Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – As mudanças climáticas já são uma realidade devastadora no Brasil. Exemplo disso é o recente desastre no Rio Grande do Sul, onde chuvas intensas resultaram em enchentes e deslizamentos de terra, que tiraram a vida de quase 150 pessoas até agora. Segundo especialistas, a triste experiência pode fornecer valiosas lições para o Norte do país, onde o Amazonas se prepara para uma seca intensa.
Em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS nesta quarta-feira, 15/5, Rogério Fonseca, doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, mestre em Gestão Ambiental e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), enfatizou planos preventivos como necessários para enfrentar os desafios climáticos.
Ele apontou que a região amazônica possui certa “expertise” em lidar com eventos climáticos extremos, como as cheias e vazantes dos rios, mas há lacunas na estrutura de defesa civil.
“A região Norte do Brasil tem essa expertise de defesa civil que chamamos vulgarmente de ‘indústria da vazante’ e a ‘indústria das cheias’. Porém, aqui no nosso Estado, temos 62 municípios e menos da metade deles tem uma estrutura de defesa civil que é comandada, liderada e administrada por técnicos que entendem do assunto e que poderiam dar algum tipo de resposta a desastres naturais”, revelou.
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Depois do advento da extrema estiagem registrada em 2023 no Amazonas, Fonseca disse que acompanha a ações do Governo do Estado, que vem agindo de forma preventiva diante das projeções alarmantes para 2024. A Defesa Civil Estadual e o Corpo de Bombeiros têm se mobilizado desde janeiro, alertando a população sobre os riscos iminentes e promovendo a capacitação de brigadas de combate a incêndios florestais.
“O poder público se anteviu em 2024. Isso porque aprendeu com a dor na pele no ano passado e a estiagem pode nos afetar reincidentemente. A Defesa Civil Estadual e o Corpo de Bombeiros divulgaram que os dados climáticos apontam para que o ano de 2024 é um ano que teremos estiagem muito mais acentuada. Então, se no ano passado a gente testemunhou a fumaça batendo nas portas de nossas casas, talvez a gente possa ter isso também em 2024. Os dados climáticos atuais mostram que podemos ter um 2024 muito seco”, alertou.
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Secretaria do Clima
Rogério Fonseca também trouxe à tona importantes reflexões sobre a eficácia da recém-criada Secretaria de Mudanças Climáticas (Semmasclima) pela Prefeitura de Manaus. Para ele, a mudança de nome não é uma solução efetiva para as questões ambientais enfrentadas pela população.
“Não vai fazer diferença alguma na vida do cidadão pagador de impostos, sendo bem claro. Isso é muito mais para querer atender a um apelo politiqueiro momentâneo, já que estamos em ano de eleições, do que atender ao que o povo de fato necessita ser atendido”, enfatizou.
Para o especialista, a secretaria deveria manter seu foco na proteção do meio ambiente como um todo, incluindo questões relacionadas ao clima. Ele enfatizou a importância de consultar especialistas, como climatólogos e meteorologistas para embasar as decisões sobre políticas climáticas.
Fonseca ressaltou que, embora existam mudanças climáticas em curso, essas transformações nem sempre são perceptíveis em uma escala de vida humana. Ele destacou a importância de analisar dados científicos para compreender as verdadeiras tendências climáticas e evitar decisões baseadas em percepções distorcidas.
“Vamos dar um exemplo: a vida do ser humano é de aproximadamente 65 anos. Numa escala biológica, a gente não consegue ver as mudanças climáticas ocorrerem na nossa vida. A gente tem percepções de mudanças do clima porque vivemos em um ambiente constantemente alterado, que é o urbano, e que pode nos dar uma percepção distorcida da realidade. Por isso, temos que olhar para os dados que devem ditar essas condicionantes de reais mudanças climáticas”, afirmou.
Boas práticas
Rogério Fonseca chamou a atenção para a importância das ações cotidianas para enfrentar os desafios ambientais. Entre eles, a relevância do pagamento de serviços ambientais, especialmente para comunidades e unidades de conservação, como uma medida concreta adotada pelo Estado do Amazonas. No entanto, ele enfatizou a necessidade de estender esses benefícios também para áreas devolutas e propriedades privadas, reconhecendo o papel essencial dos produtores rurais na preservação ambiental.
O especialista também pontuou a necessidade de mudanças de comportamento, como compostagem doméstica, o compartilhamento de veículos e a utilização de transporte coletivo, para reduzir a emissão de gases poluentes.
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O professor também abordou a importância da preservação de áreas verdes urbanas, como parques e reservas naturais, para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, como enchentes. Ele ressaltou a necessidade de um ordenamento territorial eficaz e do envolvimento da sociedade civil na proteção dessas áreas.