado, já está com documentação que os autoriza ocupá-lo, uma vez que a causa foi ganha em Tribunal. Contudo, o documento de autorização ainda não foi apresentado à reportagem, apesar das solicitações feitas.
Antônio classificou a atitude da polícia como truculenta e indicou a falta de preparo psicológico dos agentes diante de pessoas de bem. Ele ressaltou que não foi apresentado qualquer mandado ou ordem judicial para justificar a ação policial, que chegou exigindo a retirada da comunidade, sem qualquer documento.
“São só moradores e senhores de idade, até em uma mulher grávida eles bateram e jogaram spray de pimenta. Não alegaram nada. Simplesmente chegaram soltando bomba no meio de criança e mulheres, inclusive, as grávidas”, denunciou Silva.
Um outro morador, José Rodrigo Serra Barros, foi atingido no rosto por uma bomba, popularmente conhecida como “catolé”.
Uma moradora da comunidade, a dona de casa Rafaela Dantas*, relatou que nesta quarta-feira, 16/8, seguranças de uma empresa se apresentaram na comunidade, alegando serem os proprietários da área.
Após a chegada dos seguranças, duas viaturas policiais foram acionadas. Daniela relatou que, inicialmente, a comunidade tentou dialogar para resolver a situação, mas avisaram de que não iriam sair, já que parte da causa judicial está em favor deles. Entretanto, em meio a confusão, uma terceira viatura policial foi chamada, e o policial presente demonstrou relutância em dialogar.
“Nós estamos em um assentamento de terra e estamos em grande quantidade. São muitas famílias, a maioria indígenas. Existem crianças, mulheres grávidas, idosos”, detalhou Rafaela e acrescentou que as famílias são compostas pelas etnias Kokama, Ticuna e Kambeba.
Ainda de acordo com ela, no dia dos ocorridos, a população estava no local realizando a limpeza de seus lotes quando a abordagem policial começou.
“Nós não temos ninguém aqui por nós. Aqui só tem família de bem, não tem nenhum bandido, ninguém está roubando, ninguém está fazendo nada de errado. E aí os caras chegam aqui, agredindo a população. A gente também é ser humano, também trabalha, tem filho para sustentar e vive de aluguel. A gente só quer um pedaço de terra”, desabafou.
O portal entrou em contato com a assessoria da Polícia Militar a fim de obter uma nota oficial sobre o ocorrido. Até o fechamento desta matéria, ainda não havíamos recebido resposta.
Assista:
* Nome fictício para preservar a fonte que não quis ser identificada.