Redação Rios
ISRAEL – De repente milhares de pagers explodem simultaneamente no Líbano. No dia seguinte, o mesmo acontece com walkie-talkies espalhados no país. As duas ações impressionam por suas características, vistosas pela abrangência, mas ao mesmo tempo discretas.
Oficialmente, nenhuma autoridade assumiu os eventos ocorridos contra membros da milícia xiita Hezbollah nesta semana, mas acusam um único autor: o Mossad, a agência de espionagem de Israel.
Criado em 1948 junto com o Estado de Israel, o Mossad é responsável por ações de inteligência fora do território israelense. Os primeiros anos de atuação foram discretos, mas aos poucos a atuação dos espiões ganharam fama dentro de Israel e no mundo, tanto pela sofisticação dos planos quanto pelos seus efeitos.
Os espiões do Mossad, por exemplo, foram os responsáveis pelo sequestro em 1960 do nazista criminoso de guerra Adolf Eichmann, que estava foragido na Argentina. Depois da prisão, Eichmann foi julgado e enforcado em Israel. No mesmo período, o espião Elie Cohen se infiltrou na liderança síria, adquiriu segredos militares e ajudou Israel a ocupar as Colinas do Golã na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
A atuação do Mossad continuou relevante nos anos seguintes e segue até o presente. Por acontecerem em território estrangeiro, no entanto, tem a legalidade questionada por ferir o princípio da soberania nacional e por isso dificilmente são admitidas publicamente pelas autoridades.
É o caso das atuais explosões no Líbano. E, antes disso, do assassinato em julho do então líder do Hamas, Ismail Haniyeh, com um drone dentro de Teerã, capital do maior rival regional de Israel, o Irã.
Não foi a primeira vez que os espiões israelenses agiram com sucesso dentro do território do principal inimigo. Em 2020, Mohsen Fakhrizadeh, o principal cientista do programa nuclear iraniano e vice-ministro da Defesa, foi morto por um robô assistido por inteligência artificial e controlado remotamente via satélite.
Em 2021, um ataque hacker dos israelenses invadiu o Ministério do Petróleo do Irã e interrompeu a distribuição de gasolina no país.
A presença da agência no Irã é tão profunda e conhecida que é retratada em série, Tehran (2020, da Apple+). Mas outras ações foram retratadas antes em outras obras cinematográficas. Munique, dirigido por Steven Spielbierg em 2006, retrata a missão dos espiões na década de 1970 para assassinar 11 pessoas ao redor do mundo depois que 11 atletas israelenses foram assassinados nas Olimpíadas de Munique em 1972 durante um ataque terrorista.
A missão dos espiões neste episódio, no entanto, também envolveu a morte de um garçom marroquino na cidade norueguesa de Lillehammer depois de ser confundido com Ali Hassan Salameh, o mentor do ataque em Munique. Para o Mossad, o engano teve como consequência a prisão de cinco agentes na Europa. Outras dezenas fugiram de casa, precisaram trocar de telefone e mudar métodos operacionais.
Entre as presas neste episódio esteve Sylvia Raphael, uma cristã nascida na África do Sul com pai judeu. Ela foi condenada a cinco anos em uma prisão da Noruega, dos quais cumpriu 15 meses antes de ser deportada do país.
Segundo um artigo do jornal britânico The Guardian publicado em 2010, Sylvia pode ter entrado para o Mossad depois de ter sido discretamente questionada se desejava ser voluntária para “trabalhos delicados” envolvendo a segurança de Israel.
Até os dias de hoje, o Mossad oferece em seu site carreiras possíveis dentro da agência, que vão desde o operacional à área de espionagem e tecnologia.
Embora as ações da agência sejam admiradas pela sofisticação, há também quem critique o papel exercido pelos agentes, às vezes, aparentemente, mais centrado em assassinatos do que em coleta de informações.
Na década de 1970, o Mossad foi questionado por não ter conseguido obter o plano egípcio-sírio para o ataque que culminou com a Guerra do Yom Kippur. As críticas afirmaram que a agência estava muito mais preocupada em matar pessoas do que resguardando a segurança com ações de espionagem nos países vizinhos.
As explosões no Líbano também foram criticadas por afastarem ainda mais as negociações de cessar-fogo em Gaza e manterem as tensões em alta para uma guerra mais ampla no Oriente Médio. Apesar das críticas, os métodos do Mossad em seus assassinatos sempre chamam a atenção.
No caso do Líbano, autoridades e especialistas em segurança afirmam que provavelmente os agentes se infiltraram na cadeia de fabricação dos pagers e walkie-talkies para instalar explosivos nos dispositivos, acionados através de um código.
Os dispositivos explodidos eram utilizados por membros do Hezbollah como alternativa a celulares, por haver o temor de invasões hackers através da rede de telefone celular. Apesar das precauções, os agentes mostraram habilidade para causar danos em seus inimigos mais uma vez.
*Com informações da Agência Estado