Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornou réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados pelos crimes de golpe de Estado e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito. O julgamento marca um momento histórico, sendo a primeira vez que um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática desde a Constituição de 1988.
Mas quais serão as consequências jurídicas e políticas para Bolsonaro a partir de agora? O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com o advogado criminalista Carcos Dantas Filho para entender os impactos desse processo.
Exposição pública e pressão política
Para o especialista, o recebimento da denúncia coloca Bolsonaro em uma situação de intensa exposição, ampliando a pressão política sobre ele. “Isso pode ter consequências políticas significativas, pois Bolsonaro se tornou réu num dos casos mais emblemáticos já conhecidos. A opinião pública e seus apoiadores estão divididos entre aqueles que o defendem e aqueles que pedem a responsabilização”, destacou o advogado.
Do ponto de vista jurídico, o processo agora avança para a fase de instrução, onde provas serão analisadas e testemunhas ouvidas. “O recebimento da denúncia significa que o Supremo Tribunal Federal considerou a existência de elementos suficientes para dar continuidade ao processo. Isso implica que o ex-presidente se tornou formalmente réu, iniciando a análise do mérito das acusações“, explicou Dantas Filho.

Acusações e possibilidade de condenação
De acordo com a denúncia da PGR, Bolsonaro tinha conhecimento do plano ‘Punhal Verde Amarelo‘, que previa ações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Além disso, o ex-presidente estaria ciente da “minuta do golpe”, um decreto que pretendia legitimar um golpe de Estado após o resultado das eleições de 2022.
Se condenado por todos os crimes, que incluem organização criminosa armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado, Bolsonaro poderá enfrentar uma pena superior a 30 anos de prisão. Até agora, os ministros Flávio Dino e Luiz Fux seguiram o voto do relator Alexandre de Moraes. Os ministros Cármen Lúcia e Cristiano Zanin ainda devem votar.
Possibilidade de recurso e futuro político
A defesa de Bolsonaro deve recorrer, buscando desqualificar as acusações sob argumentos como falta de provas ou a alegação de que suas declarações estavam dentro dos limites da liberdade de expressão.
Segundo Dantas Filho, uma eventual condenação eliminaria qualquer possibilidade de Bolsonaro disputar eleições novamente. “Isso poderia afetar suas chances em uma futura candidatura, além de prejudicar muito sua imagem política”, pontuou. Vale lembrar que o ex-presidente já está inelegível por oito anos, desde as eleições de 2022, por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação.
Além disso, o recebimento da denúncia pode impactar outros envolvidos nos atos de 8 de janeiro, potencialmente levando a novas investigações e responsabilizações.