Redação Rios
MANAUS (AM) – Os rios Negro, Solimões e Amazonas devem enfrentar uma cheia menos intensa neste ano. É o que indicam informações do 1º Alerta de Cheias do Amazonas, realizado nesta terça-feira, 2/4, pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), com o objetivo de apoiar o planejamento de ações para o período.
As previsões, com antecedência de 75 dias para o pico da cheia, contemplam os municípios de Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas. O evento ocorreu na Superintendência de Manaus (SUREG-MA).
“Para este ano, esperamos que as cotas máximas dos rios do Amazonas fiquem muito próximas às médias históricas em Manaus e Manacapuru. Em Itacoatiara e Parintins, as projeções indicam níveis abaixo do esperado para época e sem ultrapassar a cota de inundação”, explicou a pesquisadora em geociências do SGB Jussara Cury. “Podemos destacar, por meio dos modelos de previsão, que a cheia de 2024 no Amazonas não será de grande magnitude”, completou.
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Esse cenário é resultado da seca severa que afetou a região em 2023 e das chuvas abaixo da média, que têm dificultado a recuperação dos rios. “Esse último ano foi um ano de seca severa na Região da Amazônia, com grandes prejuízos para a navegação, o setor produtivo e também para a biota aquática”, ressaltou a diretora de Hidrologia e Gestão Territorial, Alice Castilho.
Segundo as previsões (com 80% de intervalo de confiança), o Rio Negro deve atingir 27,21 m em Manaus, com possibilidade de chegar à máxima de 28,01 m. “O que representa uma cheia dentro da normalidade”, observou a pesquisadora Jussara Cury. A probabilidade de superar a cota de inundação (27,5 m) é de 32%. Para a cota de inundação severa (29 m), essa probabilidade é de 17,03%, e a chance de chegar à cota máxima (30,02 m em 2021), é de 0,02%.
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Já em Manacapuru (AM), o Rio Solimões deve ficar na marca de 18,31 m, com possibilidade de variar até 19,01 m. De acordo com o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio alcance a cota de inundação (18,20 m) é de 58%, e a de inundação severa (19,60 m) é de 6,5%. A chance de superar a cota máxima (20,86 m em 2021) é baixa.
Rio Amazonas terá níveis abaixo da média
Para Itacoatiara (AM), a previsão é que o Rio Amazonas atinja 13,06 m, com possibilidade de chegar à máxima de 13,57 m. A probabilidade de superar a cota de inundação (14 m) é de 29%, e a cota de inundação severa (14,2 m) é de 4,1%. Segundo os modelos de previsão, é muito baixa a probabilidade de superar a cota máxima (15,2 m em 2021).
Em Parintins, o Amazonas deve atingir 7,14 m, com possibilidade de chegar à máxima de 7,58 m. “A probabilidade de superar a inundação (8,43 m) é de 0,46% e mais baixa ainda de superar inundação severa (9,3 m) e a máxima (9,47 m em 2021)”, disse Jussara Cury durante o 1º Alerta de Cheias do Amazonas.
Fim do El Niño
As previsões climatológicas, divulgadas pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), indicam que as chuvas na Região Amazônica podem retornar à normalidade com o fim do El Niño. A chegada do fenômeno climático, em junho do ano passado, alterou os padrões de chuva no país.
“O El Niño está em declínio e cada vez mais fraco. A previsão para o próximo trimestre, de abril a junho, é de chuva dentro da normalidade em boa parte da Amazônia Legal”, afirmou o meteorologista do Censipam Gustavo Ribeiro. No noroeste do Amazonas, na região da Cabeça do Cachorro, no Alto Rio Negro, as projeções indicam chuvas acima da média.
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No final do semestre, haverá um período de neutralidade, isto é, sem a presença de fenômenos climáticos. “No segundo semestre do ano, a maioria dos modelos indicam uma possível chance de termos La Niña, que é o inverso do El Niño e intensifica as chuvas na Amazônia”.
Prevenção de desastres
O superintendente de Manaus, Marcelo Motta, enfatizou o compromisso do SGB em gerar dados que possam apoiar as ações para prevenção de desastres, de modo a salvar vidas e evitar perdas materiais. “Nossos técnicos e parceiros têm se dedicado para gerar dados que venham a ser usados pelas defesas civis e pelos governos estadual e municipais para antecipar as ações e planejar o volume de recursos que precisará ser empregado.”
O trabalho é ainda mais necessário diante da mudança do regime de eventos extremos, conforme apresentou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Jochen Schongart: “Podemos observar que temos um aumento exponencial da situação de emergência nas últimas décadas, causada principalmente pelo regime das cheias severas, que causaram uma situação de emergência 29% maior, em comparação com todo o século anterior.”
Schongart também pontuou que, desde 1980, aumentou em 26% a área máxima inundada na calha do Rio Amazonas, causando impactos em comunidades ribeirinhas.
Durante a participação, o secretário adjunto da Defesa Civil Estadual, Clovis Araújo, falou que as apresentações forneceram um panorama relevante do que será enfrentado nos próximos meses. Araújo finalizou dizendo: “Os eventos extremos acontecerão cada vez com mais frequência. Nós temos que nos adaptar e somar esforços no planejamento e execução para diminuição dos impactos junto à população.”
*Com informações da assessoria