Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Um mês após o ataque do adolescente que feriu colegas em uma escola particular na zona Sul de Manaus, especialistas afirmam que “a comunicação é a chave para uma conexão e caminho mais viável para aproximação e compreensão do mundo dos filhos”.
De acordo com a psicóloga Lorena Nery, a confiança dos filhos é conquistada quando o diálogo é feito de igual para igual.
“Em uma conversa onde os pais falam de uma posição de autoridade, impede que o filho se abra sobre as próprias dificuldades e emoções. E, uma vez que ele não consegue lidar com essas emoções em algum lugar, elas vão precisar ser extravasadas”
Lorena Nery, psicóloga
O debate foi retomado no programa Código Aberto, na rádio RIOS FM 95,7, após um adolescente de 14 anos ter atacado uma colega de classe com uma caneta, na última segunda-feira, 8/5, na escola Escola Municipal Dom Jacson Damasceno Rodrigues, na Zona Leste de Manaus.
No vídeo que circulou nas redes sociais, o adolescente participava de uma apresentação de um trabalho de equipe, quando se irritou com a risada da colega. A repercussão levantou questionamentos sobre a saúde mental dos jovens e adolescentes de hoje em dia e quais medidas tomar.
“Quando os pais tem uma comunicação mais objetiva e próxima, além de compreender as dificuldades dos filhos, eles conseguem ajudar no manejo das emoções. Hoje nós temos uma dificuldade muito grande em regular nossas emoções, identificar o que a gente está sentindo, controlar os nossos impulsos e ter uma visão melhor das nossas próprias atitudes”, esclareceu Nery.
A psicóloga destaca que o cumprimento de normas precisa ser ensinado aos pequenos dentro de casa. Pais precisam orientar os filhos para que aprendam a lidar com regras já no ambiente familiar.
“Se eles não conseguem conviver com isso dentro da segurança da família, na presença de seus responsáveis, que são as pessoas que eles deviam confiar, por que eles iriam fazê-lo na escola? Como eles vão se comportar no parquinho, no aniversário do coleguinha ou em outra situação em que não vamos estar por perto? Por isso, o diálogo aberto é muito importante“, alertou.
![Lorena Nery-foto-joao-dejacy](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/05/Lorena-Nery.jpg)
Conflito de gerações
Segundo artigo do professor de educação física e esporte da Universidade de São Paulo (USP), Hugo Tourinho Filho, dentro dos grupos geracionais, as Gerações Z e Alfa (nascidos a partir de 1997) requerem uma educação mais dinâmica, ativa e personalizada pois, com a forte exposição à tecnologia e às telas, são pessoas autônomas e com um potencial maior para inovar e buscar soluções para problemas de forma colaborativa.
Esse protagonismo acaba por entrar em conflito direto com os pais, geralmente da Geração X (nascidos entre 1965 e 1980). Esses vivenciaram outro momento da história como o período da ditadura militar, por exemplo. São pessoas que valorizam o diploma, à capacitação e estabilidade profissional. Além disso, tiveram que se acostumar com a velocidade de informações e modernidades e acompanhar o ritmo, numa constante adaptação.
“É importante que tenhamos um novo olhar sobre a educação familiar. Na nossa época, se valorizava muito a autoridade dos pais que falavam e os filhos tinham que obedecer. E ainda diz ‘no meu tempo, se eu fizesse alguma coisa inadequada, eu era punido severamente. Então, se serviu para mim, vai servir para o meu filho também’. Porém, nós estamos em outra era, em outro ambiente”, argumentou Filho.
“Muitos pais acreditam que podem perder a autoridade se estabelecerem um diálogo com os filhos. Pelo contrário! Seu filho terá liberdade para falar das dificuldades que ele tem e você vai conseguir orientá-los adequadamente. Quanto mais severo e mais grosseiro, mais você limita a conexão. É como se uma parede fosse posta entre vocês”
Lorena Nery, psicóloga
![Tayse-Serrao-joao-dejacy](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/05/Tayse-Serrao.jpg)
Papel do educador
Para a professora Tayse Serrão, que também contribuiu para o debate, as ocorrências de comportamentos violentos de adolescentes nas escolas começaram no período após a pandemia de Covid-19, onde os alunos marcavam pequenas brigas em frente às escolas uns dos outros.
“Naquele momento, eles se sentiam autorizados porque achavam que a escola não poderia intervir. Mas se a briga ocorre em um ambiente próximo, a responsabilidade ainda é da instituição. A partir daí, acionávamos os pais para comparecer na escola. Mais tarde, a gente descobria que os alunos marcavam as brigas pelas redes sociais”, revelou.
A educadora observa que a agitação em crianças e adolescentes aumentou muito nos últimos meses e é imprescindível que pais e professores estejam abertos para falar sobre ansiedade.
“A maior reclamação dos alunos é essa: ‘meu pai não acredita que eu tenho ansiedade’. E aí você percebe que esses adolescentes conhecem as nomenclaturas porque pesquisam. O que eles não têm é informação lapidada de alguém que tenha o cuidado de orientá-lo melhor. Então, do jeito dele, vai buscando, detectando e percebendo que algumas coisas realmente existem. Mas quem é que vai filtrar e tranquilizá-lo?”, indagou.
“O fato é o seguinte: às vezes, a preocupação dos pais é colocar o alimento na mesa porque nenhum pai ou mãe não vai querer ver o filho passando necessidade. Mas aí vai aparecer um outro lugar que vai faltar, que vai ter fome. E essa fome é emocional“, observou.
Ações
Após os ataques seguidos em escolas pelo Brasil e Manaus que chamaram a atenção do país, o Governo do Amazonas criou medidas para inibir atentados na rede pública estadual de ensino. Uma delas foi a implantação do Núcleo de Inteligência e Segurança Escolar (Nise).
Desde a implantação do núcleo, em abril deste ano, com apoio das Forças de Segurança do Estado e da ação de Inteligência, o Nise coibiu mais de 140 ameaças de ataques à escolas. Além disso, identificou e apreendeu 89 adolescentes, na capital e interior, envolvidos na propagação de ameaças de ataques a escolas.