Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Movimentos sociais, organizações indígenas e indigenistas da Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) manifestaram repúdio, em carta aberta, divulgada nesta sexta-feira, 19/5, sobre a parceria entre a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a empresa Potássio do Brasil para o avanço da mineração em terras indígenas.
Para a organização, o protocolo assinado pelo reitor da Ufam, Sylvio Puga, e o presidente da mineradora canadense Potássio do Brasil, publicado no Diário Oficial da União (DOU), no dia 27 de março de 2023, reflete o posicionamento da instituição em apoiar atividade mineradora em terras indígenas no município de Autazes, a 111 quilômetros de distância de Manaus.
Nesse sentido, conforme a FAMDDI, a Ufam estaria ferindo princípios históricos da instituição, e “da própria missão institucional que propugna a valorização da interculturalidade como indutora de excelência acadêmica”.
A organização também destacou que a Ufam está inserida no Estado com maior concentração de povos indígenas no país, “o que se constitui em riqueza sociocultural que deve ter por parte da universidade atenção especial na produção das atividades de ensino, da pesquisa e da extensão”.
No documento, a Frente denuncia a Ufam por apoiar o empreendimento em terras indígenas e por se “abster” e “de questionar as estratégias ilegais de pressão sobre as comunidades Mura adotadas pela referida empresa”. Também ressalta que o projeto pode abrir precedentes para a atividade mineradora em outros territórios indígenas.
“Pela função da instituição universidade, em especial, de uma universidade amazônica, os coletivos que compõem a FAMDDI conclamam a direção da Ufam a refletir e rever o seu posicionamento e participação nessa questão”.
Protocolo
![](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/05/Ufam-Potassio-do-Brasil-e1684526743623.jpg)
Em março, na época da assinatura do protocolo, Sylvio Puga afirmou que o projeto da Potássio do Brasil de mineração no município de Autazes seria “estratégico” para o Estado e país.
O protocolo prevê a implementação do Programa Autazes Sustentável (PAS), com o objetivo de implantar ações socioeconômicas e sustentáveis no município para diminuir os impactos ambientais com a extração do fertilizante cloreto de potássio. Também pretende executa pesquisas, ensino e extração por meio do PAS. O protocolo tem validade de cinco anos, e pode ser renovado.
“Estaremos atuando de forma decisiva. O Brasil importa 98% de fertilizantes para seu consumo na agricultura. Toda expectativa em torno da questão social e ambiental será sanada pelo acompanhamento da Ufam, que usará todas as suas competências para tal finalidade”, disse reitor da Ufam, Sylvio Puga.
Impactos ambientais
Conforme o pesquisador da Universidade Federal do Amazonas e biólogo, Lucas Ferrante, os impactos da mineração na fauna e flora da Região são muitos, assim como a contaminação da água.
Isso porque, a atividade mineradora gera desmatamento e uma quantidade significativa de materiais poluentes, os quais são carregados para as águas.
“Então, a contaminação de igarapés, lençóis freáticos e afluentes é muito grande nesse processo”, afirmou Ferrante.
O pesquisador também ressaltou o impacto para as comunidades locais, principalmente, para os povos tradicionais e indígenas que dependem dos recursos da fauna e flora para subsistência.
“Há a inviabilidade do empreendimento porque ele afeta diretamente o modo de vida dessas populações, afetando a caça, a pesca, e até o abastecimento hídrico dessas comunidades”, pontuou.