Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Cerca de quatro mil indígenas da etnia Munduruku enfrentam uma situação de emergência na Terra Indígena Kwatá-Laranjal, localizada no município de Borba, a 149 quilômetros de Manaus, devido a uma vazante severa que tem secado os rios Canumã e Marimari, afluentes do Rio Madeira.
A seca isolou centenas de comunidades indígenas, incluindo os Munduruku desta região, que agora enfrentam graves dificuldades para obter água potável, alimentos e acesso a serviços essenciais.
“Desde que começou a seca, o povo Munduruku aguarda ajuda, mas a baixa do rio tornou impossível que eles saíssem e que outras pessoas chegassem. Eles sofrem com a falta de água há muito tempo e aguardam ao menos uma minimização dessa situação. Considerando que se trata de uma mudança climática, a ajuda do poder público seria muito bem-vinda”, declarou o jovem Munduruku, Estélio Cardoso.
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A seca tem impactado profundamente a vida e os costumes da comunidade Munduruku, que depende fortemente dos recursos naturais dos rios para sua subsistência. Necessidades básicas como água, alimentos e acesso à cidade são os desafios que exigem atenção urgente por parte das autoridades, acrescentou Estélio.
“O povo Munduruku se encontra na calamidade da estiagem por conta da falta de água, principalmente de alimentação. O povo dependia do rio para pesca e também da agricultura porque as roçadas ficam do outro lado do rio. Por isso, nesse momento, o povo está isolado, principalmente na aldeia Kwatá. E nós reivindicamos que os poderes públicos possam olhar e minimizar um pouco mais a situação do impacto da estiagem para o povo Munduruku. Aqui fica o nosso apelo às autoridades: que olhem melhor para a região do rio Madeira, que ainda não teve assistência com relação a esse fato”
Estélio Lopes dos Cardoso
A notícia chegou à redação do Portal RIOS DE NOTÍCIAS através do ator Adanilo, que mesmo estando em set de gravação devido ao remake da novela “Renascer”, tem procurado cumprir sua promessa de ajudar os parentes indígenas.
Estélio Lopes Cardoso que reside em Manaus é voz ativa na busca por auxílio. Ele é formado em geografia pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e atualmente é mestrando na Universidade Federal de Rondônia/UNIR. Além disso, é membro do movimento dos estudantes indígenas do Estado do Amazonas e faz parte da organização da rede de juventude Munduruku.
De volta à cacimba
Como uma solução emergencial, a comunidade Munduruku tem dado prioridade por encontrar água potável da forma como aprenderam com seus antigos.
“Eles estão abrindo cacimbas, que são poços pequenos para poder encontrar água para beber e tomar banho porque a água do rio está muito suja e com com lama. Mesmo assim, a água desses poços improvisados não é de qualidade porque ela dá na pedra e vem com ferrugem. Muitas crianças estão adoecendo por conta da dessa água, com diarréia e vômito”, explicou Estélio.
Cardoso contou também que, com a seca extrema no município, muitos também não conseguem exercer suas atividades de pesca e agricultura, o que gera um quadro de insegurança alimentar grave entre os indígenas.
Diante disso, para ajudar seu povo, mesmo à distância, ele aponta algumas das medidas que o governo local e federal podem aplicar e que considera necessárias para enfrentar a situação atual.
“Como a água é fundamental, abrir poços artesianos minimiza a falta de água. Além disso, a distribuição de cestas básicas é importante, já que a alimentação provém dos rios e da agricultura, e todos esses recursos estão afetados pela seca”, apelou.
Segundo ele, a comunidade Munduruku tradicionalmente subsiste da caça, pesca, agricultura e coleta de recursos naturais, como açaí e castanha, por meio dos rios da região. Entretanto, a seca tornou as atividades inviáveis devido à falta de água nos rios, que antes eram vias de transporte e fontes de alimentos.
“O povo Munduruku tem essa interação com atividade para sustento, para alimentação. Tudo era produzido por meio dos rios. Eles usam a canoa para chegar até os lugares onde se colhe o açaí e castanha. Mas a seca deixou tudo difícil. Esse é o impacto de maior proporção e muitos falam não é comum. A seca dessa ano está bem mais agressiva”, relatou Estélio.