Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O presidente Lula da Silva (PT) chegou à metade de seu mandato com apenas 28% das 103 promessas de campanha cumpridas. O levantamento foi feito e divulgado esta semana pelo jornal Folha de São Paulo. No fim de 2023, primeiro ano de governo, o percentual era de 20%.
Ao RIOS DE NOTÍCIAS, parlamentares amazonenses repercutiram o resultado. O deputado federal Capitão Alberto Neto (PL) e o vereador Coronel Rosses (PL) comentaram que o atual governo federal trouxe poucos benefícios ao Amazonas. Já o vereador e ex-deputado federal José Ricardo (PT) disse que o governo Lula avançou muito, principalmente em programas sociais.
As promessas, feitas ao longo dos dois turnos eleitorais, incluem temas como economia, agricultura, educação, saúde e segurança pública, além da organização ministerial. Os dados foram extraídos do programa de governo, propagandas eleitorais, entrevistas e da carta de compromissos de 27 de outubro de 2022.


Bruno Soller, estrategista eleitoral especializado em pesquisas de opinião pública e graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, afirma que o principal problema do governo Lula é a ausência de um projeto real de governo, com promessas para agradar o eleitorado, mas de difícil execução, além guerra ideológica entre direita e esquerda.
“Falta uma agenda real de país. O ‘governo Lula III’ fez muitas promessas que agradavam do ponto de vista eleitoral, mas que eram muito pouco exequíveis. Acredito que esse descolamento de realidade é o maior problema do governo hoje. Em uma guerra de lados, Lula parece estar preso em uma luta ideológica e perdeu o pragmatismo que sempre foi sua marca e que o fez ser adorado por uma porção da população.”
Bruno Soller, estrategista eleitoral especializado em pesquisas de opinião pública
Oposição e situação
O deputado federal Alberto Neto (PL) critica a gestão federal, apontando falta de propostas e projetos efetivos. Ele também cita o aumento de gastos e a influência direta do presidente no crescimento da carga tributária.
“O governo Lula não tem proposta concreta, por isso não consegue fazer nem o básico. O que vemos, dia após dia, é um governo perdido, sem projetos efetivos nas principais áreas que afetam a vida dos brasileiros e que não tem controle, principalmente da economia. Por isso busca, cada vez mais, aumentar impostos, prejudicando quem mais precisa.”
Deputado federal Alberto Neto (PL)

Alberto Neto também destaca falhas na atuação do governo na região amazônica, mencionando promessas não cumpridas em áreas como segurança e preservação ambiental. Ele ainda critica a falta de apoio frente aos eventos climáticos extremos, como cheias e secas, e lamenta a inércia em relação à BR-319.
“Lula prometeu aumentar o combate ao garimpo ilegal, às queimadas e ao desmatamento. O que vemos é justamente o contrário: o Brasil registra o recorde de queimadas durante o governo Lula. O descaso com o Amazonas e a Amazônia é evidente. Nos últimos anos, tivemos secas cada vez mais severas no estado, e o governo não se preparou para auxiliar nossa população. Além disso, temos a BR-319, que não é prioridade para eles. Ou seja, o Governo Federal não tem projeto para o Brasil e muito menos para o Amazonas”, pontuou.
Por outro lado, Zé Ricardo, vereador do PT em Manaus e ex-deputado federal durante o governo de Jair Bolsonaro, questiona os dados da pesquisa e defende que “o governo Lula avançou muito mais do que está sendo colocado na pesquisa”. Ele enfatiza que o governo enfrenta pressões de setores financeiros que resistem a mudanças sociais e acusa setores bolsonaristas de tentarem sabotar a gestão.
O vereador também destaca conquistas econômicas e sociais, como o crescimento previsto do PIB de 3,5% em 2024, a taxa de desemprego de 6,1% — a menor da história do país — e a importância da reforma tributária para o Amazonas. Ele cita, ainda, a retomada de programas sociais e obras públicas como fundamentais para o progresso do estado e do país.

“A reforma tributária está mudando todo o sistema tributário para diminuir impostos, principalmente para a população mais pobre. Nas áreas sociais, como na educação, o programa ‘Pé de Meia +’ é um sucesso total em garantir oportunidades para os jovens. No combate à fome, mais de 20 milhões de pessoas saíram do mapa da fome. O programa Minha Casa Minha Vida voltou e o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] retomou milhares de obras paradas em todo o Brasil.”
Zé Ricardo, vereador do PT
José Ricardo também comentou melhorias para o estado. “Para o Amazonas, mais uma vez tivemos um governo com um olhar extremamente favorável. Repasses para o estado e para a capital — destinados a obras e ao Minha Casa Minha Vida. Esses investimentos são extremamente significativos e, com certeza, nos próximos anos, contribuirão muito para a geração de empregos, oportunidades e arrecadação pública”, completou o petista.
Já o vereador de Manaus Coronel Rosses (PL) discordou da visão do colega parlamentar e disse que a atual gestão federal trouxe poucos benefícios à capital e expressa preocupação com a Reforma Tributária.
“O discurso do ‘amor’, até agora, trouxe muito pouco para Manaus. A recente reforma fiscal, apesar de alardeada como boa para a Zona Franca de Manaus, precisa ser analisada em sua totalidade, pois o IVA, com a maior taxa do mundo, é extremamente preocupante sobre a realidade de seu impacto em nossa população. Precisamos de mais ações e menos promessas por parte do governo federal.”
Coronel Rosses (PL) , vereador de Manaus

‘Promessômetro’
O jornal Folha de SP do último sábado, 18/1, também destaca outros dados do chamado “Promessômetro”. Além dos 28% de promessas cumpridas, 29% das promessas estão em andamento, 25% foram iniciadas, mas avançam lentamente, e 17% estão paradas.
O ritmo médio é de um compromisso cumprido a cada 26 dias de mandato, mais lento do que o ideal hipotético de uma promessa a cada 14 dias para concluir todas até o fim da gestão. Em 2023, o ritmo era de uma promessa a cada 19 dias.
Entre as 103 propostas, 29 foram concluídas, 30 estão em andamento, 26 avançam lentamente e 18 estão paradas. A economia lidera entre as áreas com mais promessas cumpridas (12), seguida por cultura, política, saúde e segurança, com duas cada.
Nas promessas em andamento, a área social lidera (6), seguida por economia e infraestrutura (5 cada). Já entre as promessas paradas, os destaques negativos são segurança (4), política e economia (3 cada), além de saúde e educação (2 cada).
As maiores dificuldades estão em áreas como meio ambiente e economia, com cinco promessas em execução lenta, e segurança, com quatro.
Dificuldades e desafios
Algumas promessas, inicialmente em andamento, regrediram para o status de paradas em 2024. É o caso da reversão da privatização da Eletrobras, que não avançou devido à falta de apoio no Legislativo. O mesmo ocorreu com o fortalecimento do Suas (Sistema Único de Assistência Social), apesar do investimento de R$ 3,4 bilhões no setor.
Outras propostas de grande impacto, como a retirada do país do mapa da fome, a retomada da reforma agrária e o desmatamento líquido zero, também enfrentam dificuldades. A isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil foi encaminhada, mas pode enfrentar entraves no Congresso.
Por outro lado, promessas como o aumento de investimentos no Bolsa Atleta, a criação do programa Pé-de-Meia, a renegociação de dívidas com o Desenrola Brasil e o estabelecimento de estoques reguladores de alimentos foram concluídas.