Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Há duas décadas, a internet disparou como uma força revolucionária, transformando o mundo tecnológico e redefinindo a forma como as pessoas se comunicam e acessam informações. Desde então, o mundo tem testemunhado uma evolução frenética das mídias digitais.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com especialistas para entender mais sobre os impactos benéficos e maléficos da internet nos últimos anos.
O surgimento do World Wide Web (WWW) em 1991 marcou o início dessa transformação, abrindo caminho para a conexão global de servidores e possibilitando o acesso à informação em uma escala sem precedentes. Com a globalização da internet, a comunicação e o transporte entre pessoas, produtos e serviços tornaram-se mais rápidos e eficientes, impulsionando o avanço da tecnologia.
Com a internet, tudo se tornou instantâneo, uma nova forma de se conectar com o mundo. Além de impactar em diversos âmbitos da vida, pois se tornou uma ferramenta de uso diário e indispensável.
Acesso à Internet
Segundo a pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros (TIC domicílios), aproximadamente 60 milhões de domicílios (80%) tinham acesso à Internet em 2022, mantendo-se estável em relação a 2021. Além disso, 71% dos domicílios usavam banda larga fixa como principal tipo de conexão, sendo as conexões por cabo ou fibra ótica (62%) as mais mencionadas.
No mesmo ano, cerca de 149 milhões de pessoas com 10 anos ou mais (81%) eram usuárias de Internet. A pesquisa também revelou que aproximadamente 14% da população nessa faixa etária nunca havia utilizado a Internet, totalizando cerca de 27 milhões de brasileiros.
Avanços
A professora de Gestão da Inovação e Tecnologias Educacionais, Zaida Tavares, destacou que os avanços tecnológicos dos últimos anos têm causado um impacto considerável no cotidiano das pessoas. De acordo com a especialista, a comunicação se tornou mais fácil com aplicativos de mensagens como o WhatsApp e plataformas de videoconferência como o Google Meet e Zoom.
“O principal, com certeza é a otimização do nosso tempo. Tudo pode ser mais fácil e prática por meio do celular, deixar de enfrentar filas é um enorme avanço, alguns anos atrás era necessário esperar bastante tempo em uma fila de lotérica pra pagar uma conta”, explica Tavares.
A professora realça o papel crucial dos educadores na integração da tecnologia em sala de aula e no ensino do uso correto das ferramentas disponíveis na internet.
“A presença cada vez mais intensa da tecnologia em nosso dia a dia é inegável. Não basta apenas inseri-la e considerar o trabalho feito. É preciso um novo olhar na forma de educar, modificar nossas metodologias de ensino e buscar meios de integrar os recursos tecnológicos de forma que nossos alunos possam explorar de maneira inteligente e produtiva“, frisou a docente.
Zaida ressalta outro ponto chave: a importância de não criar resistência à tecnologia, mas sim torná-la uma aliada em todo o processo de busca por conhecimento e crescimento profissional.
Impactos
Com o avanço da internet e consequentemente da tecnologia, também vieram os impactos e problemas. Zaida cita a propagação de informações falsas e a privacidade de dados como pontos de mais atenção.
“A internet facilitou a propagação de informações falsas e enganosas, o que pode afetar negativamente a sociedade e a democracia. É essencial sempre estar verificando a veracidade das informações, utilizar senhas fortes na autenticação de dados, principalmente os bancários, estar sempre em alerta a possíveis golpes e fraudes na internet e evitar o compartilhamento de dados sensíveis. Um banco, por exemplo, nunca vai te mandar uma mensagem pedindo confirmação dos seus dados. É sempre importante frisar, pois muitas pessoas já sofreram esse tipo de ataque, ou seja, é necessário sempre falar e alertar sobre esses riscos”, destacou Tavares.
Segundo o advogado especializado em direito digital, Aldo Evangelista, a internet é amplamente utilizada, abrangendo desde aspectos benéficos até nocivos, e, por isso, necessita de regulamentação.
