Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Pesquisadores do Instituto Mamirauá, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Informações (MCTI), temem pela extinção dos botos da Amazônia, uma vez que a prolongada estiagem possa levar à morte das espécies. De acordo com os estudiosos, o boto-cor-de-rosa e o tucuxi reproduzem-se lentamente. Caso a situação persista, elas podem atingir um ponto de não retorno, tornando as mudanças irreversíveis e colocando-as em perigo iminente de extinção.
O alerta foi acionado após carcaças de botos começaram a ser avistadas pelos ribeirinhos no último sábado, 23/9, no Lago de Tefé, a 522 quilômetros de Manaus, um dos mais afetadas pela estiagem deste ano, que já é considerada a segunda maior seca na Amazônia em 13 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
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Foram vistos pelo menos 110 botos mortos de diferentes espécies. Somente em um dia, mais de 70 animais mortos foram contados. O Lago de Tefé fica a pouco mais de oito quilômetros da confluência com o rio Solimões.
Os pesquisadores apontam que a seca intensa na região pode ter desencadeado a tragédia ambiental. Segundo a instituição, organizações não-governamentais e agências do governo federal preparam uma operação de ajuda para remover os animais das áreas mais secas e tentar evitar mais mortes.
O Instituto Mamirauá também investiga as possíveis causas. Uma das suspeitas é o aumento da temperatura da água no Lago de Tefé, que subiu de uma média histórica de 32°C para alarmantes 40°C em uma profundidade de três metros, afetando a população de botos. Os animais têm demonstrado comportamento atípico, como dificuldades em mergulhar e movimentação errática.
Outra hipótese investigada pelos pesquisadores é a possibilidade de algum agente infeccioso. Amostras de tecidos dos botos foram coletadas para análises em laboratórios, na esperança de identificar as reais causas.
Diante da situação de mortandade, nesta sexta-feira, 29/9, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) anunciou uma operação de resgate para os botos encalhados em bancos de areia ou áreas rasas.
Seca na Amazônia
A seca na Amazônia é resultado da combinação de dois fenômenos: o El Niño e o aquecimento das águas do Oceano Atlântico Tropical Norte. O El Niño aquece as águas do Oceano Pacífico, afetando o clima na Amazônia.
No entanto, especialistas também apontam que o avanço das mudanças climáticas causadas pela ação humana contribui para o aumento da frequência de eventos climáticos extremos na Amazônia, como a seca.