Redação Rios
MANAUS (AM) – A megaoperação contra o Comando Vermelho (CV), deflagrada na terça-feira, 28/10, nos complexos do Alemão e da Penha, na zona Norte do Rio de Janeiro, teve entre os presos traficantes oriundos do Amazonas, de acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PC-RJ), durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 29.
De acordo com dados oficiais do Palácio Guanabara, a ação resultou em 119 mortos, 133 presos, 10 menores apreendidos, além da apreensão de 118 armas, sendo 91 fuzis e 14 artefatos explosivos.
O secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, afirmou que 33 dos presos são de outros estados, entre eles Amazonas, Pará, Ceará e Pernambuco.
“Temos bandidos do Amazonas, temos bandidos do Ceará, temos bandidos de Pernambuco, do Pará, e informações de inteligência indicam que líderes criminosos de outros estados estão vindo para o Rio de Janeiro. Eles dão ordens de morte a partir da relativa tranquilidade que têm nesses locais”, declarou Curi.
Criminosos da região Norte
Segundo a PC-RJ, as investigações apontam que muitos dos presos são ligados ao Comando Vermelho e foram para o Rio para se esconder de crimes cometidos em seus estados, mas acabaram atuando no tráfico local.
De acordo com a Polícia Civil do Pará, esses suspeitos são apontados como líderes de organizações criminosas que comandavam o tráfico à distância e respondem por crimes como homicídio, roubo, tráfico de drogas e associação criminosa. A corporação informou que colaborou com a operação por meio de troca de informações de inteligência com as forças de segurança do Rio.
Amazonas como rota estratégica do tráfico
Um relatório internacional da rede investigativa Amazon Underworld revelou que Manaus e Tabatinga, no Amazonas, se consolidaram como pontos estratégicos nas rotas do tráfico de drogas na Amazônia. O estudo “A Amazônia sob ataque – Mapeando o crime na maior floresta tropical do mundo” mostra que a capital amazonense é utilizada como rota fluvial essencial para o escoamento da cocaína produzida na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
Segundo o documento, as drogas entram no Brasil pelo Rio Solimões, passam por Manaus e seguem pelo Rio Amazonas até os portos do Pará, de onde parte da carga é exportada para a Europa e a África. O relatório também aponta a fragilidade do controle portuário como fator que facilita a ação das facções.
Fronteiras amazônicas sob pressão
Especialistas ouvidos pelo Rios de Notícias afirmam que o fortalecimento das organizações criminosas na Amazônia exige políticas públicas permanentes e presença efetiva do Estado nas fronteiras.
Para Vlais Monteiro, mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos, fatores estruturais tornam o controle territorial um desafio constante.
“A vastidão territorial, os rios navegáveis e as pistas clandestinas criam múltiplas rotas — legais e ilegais — que facilitam o trânsito de drogas, ouro e pessoas, dificultando a vigilância e o controle do Estado”, explicou.
O ex-secretário de Segurança do Amazonas, coronel Amadeu Soares, reforça que o estado é geograficamente estratégico, mas sofre com a ausência de estrutura e orçamento para fiscalização eficaz.
“Mesmo com improvisos, não há eficiência por falta de planejamento e investimento. Nessa omissão, o crime se estabelece, usando os rios Solimões e Amazonas como vias de acesso aos grandes centros do Brasil e até à Europa, Ásia e África”, afirmou.
*Com informações da Agência Estado











