Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Nos últimos anos, a prática do remo no Amazonas tem enfrentado desafios significativos que afetam sua posição como um esporte de destaque. Com um grande potencial por ser banhado por grandes rios, o desenvolvimento da modalidade no Estado enfrenta um panorama desafiador.
Entre os anos de 2001 e 2005, o remo no Amazonas atingiu seu auge, sendo considerado uma das maiores potências nacionais. No entanto, ao longo dos anos, esse entusiasmo esmoreceu devido à perda de incentivos e ao alto custo associado à prática do esporte, especialmente em relação aos barcos de alto valor.
A Federação Amazonense de Remo (FAR), em certo momento, chegou a permanecer inativa. No entanto, foi reativada, oferecendo uma nova chance para o esporte no Estado. A diretora técnica da federação, Miriam Martins, ressalta que a entidade enfrenta um grande desafio para consolidar o esporte entre os jovens.
“A federação atualmente conta apenas com a equipe master que são pessoas que competem a partir de 27 anos de idade e enquanto tiver vida pode competir. Estamos sem equipe de base, que é a equipe júnior sub-23 e sênior”, disse Miriam.
Atualmente a federação conta com duas turmas que são os alunos da escolinha de remo, que são todos master, sendo cerca de 25 alunos ativos. Há também outros alunos sazonais, que praticam quando o rio sobe e melhora as condições para a prática do esporte, com turmas de 70 a 80 pessoas.
O remo
O esporte é conhecido por ser praticado em barcos estreitos, onde os atletas se sentam sob os bancos dos barcos de costas para a chegada. Utilizam seus braços, troncos e pernas para mover o barco o mais rápido que puderem. O remo pode ser praticado em diversas categorias, como uma, duas, quatro ou oito pessoas.
Os nomes dos barcos indicam o tipo de embarcação e o número de remadores: Skiff simples (1x), Skiff duplo (2x) e Skiff quádruplo (4x). Nos barcos de remo simples, também chamados de sweep, tem-se apenas um remo por atleta, que utiliza as duas mãos para segurá-lo.
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Falta de investimento
A ausência de equipes de base, representa uma lacuna crítica no desenvolvimento do remo no Amazonas. Sem uma equipe de base, não há como competir e levar grandes nomes para fora do Estado, podendo apenas competir com a equipe master.
Mirian ressalta que para revitalizar o remo no Amazonas, é essencial buscar investimentos, parcerias e programas de desenvolvimento que tornem o esporte mais acessível para jovens atletas.
“Atualmente não tem nenhum atleta se destacando e para se destacar nos próximos dois anos, pois desde que houve a última reforma da Ponta Negra nós não tivemos mais projetos que fomentassem uma equipe de base porque a gente sabe que para formar um atleta, independente do esporte você precisa de investimento, e esse investimento vindo só da federação ou só do atleta, da família do atleta ainda não é suficiente”, destaca a diretora técnica.
Restaurar a presença de equipes de base e proporcionar oportunidades de treinamento e competição é fundamental para que o Amazonas retome seu lugar como uma potência no remo nacional. A superação desses desafios pode garantir que a modalidade, com tanto potencial, possa florescer novamente nas águas da região amazônica.
“É preciso apoio financeiro tanto de empresas privadas, quanto da prefeitura, do governo do estado e até incentivos fiscais federais que vão contribuir para que a gente possa trazer uma grande quantidade de crianças e jovens que possam praticar e com o tempo enxergar quem tem potencial pra nível estadual, nacional e quem sabe mundial”, disse Miriam.
A reportagem entrou em contato com as secretarias de esporte municipal e estadual sobre investimento para a prática do remo no Estado, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.
Custos
A diretora técnica da Federação de Remo, destaca a importância desses investimentos ao mencionar que alguns atletas do Amazonas já alcançaram destaque em competições mas isso ocorreu por meio de projetos que ofereceram o suporte necessário. A falta de incentivos pode prejudicar a qualidade do treinamento e a permanência dos atletas, afetando a oferta de recursos essenciais.
“Aqui na federação de remo do Amazonas, nós já tivemos atletas que fizeram parte tanto da seleção brasileira de remo a nível nacional, quanto para competições internacionais. Mas, eram atletas que vieram de projetos, porque quando tem incentivo a gente consegue ofertar uma qualidade melhor para que possa ficar. Porque se o atleta vem treinar todos os dias, cinco e seis da manhã, não tem café da manhã para tomar, não tem um fisioterapeuta para acompanhar, um barco e equipamento ideal para ele treinar, é inviável”, disse Miriam.
