Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A descoberta de talentos, como o pequeno prodígio Luan Gama, de apenas 10 anos, levanta importantes questões sobre a retenção desses indivíduos brilhantes no Amazonas. É uma realidade comum ver jovens promissores em busca de oportunidades de estudo no exterior, o que, por vezes, resulta na partida precoce dessas grandes mentes.
Luan Gama, conhecido por sua participação no quadro “Pequenos Gênios”, no programa apresentado por Luciano Huck na TV Globo, é um exemplo desse dilema. Apesar de suas conquistas precoces e do recente ingresso aprovado no curso de licenciatura em matemática na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o prodígio já expressou o desejo de estudar em Harvard, nos EUA.
“Quando eu sair de Manaus, provavelmente com 17 ou 18 anos, eu vou querer entrar em uma faculdade dos Estados Unidos e vou ter que abandonar o açaí e o tacacá aqui. Quer dizer, só tem um açaí de sorvete lá. Não tem um açaí puro como aqui”, compartilhou o jovem talento.
A pedagoga Kelen Marcião ressalta a importância de reter mentes brilhantes como a de Luan Gama. “Nossa tendência é se preocupar muito mais com aqueles que não aprendem do que com aqueles que apresentam desempenho além do esperado para sua idade cronológica”, destaca a especialista.
Kelen destaca a necessidade de políticas educacionais que reconheçam e apoiem os desafios específicos associados à retenção de talentos. Para ela, além do investimento em ensino, é importante criar um ambiente propício que incentive a permanência desses jovens brilhantes, contribuindo assim para o crescimento intelectual e a inovação local.
O caso de Luan Gama ilustra não apenas a excelência individual, mas também coloca em discussão a responsabilidade coletiva de garantir que o Amazonas mantenha seus talentos, proporcionando oportunidades que rivalizem com aquelas oferecidas no exterior.
Nesse contexto, a reserva de vaga do “pequeno gênio” na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), surge como caminho possível para conciliar o interesse da criança e da família com as possibilidades de um acompanhamento adequado.
Esta medida se apresenta como uma solução pragmática para garantir que jovens prodígios, como Luan Gama, tenham a oportunidade de desenvolver todo o seu potencial, ao mesmo tempo em que preservam uma trajetória educacional equilibrada e saudável.
Apoio psicopedagógico
A especialista pontua a importância de reconhecer que, apesar do talento excepcional do jovem gênio, ele é, antes de tudo, criança. Portanto, é crucial proporcionar acompanhamento e suporte psicológico adequado para garantir que possam assimilar o ambiente acadêmico e social de maneira saudável.
“Como educadora, creio que a reserva de vaga é uma medida interessante diante da falta de dispositivos nas universidades, de modo geral, para o desenvolvimento de programas especiais que possam inserir crianças e jovens com altas habilidades. Sem contudo esquecer que, do ponto de vista de sua sociabilidade e maturidade emocional, os mesmos, em regra, continuam em patamar condizente com sua faixa etária”.
Kelen destaca a necessidade urgente de fortalecer uma rede de apoio psicopedagógico para garantir que essas habilidades se transformem, no futuro, em talentos a serviço de diversas formas de conhecimento.
“O menino Luan, neste sentido contribui para que esse debate sobre altas habilidades ganhe força e assim outras crianças e jovens possam ser identificados. Mas repito é necessário fortalecer uma rede de apoio psicopedagógico para que essas habilidades se tornem no futuro e em tempo adequado um talento a ser potencializado e que esteja a serviço da ciência; da arte e das diversas maneiras de conhecer o mundo”.
Oportunidades educacionais
A pedagoga Kelen aponta para a carência de investimentos na educação desses talentos e destaca a importância de apoiar e incentivar o desenvolvimento.
“A ausência de programas mais robustos acaba desperdiçando esses talentos adequadamente. A identificação precoce e o atendimento psicopedagógico podem contribuir muito para que essas crianças sejam vistas para além de sua inteligência, garantindo seu desenvolvimento também em outras dimensões, como a emocional e social”.
Manter esses talentos no Estado não apenas enriquece o ambiente acadêmico, mas também impulsiona o progresso e a inovação. Segundo Kelen, é importante que esforços sejam concentrados na criação de oportunidades educacionais e profissionais que rivalizem com as oferecidas no exterior, visando manter esses prodígios.
“Existem hoje no país muitas crianças e jovens com altas habilidades (conhecidos como superdotados), infelizmente esses talentos muitas vezes passam despercebidos dentro das próprias escolas – principalmente as públicas – por ausência ou ineficiência de políticas voltadas para identificação precoce e desenvolvimento adequado dessas habilidades excepcionais dentro das áreas em que se manifestam”.
Marcião faz apontamento no avanço do debate sobre a educação de crianças superdotadas, em busca de soluções que garantam o desenvolvimento desses talentos dentro do contexto educacional brasileiro.
“Em outros países, onde esse debate está mais avançado, as universidades e os sistemas educacionais possuem programas especiais para acolher e oferecer um ambiente adequado para a alta dotação. As escolas estão alertas para a identificação desses talentos de maneira muito precoce. Neste sentido, a reserva de vaga, se não é a ação educacional ideal, é aquela que mais concilia o interesse da criança representada por sua família, com as possibilidades atuais do Estado em atendê-la”.