Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O ar nas cidades da Amazônia está mais poluído do que em grandes metrópoles como São Paulo, Nova Iorque e Londres, de acordo com o relatório “Céus Tóxicos”, divulgado nessa terça-feira, 4/11, pelo Greenpeace Internacional. A principal causa apontada é o uso do fogo para abrir novas áreas de pastagem e renovar as já existentes.
O relatório se baseou em medições públicas de qualidade do ar realizadas na Amazônia brasileira e em dados obtidos por monitoramento via satélite. A análise constatou um aumento significativo da poluição atmosférica por partículas em suspensão (PM2,5), com destaque para os registros em Porto Velho (Rondônia) e Lábrea, localizada a 703 quilômetros de Manaus.

Essas áreas estão situadas em regiões próximas a zonas de intensa atividade agropecuária e queimadas florestais. As comunidades que vivem nesses territórios respiram ar perigoso durante vários meses do ano, com níveis de poluentes que superam os das principais cidades do mundo e os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O engenheiro ambiental e sanitarista Alan dos Santos Ferreira, em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, ressalta que o problema das queimadas na Amazônia é, principalmente, causado por ações humanas. Segundo ele, esses incêndios não ocorrem de forma natural e, na maioria das vezes, são provocados intencionalmente e de maneira ilegal.
“Através do Laboratório de Interação Fauna-Floresta da Ufam, a gente tem mapeado e levantado informações e dados in loco dessas áreas, percebendo que as situações mostram que os incêndios florestais têm incidência de ação humana, principalmente proveniente do setor agropecuário, para preparar a terra e adubar o pasto do gado. A gente tem enfrentado também um grande foco nos lixões municipais, que praticamente são os principais combustíveis dos incêndios”, diz ele.
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Efeitos da poluição
O especialista destaca que os impactos mais graves da poluição para a população amazonense estão relacionados às doenças respiratórias, como bronquite, enfisema e câncer de pulmão. Além disso, as queimadas causam danos ambientais severos, prejudicando a regeneração da floresta, a fertilidade do solo e o desenvolvimento de novas plantações.
“As doenças respiratórias que a população sofre estão diretamente relacionadas à demora na dispersão dos poluentes gerados pelos incêndios e queimadas, principalmente os que vêm da queima de resíduos e lixos domésticos. Com isso, os amazonenses acabam expostos a uma carga muito pesada, que afeta intensamente a saúde de todos. Além disso, há o impacto visual e ambiental, com a regeneração da floresta comprometida e os fragmentos florestais sem condições de retomarem a vida útil”, explica ele.
Crise ambiental
O estudo evidencia que uma região antes reconhecida por ter “ar puro” agora enfrenta contaminação intensa pela fumaça das queimadas. Essa poluição não apenas compromete a saúde das populações locais, mas também, por meio do desmatamento, enfraquece a capacidade da floresta de armazenar carbono e regular o regime de chuvas, agravando os riscos climáticos em escala global.
O levantamento confirma que a expansão da agropecuária na Amazônia é a principal causa da crise de poluição do ar associada ao desmatamento. A instituição reforça que a fiscalização ambiental e o controle das queimadas ilegais ainda são frágeis, permitindo que empresas transfiram os custos da poluição para as comunidades e os ecossistemas.

De acordo com o Greenpeace, a implementação de compromissos globais para pôr fim ao desmatamento é urgente, e os responsáveis pelas queimadas ilegais precisam ser efetivamente responsabilizados. A organização ressalta que essa medida é essencial não apenas para proteger as florestas, mas também para preservar a saúde humana e salvaguardar os povos indígenas e comunidades locais.
“O que a gente precisa de mais urgente é estruturar os diferentes tipos de destinação dos resíduos sólidos, com infraestrutura adequada de aterros sanitários nos municípios e no setor agropecuário do estado. A gente precisa fazer isso urgentemente. A COP 30 é uma boa solução para que esses assuntos sejam discutidos”, diz Alan dos Santos.
Agenda da COP30
O combate aos superpoluentes, substâncias tóxicas à natureza e à saúde humana encontradas no ar, está entre as prioridades da agenda que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) levará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
Entre os temas em destaque estão os poluentes climáticos de vida curta (PCVCs), gases com alto poder de aquecimento climático e forte impacto sobre a população. Entre os exemplos estão o metano, o carbono negro e os hidrofluorocarbonetos (HFCs).
O plano, que ainda está em fase inicial de elaboração, está alinhado à Política Nacional de Qualidade do Ar (PNQAr) e à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
“O objetivo do plano é promover ações que contribuam para a redução dos superpoluentes, por meio do fortalecimento da governança, da geração de informações e do estabelecimento de metas para ações integradas sobre as agendas da qualidade do ar e do clima”, explicou o secretário nacional de Meio Ambiente Urbano, Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental, Adalberto Maluf.











