Caio Silva – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, é o grande símbolo da COP30, realizada pela primeira vez em uma cidade da região, Belém, no Pará. O evento coloca o bioma no centro das discussões globais sobre clima, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.
O bioma amazônico regula o clima, abriga a maior biodiversidade terrestre do mundo e armazena toneladas de carbono. Além de seu papel no equilíbrio ambiental, a floresta sustenta modos de vida tradicionais que convivem de forma sustentável com a natureza há séculos.
Ao sediar a COP30, Belém se tornou um ponto de encontro para líderes mundiais, cientistas e povos da floresta, com o objetivo de transformar a Amazônia em tema de debate e inspiração prática para políticas ambientais.

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Bioma Amazônico
A Amazônia tem cerca de 6,74 milhões de km², abrangendo parte do Brasil e de países como Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. No Brasil, ocupa áreas do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
O bioma é formado por florestas tropicais, igapós, várzeas, savanas e refúgios montanhosos, abrigando grande biodiversidade. Entre os animais mais comuns estão onças, tamanduás, peixes-boi, botos, jacarés, tartarugas, serpentes, além de inúmeras espécies de aves, anfíbios e peixes.
A região enfrenta sérios problemas ambientais, como desmatamento, queimadas, garimpo, biopirataria e expansão agropecuária.
Desmatamento
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento da Amazônia aumentou 91% em maio de 2025, totalizando 960 km² — o segundo pior índice da série histórica. O recorde continua sendo 1.390 km² em maio de 2021. No período de agosto a maio, houve alta de 9,7% na área desmatada.
Especialistas ouvidos pelo riosdenoticias.com.br destacam a importância de eventos como a COP30, que dão protagonismo não apenas às questões ambientais, mas também à Amazônia e aos saberes das comunidades tradicionais.
Comunidades tradicionais e conhecimento ancestral
Para Muriel Saragoussi, engenheira agrônoma, socioambientalista e ativista, é necessário distinguir o que a floresta ensina, o que as pessoas que vivem nela ensinam e o que os moradores urbanos da região podem aprender.
“A floresta é um ser vivo, em equilíbrio estável e instável. Ela se estabelece há milhões de anos, crescendo ou diminuindo conforme mudanças históricas de água, calor e frio”, explica.

Saragoussi aponta que a chegada da civilização europeia à Amazônia quebrou esse equilíbrio, com desmatamento, queimadas e transformação da floresta em monoculturas e pastagens, afetando milhares de organismos que vivem em simbiose.
Em contraste, os povos indígenas buscam manter o equilíbrio até mesmo em suas roças, tentando replicar a complexidade da floresta com árvores frutíferas e plantações de macaxeira e feijão. “Eles utilizam os recursos da floresta de forma que melhore sua qualidade de vida”, afirma a ativista.
Floresta e cidade
Saragoussi lembra que cidades como Manaus não reproduzem o contexto de aldeias indígenas, mas todos podem se beneficiar do conhecimento ancestral sobre manejo de plantas, água, peixes e animais.
“Combinando ciência e saberes tradicionais, é possível encontrar soluções para um número muito maior de habitantes dentro de um sistema florestal complexo”, afirma.
Segundo ela, pensar dessa forma é essencial para reduzir desigualdades, combater o consumismo excessivo e buscar uma sociedade mais equilibrada.
“O Brasil quer enviar ao mundo a mensagem de que podemos viver em equilíbrio, mas enfrenta contradições, como a exploração de petróleo enquanto pede que o mundo reduza o uso de combustíveis fósseis”, contou.
Impactos climáticos e rios voadores
Para Jó Fernandes Farah, jornalista e presidente da ONG Mata Viva, o avanço das temperaturas e as mudanças climáticas podem transformar a Amazônia em uma grande savana.
“Isso compromete o fluxo de chuvas e o abastecimento de água no Centro-Oeste e Sudeste, porque é na Amazônia que se originam os ‘rios voadores’, que levam chuva para várias regiões do país”, explica.

Farah alerta que o desmatamento e as queimadas podem gerar uma tragédia climática para o Brasil e para o mundo, já que o ciclo hídrico amazônico é essencial para a distribuição de água na América do Sul. “Cuidar da Amazônia é cuidar do ar, da água e do sequestro de carbono”, reforça.
Degradação e regeneração
O jornalista destaca que a Amazônia não se regenera se for destruída em grande escala, porque a floresta possui várias camadas de vegetação que não podem ser replicadas facilmente. “Destruir é fácil; regenerar é muito difícil, caro e leva muito tempo”, afirma.
Segundo Farah, os conhecimentos ancestrais precisam ser catalogados para permitir discussões científicas e técnicas sobre o uso racional da floresta. “Se não ouvirmos os povos tradicionais, continuaremos desmatando e queimando de forma indiscriminada”, alerta.
Ele também enfatiza que ribeirinhos, indígenas e quilombolas preservam a floresta, utilizando seus recursos de forma sustentável para subsistência, sem exploração predatória. “Eles ensinam que é possível viver da floresta sem destruí-la”, conclui.












