Caio Silva – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Uma pesquisa realizada em 2024 pela Descarbonize Soluções revelou que 67% dos brasileiros acreditam que a responsabilidade de ensinar educação ambiental às crianças é das escolas. Apesar disso, os dados mostram que a prática em casa ainda é limitada.
Segundo o levantamento, entre os que receberam algum tipo de educação ambiental durante o período escolar, apenas 36% afirmam conversar com os filhos sobre o tema pelo menos uma vez por semana. Outros 32% fazem isso ocasionalmente e 19% raramente. Os dados sugerem que, mesmo com a aplicação transversal da educação ambiental nas escolas, é preciso ampliar o estímulo dentro dos lares.
Para o professor de Biologia Roberto Amaro Bianco, educar para o meio ambiente é essencial para formar cidadãos conscientes da realidade à sua volta.
“Educação ambiental significa educar para a realidade em torno do indivíduo. É um processo construtivo que desenvolve habilidades de intervenção no meio, seja ele natural ou urbano. O meio ambiente não é só floresta; a cidade também precisa ser saudável, pois influencia diretamente a saúde das pessoas”, destaca.
Bianco também defende que as escolas são o espaço ideal para esse tipo de formação.
“Como professor de Biologia, considero o currículo adequado. A escola está diretamente ligada à ciência e tem o papel de popularizá-la. Podemos melhorar muito se abordarmos temas como as emergências climáticas nas aulas, por exemplo”, afirma.
Ainda segundo o professor, ações simples são ferramentas pedagógicas valiosas.

“Vivemos uma emergência ambiental e climática. Mostrar a realidade e propor soluções é uma estratégia poderosa. Atividades como limpeza de áreas verdes, coleta seletiva e oficinas de reciclagem geram impacto positivo imediato e educam de forma prática crianças e jovens”, acrescenta.
A pesquisa mostra ainda que 58% dos brasileiros consideram as crianças mais conscientes que os próprios pais sobre temas ambientais. E 51% defendem que a educação ambiental deve ser introduzida já na educação infantil, até os 5 anos.
Outros 28% acham que o ideal seria no ensino fundamental I (de 6 a 10 anos), e 14% preferem a introdução no fundamental II (de 11 a 14 anos).
Projetos que fazem a diferença
Roberto Amaro também é um dos participantes do projeto Ciência na Escola (PCE), que integra ações de educação ambiental e popularização da ciência no Bosque da Ciência, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
“O programa é executado por uma equipe multidisciplinar de professores liderados por um pesquisador do instituto. As atividades incluem exposições, materiais didáticos, trilhas temáticas e projetos de iniciação científica”, explica.
“O foco são os estudantes que visitam o espaço com suas escolas, mas também atendemos o público em geral. A proposta é conectar ciência, meio ambiente e educação de maneira acessível”, completa o professor.
Educação ambiental desde cedo
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê que, desde a primeira infância, as crianças devem ser incentivadas a explorar o mundo natural, desenvolver curiosidade e respeito pela natureza. O objetivo é formar indivíduos que valorizem o meio ambiente e entendam seu papel na preservação dos recursos naturais.
Apesar dos avanços, os dados revelam desigualdades regionais. De acordo com o Censo Escolar de 2025, quatro dos sete estados com menor oferta de educação ambiental estão na Região Norte: Acre, Amazonas, Roraima e Pará. É a primeira vez que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) faz esse tipo de levantamento.
O estudo aponta que a forma mais comum de abordagem da educação ambiental é por meio de projetos transversais ou interdisciplinares (em 64% das escolas). Outros 52% utilizam conteúdos dentro de componentes curriculares regulares. Apenas 11% possuem uma disciplina específica sobre o tema, enquanto 10% desenvolvem a educação ambiental como eixo estruturante do currículo.
Educação que transforma
Mesmo não sendo uma disciplina isolada, a educação ambiental está presente no cotidiano escolar, principalmente nas áreas de Ciências da Natureza, como Biologia, Química e Física. Além disso, projetos com foco na percepção ambiental têm o papel de despertar valores e atitudes sustentáveis, promovendo uma relação equilibrada entre sociedade e natureza.
“As datas comemorativas ambientais são importantes, mas não suficientes. Proteger a floresta, economizar água e energia e separar o lixo são atitudes que precisam ser parte da rotina de todos, diariamente”, reforça Roberto Bianco.