Nicolly Teixeira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O teólogo brasileiro Leonardo Boff causou repercussão nas redes sociais ao declarar, na última terça-feira, 27/4, que o cardeal e arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, é sua aposta para suceder o Papa Francisco. A declaração foi feita em uma postagem no X (antigo Twitter), e reacendeu o debate sobre o futuro da liderança da Igreja Católica.
Professor emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e uma das vozes mais conhecidas da teologia da libertação, Boff destacou a relevância da Amazônia no cenário global e sugeriu que o próximo Papa poderá ter origem em uma região simbólica diante da crise climática.
“No Conclave não age só o Espírito Santo, mas também bastante política na escolha dos candidatos. Tenho um: a Amazônia vai estar no centro dos debates por causa do clamor ecológico. Nos oito países amazônicos, há um só cardeal: Leonardo Steiner, de Manaus. É o meu candidato. Será a surpresa”, escreveu Boff.
A declaração provocou reações entre estudiosos da religião, que passaram a analisar os fatores que podem ter motivado a escolha simbólica de Boff. Para entender o contexto, o Portal RIOS DE NOTÍCIAS ouviu o teólogo e historiador da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Dr. Daniel Lima.
Continuidade do legado de Francisco
Segundo Lima, a escolha de Leonardo Boff reflete o desejo de continuidade do pontificado de Francisco, que promoveu profundas mudanças na Igreja Católica, com foco no combate às desigualdades, no diálogo inter-religioso e na defesa do meio ambiente.
“O Papa Francisco representa uma virada significativa na Igreja do século XXI. Um exemplo é a encíclica Laudato Si’ (2015), que trouxe a questão ecológica como um desafio central da humanidade”, explicou.
“O legado de Francisco mostrou que a Igreja deve estar comprometida com causas sociais e ambientais, sempre ao lado dos mais pobres e marginalizados. Esse perfil também é refletido em Steiner.”
Teólogo e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Dr. Daniel Lima

Quem é Leonardo Steiner?
Dom Leonardo Steiner é o atual arcebispo de Manaus e o primeiro cardeal da Amazônia brasileira. Ex-aluno de Leonardo Boff, ele tem se destacado por sua atuação junto às comunidades indígenas, ribeirinhas e movimentos sociais, além de sua defesa pública da justiça climática.
“Steiner representa ideais semelhantes aos do Papa Francisco, o que pode justificar o entusiasmo de Boff. Ele projeta a figura de um Papa que amplie esse trabalho e mantenha viva a missão da Igreja como instrumento de transformação social e ambiental”, disse o professor.
Obstáculos à candidatura
Apesar da afinidade com os ideais do atual Papa, o caminho até o papado é repleto de desafios. Daniel Lima lembra que a escolha do próximo pontífice depende de múltiplos fatores, incluindo a influência da ala conservadora da Igreja.
“Embora tenha um perfil progressista, reconhecido pelo seu trabalho na Amazônia, Steiner enfrenta obstáculos. A Cúria Romana ainda exerce forte influência, e há uma tradição em favorecer nomes com maior presença institucional no Vaticano”, afirmou.
“Além disso, o cenário atual conta com outros cardeais com visibilidade global e longa trajetória administrativa, o que pode pesar na decisão final do Conclave”, ressaltou o professor universitário.
Mesmo diante dessas barreiras, caso Steiner viesse a ser eleito, ele representaria, segundo Lima, o aprofundamento do projeto de Igreja iniciado por Francisco: mais próxima das periferias, engajada com as questões ambientais e disposta a ouvir as vozes excluídas.
“A possível escolha de Steiner simbolizaria uma reafirmação da missão pastoral voltada aos mais vulneráveis, mesmo diante das críticas que o Papa Francisco recebeu de setores que resistem a essas mudanças”, finalizou.