Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – André Pedrosa, de 50 anos, residente no conjunto Afeam há 25 anos, enviou um vídeo ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS descrevendo os eventos ocorridos após trabalhadores de uma construtora serem soterrados na última terça-feira, 12/3. O desabamento ocorreu em uma área de obra particular no conjunto, localizado na zona Centro-Sul de Manaus. As vítimas, Wigson de Oliveira Matos e Francisco Camilo de Souza, passam bem.
No vídeo, Pedrosa relata que a Defesa Civil interditou a área, que fica acima do barranco que desabou parcialmente, devido a rachaduras que surgiram após o incidente.
“Estou gravando aqui um vídeo para mostrar para vocês o que aconteceu aqui na minha casa, com o desabamento e com aquela obra irregular que tem atrás da minha casa. Estou com a minha casa interditada. A Defesa Civil interditou a área [porque] apareceram algumas rachaduras depois do evento, e pediu que a gente saísse do imóvel por risco”, relatou, preocupado.
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A construção, realizada por uma empresa não identificada, é caracterizada como irregular pelo morador. Ele destaca que a área onde ocorreu o desabamento está no terreno do proprietário, que ao escavar, gerou o desmoronamento. Ele denuncia a falta de regulamentação e segurança na obra.
“O que aconteceu aqui foi uma coisa muito séria. Tínhamos de 3 a 4 metros que desmoronou. Temos hoje aproximadamente um metro e vinte de barranco. O resto é ribanceira, que está desprotegida. Com o início das chuvas, ela pode cair”, contou o morador.
Apesar da gravidade da situação, Pedrosa destaca a falta de responsabilidade por parte do proprietário do terreno, que se recusa a assumir qualquer responsabilidade sobre o incidente. Ele ressalta que toda a responsabilidade está sendo atribuída à construtora, enquanto o terreno é de propriedade do dono.
“Toda hora, tem material sendo descarregado. Então, é uma empresa que tem recurso. A gente já denunciou no Crea/Am (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas) e registrei o meu Boletim de Ocorrência. Ontem [13/3], nós consultamos a empresa e, acredite se quiser, palavras do proprietário, ‘vocês não vão tratar comigo, vocês vão tratar com a construtora porque eu não tenho nada a ver com isso’. Em nenhum momento, ele assumiu a responsabilidade, se predispôs a ajudar. Nada é dele. A obra foi contratada por ele e não quer assumir a responsabilidade”, desabafou Pedrosa.
A situação é descrita como crítica, não apenas pela perda de patrimônio, mas também pela ameaça à vida dos moradores da região. Pedrosa expressa preocupação com o futuro de sua família e menciona a possibilidade de terem que deixar suas residências devido ao risco iminente.
“É um negócio crítico, nós temos uma infraestrutura razoável aqui em casa. Tudo isso está em risco. Não só o patrimônio, mas as vidas que habitam nessa residência: eu, meu filho e minha esposa. Então, nós estamos vendo já a situação, a possibilidade de sair. E para onde iremos? É uma situação complicada, muito complicada!”, ressaltou André, em tom de angústia.
Tragédia evitável
Na última terça-feira, 12/3, um barranco cedeu em uma obra particular, resultando no soterramento de dois trabalhadores.
A equipe do Corpo de Bombeiros resgatou os homens com vida após o incidente. Um deles foi retirado imediatamente e levado para atendimento médico. O segundo, entretanto, ficou completamente soterrado, mas conseguiu manter-se consciente, com a equipe escavando uma abertura para garantir sua respiração.
André Pedrosa já havia denunciado a obra como irregular, destacando a ausência de sinalização e licenças necessárias para sua operação. Junto com outros moradores, ele já havia alertado sobre os riscos envolvidos, incluindo o perigo iminente de deslizamentos de terra. Apesar dos alertas, a obra prosseguiu, resultando no incidente.
No mesmo dia do ocorrido, a Prefeitura de Manaus, por meio do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), confirmou a irregularidade da construção e emitiu uma ordem de embargo e interdição da área.
Uma equipe de fiscalização foi enviada para investigar o incidente e garantir que o proprietário cumpra as medidas necessárias para regularizar a situação.