Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O rock é uma das formas mais ricas e abrangentes da manifestação individual ou coletiva. A linguagem subversiva muitas vezes é latente nas letras, nas atitudes no palco, em gírias entre os “brothers”, no estilo de vestir e ao lidar com as situações cotidianas. Às vezes, é tido como violento, anárquico, porém foi preciso romper barreiras para ser ouvido e notado como expressão cultural.
A visão, muitas vezes, marginalizada deste estilo musical e a condição humana fez com que brotasse essa identidade explosiva, por meio de seu próprio estilo onde cada artista manauara produz o rock autoral, uma forma de expressar o ‘grito da alma’ contra a opressão do sistema.
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O rock autoral é uma forma de mostrar a arte, os pensamentos, a vivência de um momento marcante bom ou não, além da própria história de vida de músico. Não se trata somente de cantarolar o que as bandas de rock nacionais e internacionais consolidaram em cada época, o que seria o chamado ‘cover’, mas de serem ouvidos pelo público e amados pelos fãs com composições autorais.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com os vocalistas de duas bandas autorais de Manaus, Frank Roosevelt (Fuzzy) e Railson Rocha (Suffragium), sobre o cenário autoral em alusão ao Dia Mundial do Rock, celebrado no dia 13 de julho.
“Na cidade há uma certa “rivalidade” entre o estilo cover e o autoral. Manaus tem artistas criativos, maduros quanto ao som que levam ao público em suas obras, ansiosos para conquistar cada vez mais seus espaços nesta longa estrada musical” , diz o vocalista da Fuzzy.


Desafios
Para Frank Roosevelt, no aspecto de quantidade e qualidade, há muitas bandas boas, porém, o que se procura e espera é mais profissionalização. “Tanto de quem toca quanto de quem produz eventos. A tecnologia tem sido aliada na busca pela independência de artistas no que diz respeito a produção e gravação de seus conteúdos audiovisuais (cd’s, ep’s, merchandising). Mesmo assim, é necessário a busca da orientação quando se tem esse material pronto”, pontua.
Compositor de letras do rock autoral, o vocalista da Fuzzy se preocupa com a desvalorização dos roqueiros de Manaus por parte dos órgãos culturais. “Deixam no esquecimento artistas essenciais da nossa cidade, a burocratização em viabilizar recursos para a difusão dos trabalhos autorais e falta de espaço para a divulgação dos mesmos inquieta, por isso, o rock autoral manauara é em sua maioria underground. Somos nós por nós mesmos”, revela.
Já para Railson Rocha, de 48 anos, vocalista da Suffragium, há diversos desafios. “A falta de público é a maior. Claro que isso é consequência da baixa valorização. O poder público não chama quem produz aqui para participar dos grandes eventos realizados na capital, dando vez e voz apenas aos artistas renomados do Sul e Sudeste, e isso não é um “mimimi” como falam por aí, é apenas a realidade”, conta.
Para o vocalista da Suffragium, tem muita banda que produz bastante coisa boa e não deixa nada a desejar em relação ao cenário nacional, contudo, hoje é necessário bem mais que música boa e bem feita.
“O público se tornou bem mais exigente. Há necessidade de profissionalizar tudo. Fotos, clipes, flyers, páginas, divulgação, etc. Não digo que as bandas de Manaus não façam isso, de se profissionalizar, ter um excelente portfólio. Temos que cuidar do jardim primeiro para que o beija flor possa chegar, gostar e ficar. Todos que fazem arte querem ser vistos, ouvidos, etc. então que seja da forma mais profissional possível”, pondera.
Fuzzy
Em 2024 a Fuzzy completa 8 ano e está em processo de gravação do 2º EP (álbum com faixas que duram no total menos de 30 minutos). A banda autoral participou pela segunda vez do Festival de Jazz & Blues de Tepequém , em Roraima, Norte do país. A banda resolveu priorizar a gravação do 2º EP, por isso, no dia Mundial do Rock, alguns integrantes vão participar tocando em outros projetos na cidade.
“É sempre uma experiência maravilhosa para gente. Mas existe um plano para, ao fim da gravação, fazermos uma festa de lançamento deste EP, também englobando o primeiro, intitulado “Uma dose de veneno”, além de um clipe”, estamos ansiosos“, diz o vocalista.
Frank Roosevelt lembra que o rock autoral sempre esteve em sua vida. A formação e experiência dele é violão/guitarra, porém por necessidade de outras bandas locais, precisou assumir o contra-baixo. Foi assim que ingressou na banda Nicotines, onde teve experiências essenciais tocando em vários lugares, e até mesmo internacionalmente.
“Na banda Sentapua tive duas das maiores e sensacionais experiências: tocar no 3º Festival Amazonas de Rock, e no maravilhoso Teatro Amazonas. Todas essas experiências guardo com carinho, pois foi a partir delas que me encorajaram a formar junto com meu amigo Gustavo Kawati a banda Fuzzy. Agora, juntamente com Augusto Nunes, seguimos nesse imenso e misterioso rio de sonoridade autoral até hoje”, explica.

Suffragium
A Banda Suffragium, começou em 2014, realizando cover de Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Kid Abelha, mas logo veio o rock pop autoral. No inicio, tocava próximo do estilo punk, um som cru, mas com o passar do tempo ajustou as composições de acordo com as influências artísticas musicais de cada membro.
Desta forma, atualmente, a Suffragium está em processo de gravação do 3° álbum intitulado Nuas e Cruas, com lançamento previsto para dezembro deste ano.
Os roqueiros tem suas influências e inspirações por outros artistas cheios de “rebeldia” na ânsia de querer serem ouvidos e, por meio do rock autoral combatem a realidade e defendem a liberdade. “No cenário autoral gosto da minha, claro (rsrs), mas destaco Espantalho, Tudo Pelos Ares, Zona Tribal e Platinados, Fuzzy, Underflow. Gosto delas também”, diz Railson Rocha.