Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A proposta que atualmente tramita no Congresso Nacional e permite que casas de jogos de azar sejam instaladas em “polos turísticos” ou em “complexos integrados de lazer”, como cassinos, tem gerado discussões no país a cerca da sua contribuição na economia e turismo.
O projeto de lei 2234/2022 que libera a jogatina no Brasil propõe a emissão de uma licença para um cassino em cada estado e no Distrito Federal. Alguns estados teriam uma exceção, como São Paulo, que poderia ter até três cassinos com a justificativa do tamanho da população ou do território.
No texto da proposta, consta que uma autorização para o funcionamento de casa de jogo do bicho por estado é para cada 700 mil habitantes. O que significa que caso seja aprovado o PL, o Amazonas poderá ter dois cassinos com base na concessão de uma licença para funcionar o estabelecimento.
Leia também: Anvisa proíbe produtos com fenol em procedimento de saúde ou estético
Ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o economista Mourão Júnior destaca que a criação de um ambiente regulamentado para cassinos pode trazer benefícios econômicos substanciais para o Amazonas, especialmente se integrado ao potencial turístico da floresta amazônica. No entanto, Mourão alerta sobre os desafios históricos enfrentados pelo país em relação ao jogo.
“No passado, o país proibiu os cassinos devido aos problemas sociais, como o endividamento e os impactos negativos na saúde financeira das famílias“, explica.
O especialista levanta a questão crucial da sociedade atual em lidar com os potenciais efeitos adversos do jogo, como o aumento do endividamento e problemas relacionados à saúde mental. “É essencial aprender com a história e implementar regulamentações rigorosas que protejam os jogadores e suas famílias“, destaca o economista.
Mourão enfatiza a necessidade de medidas preventivas, como programas de educação financeira e controle estrito de acesso aos jogos para mitigar riscos sociais.
“Eu coloco aqui se realmente a sociedade está preparada para lidar com isso, porque a gente fomentar esse tipo de turismo, também traz os seus aspectos negativos, e em vez de desenvolver a economia, pode dificultar muito mais, principalmente na questão de endividamento causado pelos jogos“, acrescenta
Manaus já teve cassinos?
A discussão sobre os cassinos no Amazonas, no entanto, não se limita apenas a economia, mas também ao passado. E nesse sentido, o riosdenoticias.com.br buscou o professor e historiador Aguinaldo Figueiredo, para traçar uma linha do tempo, ponderando a história do cassino em Manaus.
O historiador recorda o “Amazonas como um país da borracha” evocando o tempo em que os cassinos não eram apenas locais de jogo, mas centros da alta sociedade e sofisticação. Entre eles, destaca-se a Casa de Pensões, conhecida também como Cassina.
O nome dado ao estabelecimento foi em homenagem ao seu proprietário André Cassina. O emblemático cassino não apenas hospedava os coronéis da borracha que vinham do interior, mas também seduzia a todos com seu luxo, bebidas finas e refinada gastronomia importada.
“A história tem muitas narrativas discordantes, mas historicamente, as informações são consistentes sobre isso“, afirma o historiador, destacando a importância desses estabelecimentos na vida social e econômica da época. Além disso, ele destaca que o apogeu dos cassinos em Manaus foi efêmero.
“Em 1946, o jogo foi proibido no Brasil por decreto do então presidente general Eurico Gaspar Dutra, atendendo a pressões morais da época. Apesar da proibição, alguns estabelecimentos, como o Acapulco Clube, antes localizado na Estrada do Parque 10, persistiram clandestinamente até meados da década de 1960“, explica.
“Este clube não só hospedava artistas famosos que se apresentavam em seus palcos, mas também oferecia áreas reservadas para jogos de bacará, roleta e outros jogos de carta”
Aguinaldo Figueiredo, historiador
“Mário Figueiredo, conhecido como Mário Cunha, foi uma figura chave nesse cenário”, relata Figueiredo, mencionando o dono do Acapulco Clube, que perdeu seu estabelecimento num jogo de cartas no Ideal Clube, outro local frequentado pela elite da época. “Houve momentos em que as apostas eram altíssimas”, frisa o Aguinaldo.