Da Redação
BRASÍLIA(DF) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar o retorno do Brasil à União de Nações Sul-americanas (Unasul), conforme fontes do governo. Assim que completar 100 dias de gestão, o Governo Federal vai anular o decreto assinado pelo governo Jair Bolsonaro, que determinou a saída do país do bloco, em 15 de abril de 2019.
Perguntado sobre o assunto, o assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, limitou-se a dizer que o Brasil buscará “fazer voltar uma realidade que nunca deveria ter sido interrompida”.
Amorim não quis ofuscar o anúncio de Lula, para o qual o Itamaraty vem trabalhando a todo vapor. Segundo fontes, os convites aos chefes de Estado sul-americanos ainda não foram enviados, mas a ideia é realizar a cúpula na última semana de maio. Serão convidados todos os presidentes da região, entre eles o venezuelano Nicolás Maduro, com quem o Brasil quer discutir como será paga uma dívida de cerca de US$ 1 bilhão da Venezuela com o país.
Consultado sobre a iniciativa, o Itamaraty não respondeu. Mas fontes diplomáticas confirmaram que, nas últimas semanas, o trabalho de análise da situação da Unasul foi intenso. O Brasil entrou formalmente para a Unasul em 2011, quando o tratado internacional de adesão ao bloco, que chegou a estar integrado por 12 países da região, foi aprovado na Câmara e no Senado.
Saída do Bloco
Em 2019, o governo Bolsonaro aprovou a saída do país por decreto presidencial, sem passar pelo Congresso. O anterior governo era contrário à presença do Brasil num bloco que considerava um projeto ideológico da esquerda latino-americana. Bolsonaro também retirou o Brasil da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). Antes de assumir, Lula prometeu que o Brasil retornaria tanto à Unasul como à Celac.
Os únicos países que não saíram do bloco foram Bolívia, Suriname, Guiana, Peru e Venezuela. A Argentina acaba de anunciar sua volta, em plena campanha eleitoral para a sucessão do presidente Alberto Fernández. O Brasil tem feito consultas com os governos de Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai, entre outros, para preparar o terreno para a cúpula presidencial.
Nova Unasul

Existem ainda muitas dúvidas, entre elas, o grau de institucionalização que a nova Unasul terá. A antiga sede, em Quito, no Equador, foi desativada. O Brasil quer justamente saber quais são as diferentes posições dos demais países sobre qual deveria ser a estrutura da nova Unasul, que, na visão do governo Lula, deveria iniciar seus trabalhos retomando a cooperação em três áreas fundamentais: saúde, defesa e infraestrutura.
“Existe a vontade política total do presidente Lula, expressada desde a transição”, afirma a embaixadora Gisela Padovan, secretária para América do Sul e Caribe do Itamaraty.
Ela confirmou que “o Brasil quer avançar na cooperação em áreas que funcionaram muito bem no passado, como defesa, saúde e infraestrutura, mas também incorporar novas como mudanças climáticas”.
“Nossa visão é de que a América do Sul unida terá uma força coletiva necessária no mundo multipolar em que vivemos”
Gisela Padovan, embaixadora
A decisão de anular o decreto de Bolsonaro já estaria tomada. A saída do Brasil da Unasul gerou controvérsias porque, ao contrário de outros países como o Chile, por exemplo, essa decisão não passou pelo Congresso.
Agora, para voltar ao bloco, basta anular o decreto de Bolsonaro e enviar uma comunicação aos demais países-membros informando que o Brasil está de volta. Como em 2019 não se passou pelo Congresso, agora tampouco será necessário.
* Com informações do O Globo