Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Na tarde dessa sexta-feira, 29/3, uma adolescente, de 14 anos, ficou traumatizada com a abordagem feita, inesperadamente, por policiais militares que entraram na casa dela, na Compensa, zona Oeste de Manaus, sem mandado judicial. A jovem estava sozinha quando as autoridades chegaram e deram ordem para ela retirar as câmeras do local.
A abordagem dos PMs foi registrada pelas duas câmeras de vigilância que ficam na frente de casa. O vídeo mostra o primeiro policial mandando a menina retirar as câmeras em até 24 horas, caso contrário, voltaria e prenderia ‘todo mundo’. Em seguida, os outros dois policiais também entram na residência da adolescente.
Neste sábado, 30/3, o Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com a avó da menina, que pediu para divulgar somente as iniciais de seu nome, G.A.M, por medo de retaliações.
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“Eu resolvi colocar as câmeras porque essa área daqui é vermelha, além de que ficam duas motos de familiares estacionadas na frente de casa. É para nossa segurança mesmo, não é pra filmar ninguém que passa na rua não.”
Garantiu a avó da vítima.
G.A.M, de 65 anos, mora na Compensa há 20 anos e contou que foi ao mercadinho quando ocorreu toda a ação dos PMs.
“Quando saí de casa, uns quinze minutos antes, vi uma viatura da polícia na rua, mas como não devo nada, não liguei. Quando voltei do mercadinho e cheguei em casa, encontrei a minha neta desesperada porque os policiais entraram aqui humilhando ela. Falando coisas horríveis de baixo calão, dizendo que: ou a gente tirava as câmeras, ou iam prender todo mundo, sendo que em casa só mora eu e minha neta. Disseram que estavam com o celular na mão e a gente dava imagem das câmeras pra vagabundo”, relata a aposentada.
A dona da casa contou que o filho dela, pai da vítima, morreu em 2017 e era envolvido com o trafico.
“A polícia de vez em quando tá por aqui. Outro dia vieram até procurar ele (filho morto) aqui. Ontem fiquei desesperada e tô até agora, porque mora só eu e ela em casa, uma cuida da outra. Estou em choque, sabe? Chorando até agora pelas coisas que o policial falou pra minha neta. Ela tá traumatizada, não quer mais nem sair de casa, quer embora daqui por causa disso.” desabafou.
“Ela disse: mamãe, parece que nós vamos viver tudo isso de novo, que nós vivemos com o papai. Então eu fico com o coração na mão de ver o estado que ela tá . Ela ainda não pode falar sobre a abordagem que se treme toda.” revelou a moradora da Compensa.
A avó ressaltou, ainda, que a adolescente não sabia de nada na hora da abordagem dos PMs, visto que ela não tem acesso às imagens das câmeras. Apenas a adulta tem. A mulher explicou que vende frango assado para sobreviver com a neta e, geralmente, uma filha dela que mora em uma comunidade vai ajudá-la no final de semana.
Violação de domicílio
Wanderlucio Vasconcelos, advogado de G.A.M, explicou ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS que os policiais realizaram violação de domicílio de forma afrontosa e abusiva, conforme as imagens do vídeo.
“A casa é um asilo inviolável do indivíduo. Ninguém pode entrar nela sem o consentimento do morador. Isso está descrito na Constituição, no seu artigo 5º, inciso 11, que resguarda algumas situações a qual poderão fazer isso. A inviolabilidade da morada é uma expressão de direito, a intimidade do indivíduo, que espera ter o espaço preservado contra violações indiscriminadas e arbitrárias”, ressaltou o advogado criminalista.
De acordo com Vasconcelos, será registrado um Boletim de Ocorrência (BO).
“Vamos encaminhar o caso ao Ministério Público do Amazonas (MPAM), em seguida, outras medidas judiciais vão ser tomadas como o acionamento da corregedoria da Polícia Militar”
Explicou o advogado.