Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Nos últimos dias, uma onda de desinformação e especulação tomou conta das redes sociais, alimentada por prints falsos de supostas conversas entre a jovem Jéssica Canedo, de 22 anos, e o humorista Whindersson Nunes. Apesar de ambos terem negado qualquer envolvimento romântico, o caso ganhou repercussão, sendo divulgado por páginas de fofoca, como a “Choquei”.
A situação tomou um rumo trágico quando Jéssica, natural de Araguari, no Triângulo Mineiro, tornou-se alvo de ataques e ameaças nas redes sociais. A pressão decorrente das falsas acusações e a intensa exposição levaram a jovem a uma decisão de tirar a própria vida, conforme divulgado pela família na última sexta-feira, 22/12. (Atenção: em situação semelhante procure um especialista).
Leia também: Whindesson Nunes pede criação de lei após morte de jovem por fake news
No entanto, Jéssica já havia alertado que sofria uma batalha contra a depressão. Em seu último pronunciamento nas redes sociais, ela expressou sua aflição, mencionando que “o setembro amarelo mais uma vez não ensinou nada para ninguém”, ressaltando a falta de compreensão das pessoas em relação às questões de saúde mental.
![](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/12/jessica-canedo.webp)
Em resposta ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, a psicóloga Deborah Pacheco destaca os efeitos negativos da exposição midiática na saúde mental, especialmente considerando o histórico de depressão de Jéssica. Ela questiona se os indivíduos que, movidos pelo fanatismo, contribuíram para a tragédia têm consciência da parte de culpa que carregam pela perda da vida da jovem.
“Educação emocional nos torna seres empáticos como uma de suas premissas onde ao ver situações como desta moça vítima de fake news respeitaríamos e teríamos ouvido seus apelos, e de certa forma ajudaríamos. O quadro depressivo quando não ouvido leva ao sofrimento psíquico extremo. O que nos leva a analisar é, cada indivíduo que por fanatismo a levou a esse ato extremo tem consciência que tem parte da culpa do fim da vida desta moça?”
Deborah Pacheco, psicóloga
Por que as pessoas reagem dessa forma?
A psicanalista Samiza Soares explicou, ao RIOS DE NOTÍCIAS, os motivos que levam as pessoas a reagirem de maneira intensa diante de situações como a enfrentada por Jéssica e Whindersson Nunes.
“O intenso interesse das pessoas em figuras públicas, como Whindersson Nunes, muitas vezes é motivado por uma conexão emocional que os fãs desenvolvem com seus ídolos. Eles podem admirar não apenas o trabalho, mas também a personalidade da pessoa, projetando expectativas e idealizações nessa relação. Essa devoção e envolvimento emocional podem desencadear reações extremas quando surgem situações desfavoráveis ou mal-entendidos”
Samiza Soares, psicanalista
A especialista aponta que a pressão exagerada por expectativas criadas em torno dos ídolos pode ultrapassar limites, como evidenciado no caso em questão.
“O desejo de conhecer mais sobre a vida pessoal dos ídolos muitas vezes deriva da idealização construída ao redor deles. As pessoas podem sentir uma conexão profunda, acreditando que conhecer mais sobre suas vidas trará uma sensação de proximidade e pertencimento. No entanto, essa curiosidade muitas vezes ultrapassa os limites, invadindo a privacidade e impactando negativamente a saúde mental e emocional tanto dos ídolos quanto dos próprios fãs”, alerta Samiza Soares.
Qual é a motivação?
A psicóloga Deborah Pacheco explica sobre as reações extremas decorrentes do fanatismo, destacando-o como um estado psíquico.
“O fanatismo é um estado psíquico de paixão cega, que defende suas causas intensidade ao ponto de por vezes, flertar com o delírio, passando a ficar impossibilitado de ouvir argumentos opostos ou entabular diálogo saudável”
Deborah Pacheco, psicóloga
Segundo Deborah, a falta de educação emocional na atual geração contribui para essas reações intensas, deixando as pessoas sem noção do impacto que suas ações podem causar na vida de outras.
“Ocorre que estamos numa geração onde a educação emocional teve sua fragilidade, somos frutos de uma geração de exageros e assim não sabemos ao certo o limite da intensidade de nossas ações na vida da outra pessoa”, destaca a psicóloga.
No contexto de Whindersson Nunes, a psicóloga destaca que a sociedade perpetua a idealização de uma imagem de sucesso sobre o humorista, que, apesar de suas conquistas, enfrenta desafios como depressão, dificuldades de interação amorosa e vícios.
![](https://www.riosdenoticias.com.br/wp-content/uploads/2023/12/whindersson.jpg)
Consequências
“Como consequência, infelizmente essa moça foi apenas mais uma e a ação dos fãs pode levar a um agravamento também do quadro de depressão do seu ídolo que tem que lidar com a consequência das ações de seus seguidores. Enfim, a liberdade quando exercida com exageros pode se tornar tóxica”, disse Deborah.
As palavras da psicóloga sobre o agravamento do quadro de depressão do artista em decorrência das ações dos fãs são reforçadas pela psicanalista Samiza Soares, que destaca os efeitos significativos que a exposição excessiva pode ter na saúde mental de todos os envolvidos.
“É importante ressaltar que a exposição excessiva e invasiva pode ter efeitos significativos na saúde mental de todos os envolvidos. Para as figuras públicas, como Whindersson Nunes, a pressão constante da exposição e o assédio podem sobrecarregar sua saúde mental. Já para os fãs, o intenso envolvimento emocional e a obsessão em saber detalhes da vida dos ídolos podem levar a expectativas irreais, frustração, inveja e até mesmo ações de perseguição“, ressaltou Samiza
Ambas as especialistas convergem na importância de estabelecer limites e encontrar um equilíbrio saudável na relação entre ídolos e fãs.
“Portanto, é essencial lembrar que artistas e figuras públicas são seres humanos com suas próprias vidas e desafios pessoais. Respeitar os limites e a privacidade é fundamental para preservar a saúde mental de todos os envolvidos. É importante que os fãs encontrem um equilíbrio saudável em sua admiração, lembrando-se de que ídolos também têm o direito de viver suas vidas pessoais sem ameaças, ataques ou invasões”, contou Samiza.
Essa reflexão se torna importante em um cenário onde a linha entre a admiração saudável e a obsessão tóxica parece estar se tornando cada vez mais tênue.