Caio Silva – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que boa parte dos trabalhadores de Manaus enfrenta longos deslocamentos até chegar ao trabalho.
Segundo o levantamento, 32% das pessoas gastam entre 30 minutos e uma hora no trajeto, enquanto 20% levam de uma a duas horas para se deslocar diariamente.
Na capital amazonense, apenas 5% conseguem chegar ao trabalho em até cinco minutos, e 2% afirmaram gastar de duas a quatro horas no percurso diário. O levantamento também aponta que o Amazonas é o estado com maior proporção de pessoas que trabalham no mesmo município onde residem (98,1%).
Especialista aponta crise no transporte coletivo
Para o especialista em trânsito Manoel Paiva, o transporte coletivo no Brasil apresenta maiores tempos de deslocamento justamente por percorrer longas distâncias, característica própria do sistema. Ele destaca ainda o aumento do uso de veículos individuais e por aplicativos, reflexo direto da crise no transporte público.
“Esses resultados mostram um reflexo da crise que o transporte público enfrenta. Após a pandemia, houve uma perda de mais de 30% dos usuários pagantes em Manaus, o que impulsionou o aumento do transporte individual, por aplicativos, automóveis e motocicletas, ultrapassando a média nacional”, afirmou.

Segundo Paiva, o crescimento desse tipo de transporte evidencia a falta de qualidade, confiabilidade e segurança do sistema coletivo urbano. Ele defende que é preciso investir em medidas que tornem o transporte público mais eficiente.
“O que melhora a qualidade do transporte são medidas operacionais que priorizem a velocidade comercial, o percurso e o tempo de espera dos usuários”, explica.
Manaus e o desafio da mobilidade
No caso de Manaus, o especialista aponta que o sistema de transporte coletivo é o mais prejudicado, já que a cidade não oferece condições adequadas para esse tipo de deslocamento.
“É necessário implantar faixas e vias exclusivas para os ônibus, de modo a reduzir o tempo de espera e o tempo total do percurso”, destaca.
Paiva também sugere que a capital priorize a operação do transporte coletivo com soluções viáveis e de baixo custo. “A adoção de faixas exclusivas, aliada a uma sinalização semafórica inteligente, pode agilizar a operação diária do transporte público”, conclui.
Usuários relatam rotina exaustiva
A empreendedora e estudante de Jornalismo Suellem Lima, 33, conta que a rotina é exaustiva, especialmente por depender do transporte público.
“Tento fazer tudo cronometrado para dar conta das metas do dia. Mesmo com faixas rápidas para ônibus, muitos motoristas não respeitam. Em dias de chuva, o trânsito fica completamente parado”, relata.
Suellem afirma que as constantes inundações em Manaus agravam os transtornos. “Quando a cidade alaga, os ônibus param e o trânsito trava completamente. Já cheguei várias vezes atrasada na faculdade, mesmo saindo bem cedo”, lamenta.

A secretária e estudante de Jornalismo Eduarda Lopes, 19, também enfrenta dificuldades diárias.
“Meu expediente começa às 8h, mas preciso sair de casa às 6h15. Mesmo assim, chego em cima da hora. Os ônibus estão sempre superlotados, as pessoas se empurram para entrar e já vi gente cair na confusão. É muito desgastante”, conta.


Já Damarisney Almeida, 19, trabalhadora do setor de testes de uma empresa de telefonia, diz que o trânsito intenso aumenta sua ansiedade e sensação de insegurança.
“Às vezes venho de carro, e mesmo assim demoro 40 a 50 minutos. No horário de pico, o trânsito é pesado, principalmente na volta pra casa”, afirma.











