Gabriela Brasil – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Nas feiras e mercados, um dos alimentos mais procurados pelos amazonenses é o peixe. No entanto, um estudo divulgado nesta terça-feira, 30/5, detectou altos índices de mercúrio na principal proteína consumida na região, em razão do garimpo e outras atividades humanas. A pesquisa também aponta o Amazonas em quarto lugar na lista dos Estados da Amazônia Legal com alta concentração de mercúrio em peixes.
Conforme o estudo “Análise regional dos níveis de mercúrio em peixes consumidos pela população da Amazônia brasileira”, o principal contato das populações amazônicas com o metal tóxico é pelo consumo de peixes contaminados com mercúrio. Para o coordenador do Programa de Gestão da Informação do Iepé, Decio Yokota, a pesquisa acende uma preocupação sobre o risco à segurança alimentar na Amazônia pelo uso do mercúrio no garimpo.
“Este é o primeiro estudo que avalia os principais centros urbanos amazônicos espalhados em seis Estados. É preocupante que a principal fonte de proteína do território, se ingerida sem controle, provoque danos à saúde por estar contaminada”
Decio Yokota, coordenador do Programa de Gestão da Informação do Iepé
No Amazonas, foram analisados cerca de 262 peixes de 34 espécies, dos quais, 22,5% apresentaram índice de mercúrio maior do que o aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Anvisa.
A pesquisa realizada pelo WWF- Brasil, Greenpeace, Instituto Socioambiental, Fundação Oswaldo Cruz e pelo Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) indicou índices mais graves em Roraima, com 40% dos peixes coletados contaminados com alto grau de mercúrio. Logo atrás, o Acre, com 35,9%, e Rondônia, com 26,1%.
Já os três Estados com os menores índices foram: Pará, com 15,8%, Amapá, com 11,4%. Entre os 17 municípios amazônicos estudados, Manaus obteve uma porcentagem maior que a média amazonense: com 27,5% dos peixes contaminados com alto grau de mercúrio.
No entanto, os municípios amazonenses com índices mais graves foram São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, ambos com 50% dos peixes contaminados acima do limite recomendado por órgãos de saúde.
Garimpo
De acordo com o estudo, uma das principais atividades que deposita mercúrio no ecossistema e, por consequência, provoca a contaminação de peixes na Amazônia é o garimpo. Além dele, o desmatamento, a construção de hidrelétricas, e queimadas de florestas também aumentam os níveis de mercúrio na região Amazônica.
Para o especialista em conservação do WWF-Brasil, para combater a poluição de mercúrio na Amazônia é necessário que os órgãos públicos mantenham o controle do território amazônico e promovam o combate ao garimpo. “Além da degradação ambiental, os garimpos ilegais trazem um rastro de destruição que inclui tráfico de drogas, armas e animais silvestres, além da exploração sexual”.
“Por isso, o Estado precisa garantir maior controle e segurança para as populações locais. No entanto, outras ações como a fiscalização do desmatamento e queimadas também reduzem a exposição ao mercúrio, uma vez que impactam na dinâmica dos solos, dos rios e igarapés”
Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.
Saúde
A pesquisa faz um alerta sobre os danos causados à saúde pública e também para o meio ambiente em razão do mercúrio depositado na Amazônia.
De acordo com o dr. Paulo Cesar Basta, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o consumo de mercúrio pode ser ainda mais grave em mulheres grávidas.
Isso porque, o feto pode adquirir problemas no sistema cardiovascular e até mesmo distúrbios neurológicos. “Já as crianças podem apresentar dificuldades motoras e cognitivas, incluindo problemas na fala e no processo de aprendizagem”.
“De forma geral, os efeitos são perigosos, muitas vezes irreversíveis, os sintomas podem aparecer após meses ou anos seguidos de exposição. É urgente a criação de políticas públicas para atender as pessoas já afetadas pela contaminação por mercúrio e medidas preventivas, de controle de uso”
Dr. Paulo Basta, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz