Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Brasil é conhecido por sua diversidade cultural e étnica, com uma população composta por uma mistura de diferentes grupos raciais. No entanto, ao longo da história, o racismo tem sido uma realidade enraizada na sociedade brasileira, prejudicando a vida de milhões de pessoas negras. Diante desse contexto, surge a pergunta: é possível uma sociedade antirracista no Brasil?
Racismo estrutural é quando o preconceito e a discriminação racial estão consolidados na organização da sociedade, privilegiando determinada raça ou etnia em detrimento de outra. É evidente em várias áreas da sociedade brasileira, incluindo a educação, o mercado de trabalho, a justiça criminal e a representação política.
E é comum vermos denúncias de racismo diariamente. Dois deles trouxeram a discussão sobre o assunto. Em um deles, Sandra Mathias Correia de Sá, ex-jogadora de vôlei, foi filmada agredindo um entregador em São Conrado, no Rio de Janeiro (RJ). Nas imagens, a mulher retira a coleira do próprio cachorro e começa a agredir Max Angelo Alves dos Santos, à chicotadas.
A atriz e professora Isabel Oliveira usou suas redes sociais para desabafar e disse ter sido seguida pelo segurança do Atacadão S.A. enquanto fazia compras. Após denunciar o caso à polícia, Isabel retornou ao supermercado e tirou a roupa, ficando somente com as roupas íntimas. Em seu corpo a frase: “eu sou uma ameaça?”.
![Michelle Andrews participou do programa 'Código Aberto' da ultima quarta-feira, 12/4 (João Dejacy/Portal Rios de Notícias)](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/04/Michelle-Andrews.jpg)
O programa ‘Código Aberto’, da RÁDIO RIOS FM 95,7, com apresentação de Alita Falcão e Fred Lobão, da última terça-feira, 11/4, conversou com especialistas sobre as marcas do racismo estrutural no Brasil.
Presidenta da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro Amazonas), Michelle Andrews disse que o tema é importante para a construção de uma sociedade antirracista.
“(Casos de Racismo) na maioria das vezes tiram vidas. E existem pessoas que concordam com esse sistema opressor que determina que pessoas negras devem estar abaixo dos brancas, que servem para escravizar, para manutenção de poder”, explica.
A ativista acrescenta que é possível constatar algumas posturas políticas que colaboram para a implementação como a criação de um ministério de igualdade racial, que contribuirá para levantar dados para elaboração de políticas estruturantes com o objetivo de mudar a mentalidade escravista e opressora instalada no Brasil.
“A branquitude é um sistema para se manter no poder e não perder seus privilégios. Por isso, não investe em educação antirracista. Por exemplo, temos leis antirracistas para educação fundamental e sistema de cotas, mas a dificuldade de ser implementada é muito grande. Afinal, quanto mais negros e indígenas têm informação, mais a sociedade se equilibra com igualdade”
Michelle Andrews
O historiador Ygor Olinto Rocha lembrou que, como o racismo é estrutural, ou seja, enraizado na sociedade, revela que o sistema não está fora do indivíduo, mas dentro de cada um.
“Nós nascemos dentro dessa história da colonização e da construção de diferenças étnicas e raciais. Talvez a primeira coisa que precisemos fazer, que seja incômoda, seria se perceber e se implicar como parte desse processo de produção e de relações desiguais do ponto de vista racial”, destacou Rocha, que é também professor de história no Instituto Federal do Amazonas (IFAM).
Um Brasil sem racismo
De acordo com Andrews, para caminhar em direção à mudança, a sociedade precisa querer, primeiramente, um Brasil sem racismo.
“Por exemplo, se um policial aborda com violência uma pessoa supermercado por ser negra, falta uma formação? É culpa do policial, da corporação? Ou é culpa de um prefeito ou um governador que não é antirracista? Porque, quem é negro, já entende e sabe como é a abordagem policial, seja na rua ou em qualquer lugar. A discussão começa por aí”, complementou.
A ativista destaca que uma sociedade antirracista garante crescimento de uma nação na prática porque movimenta, resiste, promove encontros e acolhe pessoas.
“Imagine uma menina negra que não se sente bonita para fazer um vídeo e, ao acessar a internet, vê pessoas negras fazendo e transformando. Esse acesso básico que ela fez já promove o enfrentamento direto ao preconceito e ao racismo, além de incentivar e acolher”, destacou.
Assista abaixo ao programa na íntegra: