Redação Rios
RIO – Fotos e vídeos da recente operação do governo do Rio de Janeiro contra uma facção criminosa carioca — tanto durante a ação quanto no dia seguinte — revelam como o grupo criminoso vem utilizando táticas de guerra, com o uso de uniformes, drones e armamento pesado em seu planejamento e confrontos com as forças de segurança.
A ofensiva conjunta entre as polícias Civil e Militar, realizada na terça-feira, 28/10, resultou em 121 mortos, incluindo quatro policiais, segundo balanço oficial do governo fluminense. Outras 113 pessoas foram presas.
O governador Cláudio Castro (PL) classificou a operação como um “sucesso”, enquanto a Defensoria Pública do Estado apontou indícios de ilegalidades e pediu apuração sobre as mortes.
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Uniformes e táticas de guerra
Imagens divulgadas mostram integrantes do Comando Vermelho usando roupas camufladas, coturnos e balaclavas, em padrão semelhante ao de tropas militares.
Um dos suspeitos presos chegou a publicar no Instagram uma foto em que aparece sem camisa, armado com um fuzil, luvas e uma touca preta, antes da ação policial.

Drones e arsenal sofisticado
Durante a ofensiva, o CV reagiu com drones adaptados para lançar explosivos, em tática semelhante às usadas em conflitos como os da Ucrânia e da Faixa de Gaza.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o uso desse tipo de tecnologia representa um novo estágio de sofisticação das facções criminosas.

Além dos drones, o arsenal apreendido pelas forças de segurança inclui armamento pesado, com a descoberta de fábricas clandestinas de fuzis — produzidos com matéria-prima importada —, além de câmeras termográficas e bloqueadores de GPS.
Os drones FPV (First Person View) utilizados são modelos comerciais, facilmente comprados pela internet por valores entre R$ 3 mil e R$ 10 mil. Apesar de simples, são capazes de transportar até meio quilo de carga, o suficiente para carregar uma granada de mão.
Balanço da operação
A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro divulgou na tarde de quarta-feira, 29, um balanço da megaoperação. Confira os números informados:
- Mortos: 121 (incluindo quatro policiais)
- Presos: 113, sendo 33 de outros estados
- Adolescentes apreendidos: 10
- Armas: 118 (90 fuzis, 26 pistolas e um revólver)
- Artefatos explosivos: 14
- Carregadores: centenas, ainda não contabilizados
- Munições: milhares, ainda não contabilizadas
- Drogas: toneladas, ainda não contabilizadas
Geografia favorece ação criminosa
Os complexos do Alemão e da Penha, alvos da operação, abrigam mais de 110 mil moradores, segundo dados da Prefeitura do Rio com base no IBGE. No Complexo do Alemão, vivem cerca de 54 mil pessoas; na Penha, são 58 mil habitantes (considerando todo o bairro).
A geografia acidentada e o crescimento desordenado das comunidades têm favorecido a atuação de grupos armados e dificultado incursões policiais.
“São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem: casas irregulares, becos em que é impossível fazer patrulhamento”, disse Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio.
O dia seguinte: relatos de moradores
Na quarta-feira, moradores do Complexo da Penha relataram ter encontrado dezenas de corpos em uma área de mata na Serra da Misericórdia. Segundo a associação de moradores da Penha, 72 corpos foram levados à Praça São Lucas.
Testemunhas afirmaram que muitos corpos apresentavam sinais de tortura, marcas de facadas e decapitações.
“Fizeram um necrotério lá dentro da favela. Abriram os corpos como se fossem médicos”, disse uma parente de uma das vítimas, sob anonimato.
O que disse o governo
O governo fluminense defendeu a operação, alegando que a ação foi bem-sucedida ao enfraquecer o poder do crime organizado nas comunidades.
“As verdadeiras vítimas foram os quatro policiais mortos. De vítimas, ontem [terça-feira], só tivemos os quatro agentes de segurança”, afirmou o governador Cláudio Castro, ao comentar o resultado da ofensiva.
*Com informações da Agência Estado











