Letícia Rolim e Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Todos os anos, em 17 de maio, celebra-se o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, cujo objetivo é dar visibilidade às pessoas LGBTIA+, que lutam continuamente por igualdade de direitos, aceitação e respeito em todo o mundo.
A data também marca o dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças, há 33 anos.
“Mês da Diversidade“, maio reúne atividades, eventos, comemorações e conquistas que visam conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre as formas de discriminação enfrentadas por pessoas LGBTIA+ e para promover uma sociedade mais inclusiva e respeitosa, assim como ressaltar a importância de ouvir as vozes e perspectivas da comunidade para entender melhor suas experiências e desafios.
Em pleno século 21, pessoas ainda são vítimas de discriminação, intimidação e agressão simplesmente por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. E a homofobia se manifesta em diversas formas, desde o preconceito sutil até a violência física.
Contudo, o mundo é também povoado por pessoas que não se conformam com o atual modus operandi e parte para o enfrentamento contra as desigualdades. Entre elas estão Karen Arruda, presidente do primeiro e único abrigo LGBTIA+ da Região Norte; Gabriel Mota, professor e educador comunitário; e Melissa Castro, ativista e membro da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (ASSOTRAM), que mostram a importância da solidariedade, inclusão e empoderamento.
Construindo pontes

Em Manaus, a Casa Miga desempenha um papel essencial no acolhimento e suporte às pessoas LGBT+ em situação de vulnerabilidade.
A presidente da instituição, Karen Arruda, destaca que as pessoas que chegam à casa de acolhimento enfrentam traumas variados, cada um com sua própria história.
O abrigo oferece moradia, alimentação e acompanhamento psicológico, além de promover cursos profissionalizantes, rodas de conversa e atividades culturais, visando a construção de uma vida autônoma e emancipação das pessoas LGBTIA+ em situação de vulnerabilidade.
“Casa Miga supre um direito básico que é a moradia e alimentação. Depois disso, a gente pensa onde dói e não é fácil lidar com essa realidade. Além dessas necessidades básicas, investimos em rodas de conversas, grupoterapia, atividades culturais para que todos os pilares essenciais para a vida comecem a ser construídos” , explica Karen.
O abrigo atua em todas as lutas, desde o trabalho de advocacy (defesa e argumentação em favor da causa) e incidência política, para que políticas públicas cheguem à população.
“As articulações com parceiros locais e nacionais são muito importantes e estamos sempre desenvolvendo isso, seja outras instituições, ONGs, empresas e ou órgãos governamentais”, detalhou.
Visibilidade e inclusão Trans

A Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (ASSOTRAM) também desempenha um papel importante na luta contra a LGBTfobia na região.
A ativista e membra da associação, Melissa Castro, ressalta os desafios enfrentados pela comunidade trans e como a associação tem trabalhado para superá-los.
“O principal desafio da comunidade trans é fazer com que as pessoas entendam que existimos enquanto cidadãs e sermos inseridas dentro da sociedade” disse Melissa.
A ativista explica que a associação realiza um trabalho fundamental de visibilidade trans, com presença em audiências públicas e dentro de universidades.
“Falar sobre o assunto dentro desses espaços é importante para que as pessoas reconheçam nossa existência. Além disso, tem as rodas de conversa e abordagens em lugares públicos”, explicou.
“Aí sim, a gente vai encontrar pessoas transgênero no mercado de trabalho, no posto de saúde, enfim, em todos lugares que faz com que o ser humano tenha o mínimo de dignidade pra viver. E seguimos brigando por inclusão e mostrando às pessoas que os espaços que elas ocupam também são nossos por direito“, destacou.
Luta por representatividade
Um dos principais obstáculos enfrentados pela comunidade LGBTIA+ em Manaus é a falta de representação política. Gabriel Mota, ativista e fundador da Casa Miga, enfatiza que a ausência de representatividade na política invisibiliza as pautas e dificulta o avanço de questões importantes, como acesso à educação, mercado de trabalho, saúde pública e segurança.
Um dos principais obstáculos enfrentados pela comunidade LGBTIA+ em Manaus é a falta de representação política. Gabriel Mota, ativista e fundador da Casa Miga, enfatiza que a ausência de representatividade na política invisibiliza as pautas e dificulta o avanço de questões importantes, como acesso à educação, mercado de trabalho, saúde pública e segurança.

“Sem vereadores ou deputados que sejam abertamente LGBTIA+, nossas pautas, além de inviabilizadas, servem como pauta para político conservadores criarem polêmicas e crescerem entre o público que os consome. E sem ter um representante nesses espaços, ninguém compra a briga ou deixa um contraponto. Afinal, não são os pares deles que estão sendo excluídos ou violentados“, disse.
Gabriel Mota, tentou ingressar na política e destaca a importância de estrutura, tempo, dinheiro e ações concretas para fortalecer as candidaturas LGBTIA+ e combater práticas como a compra de votos. Ele ressalta a relevância de conscientizar a população sobre a importância da representação e aponta exemplos inspiradores de políticos LGBTIA+.
“Hoje, temos grandes nomes LGBTIA+ ocupando cargos políticos: Érika Hilton, Fábio Contarato, Prof. Israel, Daiana Santos, Eduardo Leite, Fátima Bezerra, entre outros. Nenhum deles com relevância na região norte. Mas são pessoas com alta produtividade legislativa e de luta que representam a força que temos quando ocupamos a política”, pontuou Mota, que também é educador comunitário da Fundação de Medicina Tropical.
Menos mortes
O Brasil segue pelo quarto ano consecutivo como o país que mais mata a população LBGTQIA+, com uma morte a cada 29 horas, segundo dados do “Relatório de Mortes Violentas de LGBT no Brasil” de 2022, divulgado pelo Grupo Gay da Bahia e o “Relatório do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA” . Por isso, o Dia Internacional do Combate à LGBTfobia é um dia para pensar medidas que conteste esse tipo de discriminação.