Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Saúde mental é um tema que engloba aspectos físicos, psicológicos e sociais, mas muitas vezes é negligenciado ou até marginalizado na sociedade atual. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% das pessoas com condições de transtorno na saúde mental não recebem tratamento adequado.
No Brasil, uma pesquisa do Ministério da Saúde em 2025 revelou que até 15,5% da população pode sofrer de depressão ao menos uma vez ao longo da vida. Nesse contexto, a campanha Janeiro branco, regulamentada em 2023 (Lei nº 14.556), surgiu para promover a conscientização sobre a importância da saúde mental e incentivar o cuidado especializado.

O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com a psicóloga Déborah Pacheco para entender os impactos do cuidado psicológico e terapêutico, além de como reduzir o estigma associado a transtornos mentais.
“Conscientizamos o mundo a respeito das doenças emocionais. Muito se fala sobre doenças físicas, mas a verdade é que tudo começa dentro das emoções. Estudos mostram que, quando não conseguimos lidar bem com as emoções, isso se reflete na forma como nos socializamos e interagimos com as redes sociais e emocionais ao nosso redor”, explicou ela.

Sinais de alerta
Segundo a especialista, os sintomas de ansiedade e depressão geralmente começam com manifestações físicas como a dor estomacal e a acidez.
“O primeiro alerta costuma ser no estômago: dores, acidez estomacal e nervosismo. Isso aumenta os níveis de cortisol, e a pessoa começa a perder o ânimo para sair com os amigos, se torna displicente com as responsabilidades e até descuida do próprio aspecto físico”, detalhou a psicóloga.
A escritora e estudante de jornalismo Camila Vieira já passou por essas situações. Ela enfrentou sintomas como pensamentos violentos e intrusivos, angústia e tristeza antes de ser diagnosticada com depressão.
“Tudo começou em 2022, quando entrei na faculdade. Sentia muito nervosismo e parecia que ia passar mal. A ansiedade vinha em crises que eu não entendia. Eu empurrava com a barriga e seguia em frente, mas sabia que precisava de ajuda. Não queria contar para minha mãe nem para ninguém. Tinha medo de parecer fraca”, relatou ela.


A estudante descreveu os primeiros meses como solitários, até que decidiu buscar ajuda e uma rede de apoio.
“Falar para os amigos era um gatilho, mas eu precisei contar por que estava sumida das redes sociais e mal respondia no whatsapp. Para minha surpresa, tive o apoio dos meus amigos e da minha família. Eles me fizeram sentir amada”, explicou ela.
Inspirada na própria trajetória, ela escreveu o livro “A Vida Preto e Branco com TOC, Ansiedade e Síndrome do Pânico”, narrando as dificuldades de conviver com esses transtornos.
“Quero motivar outras pessoas que enfrentam esses problemas. Quando a gente está no fundo do poço, acha que não tem saída, mas existe. Quero mostrar que há solução, que os dias podem melhorar”, disse Vieira.
Personalidades que enfrentam a doença
Transtornos mentais podem atingir qualquer pessoa, independentemente de classe social ou profissão. Famosos como Lucas Lucco, Selton Mello, Zé Neto, Luísa Sonza e Thiaguinho já falaram abertamente sobre suas batalhas contra a depressão e ansiedade.
“Quando figuras públicas compartilham suas histórias, elas ajudam a quebrar o silêncio. O Lucas Lucco, por exemplo, fala abertamente sobre como se sente, mesmo enfrentando altos e baixos enquanto segue com sua vida”, comentou a psicóloga.

Cuidado e empatia
A psicóloga destaca a importância da empatia e da persistência no cuidado com a saúde mental.
“A vida continua. Precisamos aprender a adaptar nossa realidade e lidar com ela da melhor forma possível. A gente nunca sabe quando vai ser o nosso momento. Eu sempre digo que a nossa saúde mental, ela é um fio bem fininho em que você vai puxando e vai esticando cada vez mais. Uma hora, ele vai estourar se você não cuidar”, concluiu Pacheco.
O janeiro branco reforça a importância de buscar ajuda profissional para questões emocionais. No Amazonas, uma rede de apoio com unidades médicas oferece atendimento para pessoas com depressão, ansiedade e outros transtornos mentais.
Unidades de atendimento psicossocial em Manaus:
- Policlínica Dr. José Antônio da Silva – Monte das Oliveiras.
- Policlínica Ana Barreto – Monte Sião.
- Policlínica Castelo Branco – Parque 10 de Novembro.
- Policlínica Comandante Telles – São José II.
- Policlínica Djalma Batista – Compensa II.
Centro de Valorização da Vida: O CVV oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio de forma gratuita e confidencial, disponível 24 horas por dia. Ligue 188 ou acesse o site oficial.