Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Com o período de seca no Amazonas, os níveis dos rios diminuem e dificultam a chegada de alguns produtos e alimentos na capital e outras regiões. E com esse cenário, tanto os comerciantes quanto os consumidores sentem os impactos na logística e no custo de produtos.
No ano passado, o Amazonas passou por uma seca histórica que impactou a logística de transporte e o escoamento de alimentos e produtos. Feirantes, comerciantes e produtores enfrentaram prejuízos, assim como a estiagem também afetou a qualidade das frutas e verduras.
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Para os comerciantes locais, o transporte de mercadorias é um dos maiores desafios, já que a maioria dos produtos chega à capital e aos municípios vizinhos por meio dos rios.
Neste ano, a situação não parece ser diferente: o nível do rio Negro começou a baixar em junho, e até sexta-feira, 6/9, registrava 18 metros e 49 centímetros.
Tanto os comerciantes, quanto os feirantes e consumidores sentem os impactos da seca no bolso, principalmente no período de escassez e dificuldades logísticas.
De acordo com o presidente da Associação Comercial do Amazonas (ACA), Bruno Pinheiro, a elevação dos preços não é causada pelos comerciantes, mas sim por um aumento no custo do frete marítimo, que abastece a capital amazonense.
“Agora, vai ter falta de produto, sim. Vai ter aumento de preço, com certeza. Não porque o comércio aumenta, mas porque, nesse período, o frete fica mais caro, que no caso é o marítimo. É muito comum os consumidores imaginarem que o comércio está aumentando o preço. Não é que ele está aumentando, o valor para esse produto chegar em Manaus fica mais caro por conta da navegação, que tem um custo,” explicou Bruno Pinheiro.
Conforme explica Bruno Pinheiro, os impactos da seca já são perceptíveis. Contudo, a diferença deste ano, é que o comércio não vai ser pego de surpresa.
“É impossível dizer que não vai ter impacto. Vai ter impacto sim. A diferença do ano passado pra esse é que nós fomos atualizados e automaticamente atualizamos os empresários. Então, todo mundo começou a se preparar em comprar produtos em uma quantidade maior pra que não houvesse um impacto tão grande quanto o do ano passado”, explica Pinheiro.
Impactos nos produtos
Trabalhadores da Feira da Manaus Moderna relataram ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS que com a diminuição dos rios e a escassez de produtos, buscam alternativas para minimizar as perdas.
Almir de Freitas, peixeiro que recebe a sua mercadoria diretamente da Panair, descreve o período como “complicado”.
“É difícil nessa época do ano, a quantidade diminui, falta peixe. A gente se prepara como dá, congelamos o peixe e armazenamos no frigorífico durante esse período”, explica.
A estratégia de congelamento também é adotada por Felipe Andrade, que reforça a importância dessa medida encontrada para enfrentar a seca: “A gente sente muito esses impactos, e pra gente aqui, quem possui câmara frigorífica consegue armazenar melhor, e é assim que a gente vai se preparando”.
A dificuldade em manter a reposição dos produtos também é sentida por outros comerciantes da feira. Francisco Santos, que é dono de uma banca de frutas e verduras, destaca a redução na quantidade e na qualidade dos produtos durante a seca.
“A quantidade de produtos diminui e não suprimos a demanda, tem a dificuldade de manter os produtos frescos para maior durabilidade e driblar essa falta. Como são produtos perecíveis, a gente sente essa dificuldade”, comenta Francisco.
Taqueu Craveiro, que trabalha com a venda de farinha e queijo, também observa a queda na produção de queijo devido à seca: “Trabalhamos com queijo, e a seca reduz a produção”.
Valor elevado
O aumento dos preços é evidenciado pelos feirantes locais, que sentem diretamente os efeitos da alta no custo do transporte sobre os produtos. “Tem a diminuição de produtos, e o transporte que faz com que os preços acabem subindo”, relata o feirante Francisco Santos.
Já Felipe Andrade menciona a dificuldade adicional enfrentada por transportadores, que consequentemente, afeta os valores: “A dificuldade para atravessar os rios é maior, e isso faz com que aumente os preços”.
Taqueu Craveiro também ressalta que os impactos vão além dos alimentos perecíveis: “A mercadoria fica mais cara; até o transporte da farinha é afetado”.
Preparativos
Desde o início do ano, os níveis dos rios vêm sendo observado com o objetivo de minimizar os impactos da estiagem. Conforme o presidente da ACA, este ano a Defesa Civil intensificou o monitoramento. Dessa forma, permitindo que o comércio se informe antecipadamente sobre a seca.
“Tem órgãos que estão monitorando e repassando isso para as entidades de classe e também para os empresários. Tivemos reunião no início do ano onde esse grupo de trabalho informou que talvez estivesse uma possível estiagem, porque o rio não tinha retornado ao período normal”, disse Pinheiro.
Com a possibilidade de seca, comerciantes começaram a tomar precauções, comprando mercadorias antecipadamente para evitar atrasos ou falta de produtos.
Amanda Cornélio Amorim, gerente de uma loja de roupas no Centro da cidade, relata que com os avisos antecipados, foi possível se preparar melhor.
“A seca dificulta nossa relação com os clientes, nessa época a gente sente a dificuldade de mandar a mercadoria para o interior. Além de impactar na chegada de alguns produtos, que algumas vezes passa por algum barco. Esse ano a gente se preparou, compramos as mercadorias antecipadamente”, contou Amanda.
Apesar das medidas adotadas e do planejamento, alguns produtos ainda enfrentam dificuldades devido à seca. Taqueu Craveiro, sente o impacto na venda da farinha, um dos produtos mais vendidos na banca.
Além disso, o presidente da ACA revela que estratégias como a dragagem e a montagem de um porto flutuante em Itacoatiara estão sendo utilizadas para facilitar o transporte de mercadorias para Manaus. Dessa forma, as medidas visam garantir que as operações continuem mesmo diante dos desafios apresentados pela estiagem.