Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma entrevista concedida pelo vice-prefeito de Manaus, Renato Júnior (Avante), à jornalista Cynthia Blink, causou repercussão nas redes sociais após o gestor reagir de forma ríspida a questionamentos sobre o orçamento municipal.
A situação ocorreu na segunda-feira, 20/10, durante a inauguração de uma quadra poliesportiva no bairro Cidade de Deus, zona Norte da capital.
Durante a entrevista, a jornalista mencionou dados obtidos pela Blink TV que apontam que a Prefeitura de Manaus deve destinar R$ 37 milhões a mais para publicidade do que para políticas voltadas a crianças e adolescentes no orçamento previsto para 2025.
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Resposta evasiva e tom exaltado
Ao ser questionado sobre essa diferença orçamentária, Renato Júnior evitou responder diretamente e justificou os gastos com publicidade como uma forma de garantir o sustento dos profissionais de comunicação:
“O jornalista precisa sustentar sua família. O jornalista é um lutador nesse momento digital. O jornalista não pode depender apenas de veículos de comunicação, Cynthia. Me espantou, é claro, a pergunta dela — indignatória contra a Prefeitura de Manaus e não a favor da categoria dela”, afirmou o vice-prefeito.
Durante a entrevista, o tom da conversa se elevou em diversos momentos. A jornalista insistiu na pergunta, citando uma recomendação do Ministério Público do Amazonas (MPAM) para que a gestão municipal reforce os investimentos em políticas de acolhimento infantil.
Segundo o MPAM, a rede de acolhimento da cidade abriga atualmente 208 crianças e adolescentes, mas tem capacidade para apenas 175 vagas. O órgão considerou insuficiente a previsão de R$ 3 milhões para manutenção dos abrigos — valor inferior ao previsto para publicidade institucional —, e comparou com os investimentos realizados por outros municípios.
Apesar dos dados, o vice-prefeito evitou responder diretamente e afirmou que a atual administração prioriza “obras para as crianças e adolescentes”, como a própria quadra esportiva inaugurada.
“A comunicação, na nossa gestão, é prioridade sim. Por isso estamos pagando a mais”, completou.
Críticas e repercussão
A postura de Renato Júnior foi amplamente criticada nas redes sociais. No vídeo, é possível vê-lo interrompendo a repórter em diversos momentos e até mesmo dizendo: “pare de tremer”, o que foi considerado por internautas como desrespeitoso e intimidador.
O episódio gerou debate sobre a liberdade de imprensa e o tratamento dado por autoridades a questionamentos com base em informações públicas.
Recomendação do MPAM
A recomendação do Ministério Público foi motivada por irregularidades apontadas na análise técnica do orçamento municipal, como a ausência de previsão clara de recursos para políticas voltadas à infância e a dependência excessiva de emendas parlamentares individuais, o que pode comprometer a continuidade de programas sociais.

Entre as principais orientações do MPAM estão:
- Criação de rubricas orçamentárias expressas e suficientes para ações voltadas a crianças e adolescentes;
- Previsão de dotação permanente e estável para o custeio dos serviços de acolhimento;
- Implementação de estrutura técnica para o monitoramento do Orçamento Criança e Adolescente (OCA);
- Fortalecimento da transparência e da participação social, com envolvimento do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e da Câmara Municipal de Manaus (CMM).
A Prefeitura tem um prazo de 15 dias úteis para informar se acatará ou não as recomendações do MPAM. Até o momento, nem o vice-prefeito nem a Prefeitura de Manaus emitiram um posicionamento claro sobre o encaminhamento das medidas.











