Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina, no domingo, 19/11, acendeu um alerta para o Brasil, e em particular para a Zona Franca de Manaus (ZFM). Isso porque, Milei já teceu críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso a Argentina estabeleça um rompimento com o Brasil, a ZFM perderia um dos principais destinos de exportação.
No entanto, especialistas e autoridades ouvidas pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS avaliam a possibilidade de ruptura entre os dois países como baixa.
Em 2022, conforme o superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, a Argentina importou cerca de 39% das motocicletas produzidas pela Moto Honda, instalada na ZFM. Logo atrás, a Colômbia foi a segunda maior importadora com 19%, e em terceiro o Chile com 10%.
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Já no acumulado de 2023 até outubro, as exportações de motocicletas da Moto Honda para a Argentina totalizaram 35%.
Relação harmônica deve permanecer
Apesar das declarações negativas de Milei sobre Lula, Bosco Saraiva avalia que o interesse comercial de ambos os países deve se sobressair e impossibilitar um possível rompimento entre Argentina e Brasil. Neste sentido, ele compreende que as boas relações do Brasil com o país vizinho devem se manter.
“Nas próprias declarações do presidente eleito da Argentina ele já disse que essas relações comerciais e de negócio são feitas entre pessoas, entre entidades, entre CNPJ e não entre governos. Portanto nós temos esperança de que seguiremos nas boas relações comerciais com a Argentina”
Bosco Saraiva, superintendente da Suframa
Um dia após a vitória nas urnas, Javier Milei convidou o ex-presidente Jair Bolsonaro para a cerimônia de posse. O convite causou mais um desconforto no governo brasileiro. Milei tomará posse no dia 10 de dezembro, em Buenos Aires.
Na mesma linha argumentativa, o secretário de Desenvolvimento, Indústria e Tecnologia (Sedecti), Serafim Corrêa, também analisa que as relações econômicas entre Brasil e Argentina não devem declinar, mesmo com Milei no comando do país argentino.
Apesar das desavenças ideológicas, ele defende que após as eleições argentinas, as “emoções” devem ser “deixadas de lado”: “Brasil e Argentina têm interesses comuns. Estes, a meu ver, serão preservados”. Também ressaltou que um rompimento entre os dois países seria prejudicial para ambos. No caso da Zona Franca, Argentina deixaria de importar por preços menores.
“Temos na Argentina um parceiro comercial importante. Não creio que haja nenhuma ruptura, pois isso seria ruim para os dois lados. A balança comercial não será afetada, pois a Argentina sairá prejudicada. Se não comprar de nós, vai comprar de quem por preços menores?”
Serafim Corrêa, secretário da Sedecti
Brasil e Argentina
O economista Altamir Cordeiro avalia que hoje a relação da Argentina com a Zona Franca de Manaus é extremamente positiva. Ainda com a forte crise econômica na Argentina, ela é o principal destino das exportações da ZFM em 2023.
“As motocicletas com mais de 125 cilindradas fabricadas no subsetor do Polo de duas rodas do Parque Industrial de Manaus são os principais produtos da pauta de exportação, seguidas de aparelhos e lâmina de barbear, som automotivos e televisores entre outros itens”
Altamir Cordeiro, economista
Em um primeiro momento, o economista não avalia a concretização de uma ruptura da relação comercial entre os países. Ao mesmo tempo, ele defende que é necessário ficar atento às tomadas de decisão do novo governo argentino.
“Acredito numa relação menos passiva pois os conceitos de governança entre o atual presidente do Brasil e o eleito pela Argentina são bastante diferentes. A Argentina deve buscar acordos bilaterais sem a chancela do Mercosul de forma independentes. No entanto, ela precisa do Brasil para conseguir mitigar sua crise. Vamos aguardar os seis primeiros meses do mandato para termos maus segurança no governo argentino”
Altamir Cordeiro, economista