Redação Rios
MANAUS (AM) – Sem qualquer definição sobre o Massacre do Rio Abacaxis, ocorrido em agosto de 2020, movimentos sociais cobram celeridade na identificação e responsabilização dos envolvidos no caso que aconteceu na região dos rios Abacaxis e Marimari, entre Borba e Nova Olinda do Norte.
Quatro ribeirinhos e dois indígenas Munduruku foram mortos a tiros em agosto de 2020, durante uma ação policial deflagrada pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. A ação ocorreu dias após o então secretário-executivo do Fundo de Promoção Social estadual, Saulo Moysés Rezende Costa, ser baleado enquanto pescava na região do Rio Abacaxis.
Na época, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou que Costa pescava com um grupo de amigos perto de uma comunidade ribeirinha. Após um desentendimento com lideranças locais que exigiam que o grupo deixasse a área por não ter licença ambiental para pescar no local, Costa foi atingido por um tiro no ombro.
Segundo a secretaria estadual de Segurança Pública informou pouco tempo depois, Costa registrou um boletim de ocorrência no qual relatou que as pessoas que abordaram a ele e a seus colegas portavam armas de fogo, facas e tochas.
Uma semana depois, a secretaria estadual de Segurança Pública deflagrou uma operação policial com a justificativa de combater o tráfico de drogas na região do Rio Abacaxis.
De acordo com a pasta, no segundo dia da ação, parte da força policial deslocada para a área foi emboscada e dois policiais militares – o terceiro-sargento Manoel Wagner Silva Souza e o cabo Márcio Carlos de Souza – foram mortos.
Cobrança por providências
A partir daí, segundo os movimentos e organizações sociais que assinam a nota divulgada na quarta-feira, 17/5, as forças de segurança deram início a uma “verdadeira operação de extermínio”, que resultou nas mortes a tiros de quatro ribeirinhos e de dois indígenas munduruku, além de dois supostos desaparecimentos até hoje não esclarecidos.
“A projetada retaliação [das forças de segurança amazonenses] resultou em uma desastrada ação armada, executada por uma milícia formada por policiais sem farda, dentre os quais dois foram mortos e outros dois feridos”, ressaltam as entidades signatárias do documento.
De acordo com os movimentos e organizações sociais, além das mortes e dos supostos desaparecimentos, dezenas de moradores da região foram agredidos e torturados durante as duas investidas policiais.
Passados mais de dois anos e meio, a Polícia Federal indiciou, em 28 de abril deste ano, o ex-secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Louismar Bonates, e o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Ayrton Norte, acusados de envolvimento na chacina.
Esperança
Na nota que apresentaram esta manhã, na Cúria da Arquidiocese de Manaus, os representantes das várias entidades sociais que acompanham o caso mencionam ter recebido com “alívio e esperança” a notícia do indiciamento dos “dois ex-integrantes da alta cúpula da segurança” do Amazonas.
“Reconhecemos a relevância destes indiciamentos por entender que a mão da Justiça começa a tocar as comunidades desta região, depois de tanto sofrimento presente nos corpos, na alma e na memória de quem viveu este massacre”, sustentam as organizações e movimentos, cobrando o aprofundamento das investigações e punição para os envolvidos.
Presente à apresentação da nota à imprensa, o arcebispo de Manaus, o cardeal Leonardo Ulrich Steiner mencionou que a iniciativa dos movimentos e organizações sociais mais de duas semanas após a notícia do indiciamento de Bonates e Norte se tornar pública busca conscientizar a sociedade sobre a importância de que a Justiça seja feita.
“Não faço parte [do grupo de entidades sociais signatários da nota], mas a Arquidiocese tem apoiado o coletivo, inclusive estando presente na região. Ressalto que houve um indiciamento, agora é necessário mais provas e, depois, do processo legal. Há diversos passos [legais a serem cumpridos] e o que esperamos é que o massacre seja investigado. A justiça precisa ser feita”, comentou o arcebispo.
*Com informações da Agência Brasil