Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Diversas questões presentes no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado nesse domingo, 3/11, trouxeram temáticas que envolvem pessoas, iniciativas, contextos culturais e sociais do estado do Amazonas. Nas redes sociais, diversos amazonenses comentaram sobre sua identificação com a prova.
“Um reconhecimento e tanto, sem contar com a representatividade”, comentou um internauta. “Só deu Amazonas e região Norte como um todo no Enem. Finalmente nosso território sendo reconhecido nacionalmente”, destacou outro. “Teve uma questão que falava sobre linguajar. Muito bom ler questões sobre o Amazonas”, disse um terceiro.
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Na prova de Linguagens e Suas Tecnologias, uma questão desta área trouxe uma reportagem que discute o livro “Amazônes: expressões e termos usados no Amazonas”, e sua relação com uma marca de camisetas local. Já outra questão, trouxe uma reflexão sobre o Festival Folclórico de Parintins, ressaltando a rivalidade entre os bois Caprichoso e Garantido.
A prova destacou também o aplicativo ‘Linklado’, que foi desenvolvido por pesquisadoras e estudantes amazonenses. A iniciativa traz um teclado de línguas indígenas, e surgiu como uma resposta às dificuldades enfrentadas para a escrita dos povos originários em plataformas digitais. Várias outras questões abordaram a Amazônia e as mudanças climáticas.
‘Valorização e visibilidade’
Em entrevista exclusiva ao riosdenoticias.com.br, o professor doutor Sérgio Freire, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), autor do livro ‘Amazonês’, enfatizou que considera a inclusão de temas amazonenses no Enem como um avanço significativo na valorização e visibilidade da cultura do Amazonas no cenário nacional.
“Ao abordar a cultura e as tradições do Amazonas em uma prova nacional como o Enem, eu acho que o Brasil passa a reconhecer de certa forma e a valorizar a riqueza cultural da região. Os Bois de Parintins, por exemplo, representam não apenas uma festa popular, mas são símbolos de identidade e resistência cultural amazônica”, destacou o linguista amazonense.
Para Sérgio Freire, quando estudantes de todas as partes do país se deparam com questões como essas, cria-se uma oportunidade de sensibilização e respeito pela diversidade cultural do Brasil. Ele ressalta que o Exame Nacional do Ensino Médio não serve apenas para avaliar o conhecimento, mas também para promover discussões e reflexões.
“Ao incluir temas do Amazonas, o exame permite que estudantes de regiões distantes compreendam a importância da preservação da cultura amazônica […]. Isso, eu acho que, como consequência, pode promover a empatia, a valorização e até mesmo o interesse de conhecer mais sobre a Amazônia”, comentou o especialista.
Outro efeito importante foi destacado por Sérgio Freire: o combate a estereótipos sobre a região amazônica, que por muitas vezes, é vista apenas sob a ótica de sua floresta e biodiversidade. Apesar de serem fatores importantes da identidade nortista, segundo o linguista, tais visões não refletem a totalidade da riqueza cultural local.
“Incluindo questões sobre linguagem amazonense, suas expressões culturais, o Enem contribui para quebrar esses estereótipos e mostrar ao Brasil que o Amazonas não é apenas uma região rica em recursos naturais, mas também é um território de grande riqueza humana e cultural”, concluiu o professor e escritor amazonense.