Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Raimundo Lobato faz parte da diretoria da Associação dos Produtores Agroextrativistas e Pescadores do Rio Barbosa e Comunidades do Entorno do Distrito de Itatupã , no município de Gurupá, localizado no Nordeste do Estado do Pará, mais especificamente na zona fisiográfica do Marajó e Ilhas.
Nesta quinta-feira, 15/8, o ribeirinho conversou com o Portal RIOS DE NOTÍCIAS e deu um panorama de como a estiagem naquela região tem afetado a produção de cacau [que serve de matéria prima para a produção de chocolate], do pescado e do açaí nas comunidades do Pará.
“Em termos de seca, alguns anos atrás, a gente não tinha esse problema, mas a partir do ano passado para cá começou o problema. Sobre o cacau desse período pra frente, se plantar o pé de cacau só segura [no solo] 30 ou 20 pés por causa da seca. Hoje nós já sofremos dessa forma”, relatou.
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Além da diminuição no plantio, com a severa seca de 2023 e suas consequências até hoje, somada a estiagem deste ano, o pescado da região de Gurupá também foi afetado incluindo a produção de camarão.
“Na grande seca que deu e vem se prolongando, a gente vê a falta do peixe e do camarão. Aqui a gente consome muito peixe e camarão, mas de uns anos pra cá começou a se agravar [faltar] ainda mais e nós temos que se unir cada vez mais como associados”, destacou Raimundo Lobato, da Asprorios
Açaí
O açaí é uma palmeira muito comum na região da Amazônia que produz um fruto de cor roxa, bastante utilizado na confecção de alimentos e bebidas. Seus frutos escuros têm uma polpa rica, da qual se extrai um sumo muito apreciado que compõe sorvetes e cremes de açaí consumidos em todo o Brasil. No município de Gurupá a produção deste fruto típico da região Norte do país também foi atingida com a estiagem.
“Nesse período também seca mais o açaí. No período passado, numa época dessa, a gente não via açaí seco. Eu tirava dois cachos de açaí e ainda ficava o terceiro. Hoje não, quando tira o primeiro, já no segundo começa a secar e no terceiro cacho nem se conta mais com ele. De 10 cachos se tira quatro bom pro consumo, além do final de safra, tá secando demais”, explicou o produtor rural.
De acordo com Raimundo Lobato ao riosdenoticias.com.br, os comunitários estão tirando poucos cachos. “No caso, três latas, uma saca, todo dia. Mas isso é porque nós temos ainda um final de safra de açaí. Mas na temporada de frutos, a gente tira cinco até dez sacas por dia. Como sempre falo, a gente mexendo no nosso açaizal prolonga ainda mais, até no mês de dezembro”, disse em referência ao manejo florestal comunitário.
Parcerias
Além de promover o manejo de açaizais nativos e de quintais florestais nas comunidades, a Asprorios juntamente com o Instituto Mamirauá e demais parceiros também visam, por meio da criação de uma central de comercialização, o fortalecimento comunitário e do empreendedorismo para o desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí e das oleaginosas (andiroba e pracaxi) em sua região de atuação localizada em Gurupá-PA, bem como buscam estimular a ampliação da rede de pessoas que manejam os produtos, por meio de seminários para a propagação de conhecimento tradicional e formal sobre a extração de óleos.
De acordo com a coordenadora do projeto em parceria com as Asprorios e do Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá, Emanuelle Pinto, a seca que afetou a produção de açaí, foi uma das problemáticas mapeadas nas oficinas de detalhamento do projeto realizadas com os extrativistas em 2023.
“O mesorcarpo (polpa) e o epicarpo ( casca) do açaí secam e endurecem, diminuindo a produtividade do açaizal. A partir disso, consideramos de grande importância trabalhar o manejo de açaizal nativo e o enriquecimento das áreas dos quintais das famílias, pois na ilha o açaí não é somente fonte de renda, mas também o alimento de todas as familias ribeirinhas”, explicou ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS.
“No manejo de açaizal leva- se em consideração a diversidade de espécies, o número e tamanho de indivíduos arbóreos, número de açaizeiros por touceira, a distância entre árvores, com isso temos diversos impactos positivos: manutenção da umidade do solo, sombra, polinização, saúde do açaizal, o que aumentam a qualidade e produtividade do açaí”, finalizou.