“Atualmente, há uma necessidade de regulamentação devido ao amplo uso das redes sociais digitais pela população, em diversas formas, seja para comunicação simples, transações de e-commerce, relações de trabalho ou marketing de conteúdo. As pessoas utilizam as redes sociais digitais de várias maneiras. Estou me referindo ao uso benéfico, mas também há aqueles que empregam a tecnologia digital de maneira prejudicial e nociva”, disse Aldo.
Crimes Cibernéticos
Com o avanço da tecnologia, as formas de aplicar golpes e enganar pessoas também mudaram. Muitos se utilizaram das facilidades que a internet proporciona para elaborar novos métodos e cometer crimes cibernéticos.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), em 2024, no Amazonas foram registrados 937 casos de crimes cibernéticos em janeiro e 921 em fevereiro, totalizando 1.858. Na capital, os meses de janeiro e fevereiro registraram 1.555 casos, sendo 787 em janeiro e em fevereiro 768.
“Devido ao grande avanço tecnológico e o aumento da conectividade, se torna muito mais fácil os ataques cibernéticos, fraudes online e o roubo de dados também. Além disso a veracidade das informações que coletamos também é uma grande questão a ser observada”, observou Zaida.
Inteligência artificial
A inteligência Artificial também é um ponto de debate ao se falar do avanço da internet. A ascensão da inteligência artificial (IA) se tornou um ponto central de discussão. O ChatGPT e outros bots são exemplos proeminentes desse desenvolvimento, mas atualmente a aplicação de IA vai além, abrangendo a criação de imagens, vídeos, áudios e muito mais, o que facilita a criação de conteúdos falsos.
“Hoje se fala muito da inteligência artificial, que é um exemplo que há o uso benéfico, mas também há o uso nocivo, maléfico por parte de algumas pessoas. Eu sempre cito o exemplo do avião em relação ao criador Santos Dumont, que quando ele criou o avião, foi pensando justamente em desenvolver a pesquisa, a ciência, um bem pela humanidade. Em nenhum momento ele pensou em jogar bomba atômica”, disse Aldo Evangelista.
O especialista ressalta a importância dos algoritmos por trás das IA, que podem ser direcionados para propósitos negativos, como disseminação de discurso de ódio e práticas criminosas.
“Em relação ao uso nocivo, há várias modalidades, tanto essa questão do discurso de ódio, misógino, racista, por parte de algumas pessoas, quanto para outros crimes, e alguns algoritmos são direcionados nesse sentido, inclusive os chatbots. Por isso eu retorno ao PL, que é justamente para dar transparência em tudo isso, porque a gente usa as redes sociais digitais, mas as pessoas não têm noção da linguagem de máquina, acha que é apenas essa tela bonitinha que a gente vê”, destacou Evangelista.
Ele argumenta que o Projeto de Lei das Fake News poderia contribuir para trazer transparência a esses aspectos, pois muitos usuários não compreendem a linguagem de máquina e os algoritmos por trás das redes sociais digitais.
Regulamentação das redes
O especialista enfatiza a necessidade de uma regulação mais específica para combater o uso nocivo das redes sociais digitais. Segundo ele, é fundamental a implementação de uma lei específica que aborde os desafios desse ambiente virtual.
“Apesar de já possuirmos diretrizes na Constituição Federal que podem ser aplicadas ao mundo digital, como o Marco Civil da Internet de 2014, é necessário uma legislação mais detalhada para lidar com os desafios específicos das redes sociais digitais”, ressalta o advogado.
Sobre a denominação popular do PL das Fake News, Aldo esclarece que se trata de um equívoco. “Chamar essa legislação de ‘PL das Fake News’ é impreciso e pode levar à interpretação errônea de que se trata de uma tentativa de censurar a liberdade de expressão”, explica. “Na verdade, o projeto busca estabelecer a Lei Brasileira de Liberdade e Responsabilidade Transparência na Internet, seguindo os mesmos fundamentos do Marco Civil da Internet, que são a liberdade de expressão e de imprensa”, aponta.
De acordo com o advogado, é importante compreender que a proposta legislativa não tem como objetivo restringir a liberdade de expressão, mas sim garantir um ambiente online mais seguro e transparente para todos os usuários.