Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O ator, dramaturgo e diretor de cinema e teatro Adanilo Reis da Costa está ganhando destaque no cenário cinematográfico nacional e internacional após viver a experiência no filme “Eureka” indicado ao Festival de Cannes, na França.
Talentoso artista da periferia de Manaus, Adanilo disse ter crescido no bairro da Compensa e sente orgulho de poder, hoje, ser referência no segmento e inspiração para muitos jovens que anseiam por projeção internacional. Ele expressa sua gratidão pela oportunidade de mostrar o talento do artista amazonense no filme “Eureka”.
Na redação do Portal RIOS DE NOTÍCIAS, e em entrevista exclusiva, compartilhou momentos vividos e os desafios enfrentados até chegar ao Festival de Cannes. O longa-metragem, dirigido por Lisandro Alonso, aborda realidades indígenas e a problemática do garimpo na região amazônica.

“O ‘Eureka’ é um filme dirigido por Lisandro Alonso e me traz muito orgulho em vários sentidos. Primeiro, por estar estreando no maior festival de cinema do mundo. Isso é uma coisa a ser celebrada. E depois, por fazer parte de uma obra que conta a realidade de povos originários, indígenas de diferentes contextos e o garimpo ilegal”
Adanilo, ator amazonense


Noites Alienígenas
Além disso, o artista mencionou o reconhecimento nacional do filme “Noites Alienígenas“, que foi aclamado pela crítica e premiado no Festival de Gramado. Realizado em Rio Branco (Acre), o longa teve uma trajetória notável, alcançando o circuito comercial e foi lançado na Netflix.
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Adanilo celebrou o fato de um filme do Norte do país ter obtido sucesso e visibilidade em nível nacional. O longa trata de temas importantes e urgentes, como a violência na periferia, algo que o artista, nascido e criado no bairro da Compensa, em Manaus, conhece de perto.
“Saímos de lá com cinco Kikitos, que é a premiação máxima, de Melhor Filme e Melhor Ator. Eu ganhei uma missão honrosa pelo meu trabalho. São várias alegrias que esse filme tem trazido e eu tenho ressaltado que é muito importante que o filme seja visto por pessoas da Amazônia. Então, estou muito interessado em difundi-lo por aí, e ajudar que comunidades ribeirinhas, comunidades indígenas e a periferia de Manaus possam assistir também. E principalmente, a periferia de Manaus”, desejou Adanilo.

Além desses trabalhos de destaque, Adanilo já atuou em filmes conhecidos como “Marighella“, “Segunda Chamada“, “Cidade Invisível” e “Ricos de Amor 2“. Sua presença também pode ser encontrada em várias produções disponíveis na Netflix. O talento versátil e a capacidade de se envolver em diferentes projetos são evidentes.
“Quanto aos próximos lançamentos, eu fiz o ‘Castanho’, escrito e dirigido por mim e está em fase de finalização. Filmamos na Cachoeira do Castanho, no município de Iranduba, a 31 quilômetros de Manaus. Estamos aguardando uma oportunidade em um festival para estrearmos. Além disso, desenvolvo o roteiro um longa-metragem chamado ‘Omágua Kambeba‘, feito em parceria com indígenas dessa etnia”, revelou.
Além disso, Adanilo está envolvido em outros projetos tanto como ator quanto como diretor. Entre eles, destaca-se sua participação na série “Um Dia Qualquer“, com estreia prevista para o ano que vem na HBO. Ainda, ele já está escalado para o elenco de “O outro Lado do Céu“, dirigido pelo cineasta pernambucano e artista visual, Gabriel Mascaro, que será gravado em Manacapuru, a 100 quilômetros de Manaus.


Valorização de artistas amazônicos
Adanilo ressalta a importância de compreender o lugar da arte no mundo e destacou a marginalização enfrentada pelos artistas, especialmente no ocidente. Segundo ele, ao longo da história, as artes cênicas e teatrais passaram por momentos de valorização, mas sempre estiveram à margem devido à sua natureza contestadora dos sistemas, ditaduras e normas que padronizam a sociedade.
O artista enfatiza a necessidade de reverter essa situação e salienta que tanto a iniciativa pública quanto a privada devem investir nos artistas como forma de valorizar seu trabalho. No contexto específico do Amazonas, ele destaca a importância de valorizar as pessoas que trabalham com arte na região.
“É muito importante e mágico que pessoas do Norte possam estar no circuito teatral e audiovisual, pois precisamos de mais representação nas telas”, afirmou o artista. “A gente precisa se enxergar mais naquele lugar para que, a partir disso, possamos refletir as nossas origens, o nosso futuro, o nosso presente. E possa se identificar com as histórias”, acrescentou.
Adanilo também chama a atenção para a influência da mídia, principalmente da televisão, na forma como as pessoas do Amazonas são educadas. Ele mencionou que, muitas vezes, a visão que se tem da região é distante e baseada em outras localidades, o que reduz a visibilidade dos artistas locais.
“A gente foi criado numa relação muito sudestina, né? A gente acaba tendo uma visão muito de outros lugares e pouco dos nossos lugares. A nossa educação é muito sobre o exterior, sobre os outros. Pouco se fala sobre nossos artistas”, disse.


O ator reforça a importância de valorizar os artistas indígenas e destaca que os povos originários da Amazônia estão intrinsecamente ligados à arte, desde as pinturas corporais até as esculturas, casas e transportes, que são considerados verdadeiras obras de arte. Para ele, há a necessidade de valorizar essa conexão natural com a arte, e destaca que não deve haver uma separação entre a vida e a expressão artística.
“Tudo tem a ver com arte desde sempre na nossa vida, é uma coisa natural. Não tem essa divisão de ‘eu tenho a minha vida e eu sou artista’. É importante valorizar. Se nós, daqui de Manaus, começarmos a atentar mais a isso, acho que a gente vai estar mais preocupado com o fazer artístico e a valorização dos artistas. Esse é um dos caminhos para que as pessoas se sintam mais confortáveis para expandirem o artista que existe dentro de cada um”, pontuou.