Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Dia Nacional da Visibilidade Trans foi celebrado na quinta-feira, 29 de janeiro. Instituída em 2004, a data tem o objetivo de promover o orgulho e a resistência da comunidade trans, bem como destacar a luta contra o preconceito e a marginalização enfrentados por esse grupo no Brasil.
O portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com a escritora e transcritora Márcia Antonelli, que vem se destacando na literatura amazonense independente. Mulher trans e escritora autônoma, Márcia está entre as 28 pessoas que realizaram a retificação de nome e gênero no registro de nascimento em 2024, por meio dos mutirões de documentação promovidos pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc).
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Trajetória de autodescoberta
“Me assumi transgênera muito recentemente, em 2009. Mas ainda em segredo da minha família, inclusive de minha mãe. Não foi às claras. Não ia ser fácil. Nenhuma transição se processa de maneira simples. A questão familiar, aliada à religião, ainda pesa muito. O mundo é conservador e nossa sociedade, patriarcal”, explicou.
Segundo Antonelli, essas barreiras vêm sendo rompidas aos poucos. “No meu caso, só foi possível ao romper os laços parentais. Somente após a morte de minha mãe me senti mais livre e encorajada a me assumir. Nunca saberia, entretanto, como ela reagiria a essa mudança radical. Ser mulher trans é radicalizar todas as estruturas físicas, mentais e comportamentais”, ponderou.

Preconceito e resistência
“O que buscamos é respeito e igualdade de direitos”, enfatiza a escritora. Para ela, os desafios enfrentados pela comunidade trans incluem o preconceito, a violência, a dificuldade de acesso à saúde, a escassa representação na política em Manaus e a discriminação no mercado de trabalho e na busca por moradia.
“A religião ainda é uma fonte de desafio para as mulheres trans. Somos, em diversos aspectos, vistas como bruxas, assim como as mulheres foram na Idade Média”, destacou.
Antonelli ressalta a importância de contar com uma rede de apoio durante o processo de afirmação de gênero. “Receber orientação jurídica, ter acesso a informações básicas e fundamentais ajuda a combater o preconceito, a violência e o estigma que sofremos, além de promover a inclusão social”, afirmou.
Para enfrentar os desafios e o preconceito de gênero na sociedade, Antonelli reforça a necessidade de resistência e organização. “Nossa luta também é uma luta de classes. Precisamos nos politizar mais, nos fortalecer e nunca soltar a mão uma da outra. Ser mulher trans não é uma bagunça”, concluiu.
Como mensagem para a comunidade trans amazonense, Antonelli compartilhou um haicai:
“Travesti não é bagunçado
Respeito é bom
E assino embaixo”
“Rasgada ao Meio”: nova obra de Márcia Antonelli
Em outubro de 2024, Márcia Antonelli lançou o livro Rasgada ao Meio após receber um convite para participar do Edital Paulo Gustavo, realizado pela Editora Transe.
A escritora descreve a obra como um mergulho em diversos temas: “memórias da infância (Da Memória), violência urbana (Do Crime), surrealismo (Realismo Fantástico), prazer, volúpia, sexo e desejo (Do Erótico), além do cotidiano urbano (Da Crônica), encerrando com mini, micro e nano contos”.