Júnior Almeida e Ana Clarissa – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Amazonas perdia há cinco anos o levantador de toadas do Boi Caprichoso Arlindo Pedro da Silva Júnior, conhecido também como o “Pop da Selva”. Arlindo assumiu o item de levantador no final dos anos 1980 no Festival Folclórico de Parintins, o que lhe rendeu grande projeção no universo do boi-bumbá.
Nascido em Manaus no dia 20 de maio de 1968, Arlindo Júnior foi símbolo de inovação e carisma na cultura amazonense, sendo uma figura que representou a essência da cultura do Norte, levando o boi-bumbá a todos os cantos do país.
A ascensão ao estrelato no universo do boi-bumbá foi rápida e marcante. Como levantador de toadas do Caprichoso, ele conquistou o coração do público com sua voz poderosa e seu carisma inconfundível, tornando-se uma das principais estrelas do festival.
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Arlindo também foi cantor, o que se demonstrou na sua interpretação das toadas, trazendo ao palco performances cênicas que eram verdadeiras obras de arte, como a lendária interpretação de arcebispo na toada “Catedral Verde“, de 1997, que se tornou um marco na história do festival.

Conexão com os fãs
Arlindo Júnior não era apenas um artista nos palcos, mas também no coração do público. Sua relação com os fãs era única e um detalhe descrito por quem o conheceu pessoalmente, era seu perfume Kouros, uma assinatura tão característica, quanto a sua voz.
Quando o cantor entrou no Bumbódromo pela primeira vez, foi seu jeito brincalhão e carismático de incentivar as coreografias dos torcedores que se tornou a cereja do bolo. E não deu outra, desde então, o artista foi batizado pelos torcedores como “Pop da Selva” e passou 15 anos defendendo o bumbá Caprichoso, levantador e apresentador ao mesmo tempo, sempre recebendo a nota máxima dos jurados.
Na carreira solo, o cantor lançou 13 discos. O primeiro álbum, “Brincando de Boi”, de 1993, sendo uma homenagem conhecida ao Caprichoso. Em “Saga de um Canoeiro”, de 1994, o cantor exalta a cultura amazonense ao abordar as lendas amazônicas.
Com o sucesso no Festival de Parintins, Arlindo Júnior conseguiu alcançar uma visibilidade nacional, participando de programas de grande audiência como o “Criança Esperança”, “Jô Soares” e “Hebe Camargo”. Sua presença nesses programas mostrou ao Brasil o que o Festival de Parintins e o boi-bumbá significavam: um patrimônio cultural riquíssimo e digno de ser reconhecido em todo o país.
Mas sua carreira não se limitou somente à música, Arlindo também se aventurou na política, sendo eleito vereador de Manaus em 2008, legislando por dois mandatos.
Em 2014, Arlindo Jr volta a ser item oficial assumindo o item 01 apresentador. Mas em 2016, o cantor anunciou que estava enfrentando uma batalha contra o câncer. Apesar disso, em 2017 lança seu último DVD da carreira, “Teatro da Vida” gravado no Teatro Amazonas, em Manaus.
No ano de 2019, Arlindo faz uma participação especial no Festival de Parintins durante apresentação do bumbá Caprichoso onde emocionou a todos que estavam presente, sendo essa a sua última participação especial na arena.

Encontro com Juarez Lima
No natal de 2019, Arlindo ainda fez uma visita especial ao galpão de Juarez Lima em Manaus, onde foi recebido com carinho e orações de amigos e fãs. Juarez é responsável por mudar completamente o formato das alegorias apresentando novos conceitos e rompendo com o tradicional na arena do Bumbódromo.



Juarez morreu em 22 de novembro, aos 58 anos, na Áustria. O artista foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) enquanto estava na Europa em viagem de trabalho, e prestes a retornar ao Amazonas quando sofreu o incidente trágico.
Morte de Arlindo
Ainda em 2016, por meio de suas redes sociais, Arlindo Júnior confirmou que estava com câncer de pleura, e passou cerca de três anos lutando contra a doença. No mesmo ano, ele não havia sido reeleito nas eleições municipais e acabou voltando para o hospital com falta de ar, na ocasião descobriu que teve um derrame pleural.
Ele passou os três anos seguintes lutando contra a doença. Descoberta inicialmente nos pulmões, o câncer avançou para os ossos e também para o cérebro. No dia 29 de dezembro de 2019, o eterno canoeiro do Caprichoso, aos 51 anos, morreu devido as complicações no tratamento.