A disponibilidade de investimentos desempenha um papel crucial na viabilização do remo como esporte acessível e competitivo no Amazonas. Além de fomentar o esporte em si, esses investimentos são essenciais para a aquisição de equipamentos de alto custo, que muitas vezes estão fora do alcance de aspirantes a remadores. Os equipamentos necessários se tornam um desafio financeiro para quem gostaria de levar o esporte de maneira profissional.
Os custos para manter uma equipe e prepará-los para campeonatos são enormes, os barcos e equipamentos para a prática do esporte são de alto valor, Além disso, tem os custos com viagens para seletivas, hospedagem, inscrição, aluguel de barco em outros estados e outros.
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Benefícios
É comum as pessoas acreditarem que essa atividade esportiva foca apenas na parte posterior do corpo. No entanto, a verdade é que essa prática exige um esforço significativo das pernas e envolve diversos grupos musculares.
Além disso, seus benefícios são abrangentes, proporcionando melhorias notáveis no condicionamento cardiovascular, no fortalecimento muscular e na resistência física. É um esporte que trabalha o corpo de forma completa, muito além do que muitos imaginam.
“O remo é uma das poucas praticas que você vai movimentar todo o seu corpo, todo o conjunto de musculatura. Ele utiliza três movimentos, o de braço, o tronco e as pernas em conjunto. Então a prática do remo é interessante para pessoas com mais idade também, que não pode sofrer impacto nas articulações, pois o remo não causa isso. Serve também para pessoas que tem lesões, como tendão rompido, hérnia de disco e outros”, explica Miriam.
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O contato com a natureza é frequentemente destacado pelos alunos como um dos principais benefícios dessa prática esportiva.
“A gente tem um grande potencial hídrico, um rio com uma densidade mais pesada que contribui para formar atletas mais potentes desde a base. Quando esse atleta chegar uma seletiva nacional ele vai se destacar porque nosso rio tem essa densidade natural mais pesada que vai facilitar quem vai fazer uma seletiva no Rio de Janeiro, por exemplo, na lagoa Rodrigo de Freitas, pois a água é mais leve”, destacou a aluna de remo, Kátia Santos.
Além disso, o remo oferece benefícios psicológicos notáveis. “O contato com a natureza libera hormônios associados à felicidade, promovendo uma sensação de tranquilidade e leveza. Muitos alunos que enfrentam problemas como depressão ou altos níveis de estresse encontram no remo uma forma eficaz de relaxamento“. Assim, essa prática esportiva oferece uma gama abrangente de benefícios, tanto físicos quanto psicológicos, tornando-se uma escolha valiosa para aqueles que a adotam.
Desafios
A prática desse esporte é repleta de desafios, especialmente quando se trata de enfrentar as subidas e descidas do rio. Para aqueles que o praticam sazonalmente, a espera ansiosa pela cheia do rio é uma estratégia fundamental. Afinal, durante o período de seca, a praia se estende e se distancia das águas, tornando a locomoção do barco mais complicada.
“Quanto mais o rio desce maior a extensão de praia, e aqui não tem uma rampa onde a gente possa colocar os barcos em um carrinho para poder facilitar essa descida e subida dos barcos, temos que carregar no ombro”, explica Miriam.
Dessa forma, os alunos precisam descer e subir com os barcos nos ombros, quanto mais seco o rico, mais extensa a praia fica.
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Funcionamento
A Federação de Remo funciona de segunda a sábado, atendendo à comunidade com a flexibilidade de agendar de uma a quatro sessões por semana. Os horários disponíveis são das 6h às 7h da manhã e das 7h às 8h, evitando a exposição excessiva ao sol.
Interessados podem agendar uma aula experimental com duração de uma hora por um valor de R$ 30 reais.
A mensalidade varia conforme a quantidade de aulas que o aluno escolher por mês, e o valor ajuda a manter a federação ativa.
Para mais informações e agendamentos, é possível entrar em contato com a Federação de Remo do Amazonas através do telefone (92) 98428-0201 ou seguir @remoamazonas nas redes sociais.