Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Em 2023, o Amazonas viveu uma seca histórica. O fenômeno, impactado pelo El Niño – que reduziu a quantidade de chuvas no estado – colocou todos os municípios, incluindo Manaus, em situação de emergência e impactou mais de 600 mil pessoas. Na capital, o Rio Negro viveu a pior seca em mais de 120 anos de medição.
Na época da severa estiagem na região amazônica, os moradores das comunidade ficam isolados, sem água ou com pouca água potável para beber.
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Em algumas comunidades, o acesso à água é dificultado também pela distância. Deste modo, os ribeirinhos precisam sair de suas comunidades de canoa, até a cidade mais próxima, para comprar água.
Neste trajeto, além da quase intrafegabilidade do rio, a distância e o sol escaldante são obstáculos que precisam ser ultrapassados, e quando chegam a cidade ainda compram a água por um valor bem alto.
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Maria Ana Hipi faz parte da diretoria da Associação de Moradores de Boa Esperança desde a formação da comunidade. Segundo ela, durante a seca, a distância para entrar no igarapé mais próximo é de aproximadamente duas praias.
“Igarapé aqui perto de nós não tem. Mas assim mesmo a gente pega canoa, vai por terra mesmo, bota as garrafas no paneiro e vai pegar água lá. Outros tem poço, e dentro da comunidade tem três poços pequenos. Mas as famílias moram longe uma da outra, não dá pra distribuir para cada uma, a gente pega de pouquinho em pouquinho nas casas”, contou.
Neste ano, em algumas áreas rurais essa realidade vai mudar com a chegada do projeto “Água Boa”, da Defesa Civil do Amazonas. O objetivo é dar às comunidades mais distantes acesso à água tratada de forma permanente, sobretudo, durante a seca prevista para o segundo semestre deste ano.
RDS Rio Amapá
A RDS Rio Amapá é banhada pelo rio Madeira, que possui alta quantidade de sedimentos, o que dificulta sua purificação. Segundo a tesoureira da Associação de Moradores da comunidade Lago Azul, Raquel Lavareda, durante a cheia, a água do rio principal entra nos igarapés de onde os comunitários tiram a água para consumo.
“É essa água barrenta que muitas famílias levam pra dentro de casa. A gente tem hoje, na escola, um poço artesiano, mas que ainda não abrange toda a comunidade. Tem famílias que têm poço construído por conta própria nas suas casas, mas que também não abrange todos os moradores”, relatou.
A Reseva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Amapá é uma das primeiras inseridas na ação e os moradores comemoram acesso à água potável. Eles receberam kits para garantia de água limpa durante a estiagem 2024.
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Jhuacelly Campos, presidente da Associação de Moradores da comunidade Urucuri, que faz parte da Reserva, localizada em Manicoré, a 332 quilômetros de Manaus, diz que a chegada da água potável é o maior bem que a comunidade recebeu.
A moradora acredita que a distribuição de água potável é questão fundamental para todas as comunidades da RDS, visto que o acesso é dificultoso em períodos de seca.
“Muitas famílias se deslocam 30 minutos para conseguir água limpa, mas não boa. Nossos familiares já passam por aqui há mais de 100 anos, e a nossa luta principal é essa. Nossa comunidade é cercada por água, temos igarapé, temos o rio, o lago. Mas destes, nenhum traz uma água de qualidade para nossas famílias”, explicou.
Kit Água Boa
Quatro destas comunidades da RDS receberão a estrutura do projeto “Água Boa”, da Defesa Civil do Amazonas. Os purificadores coletam a água dos rios e a levam, por meio de tubos, para uma caixa d’água, onde passa por processos químicos até se tornar própria para o consumo. Na ação foram entregues 52 purificadores e 11 caixas d’água em nove comunidades da Reserva.
Ainda, serão distribuídos 400 filtros e 60 caixas d’água a 1.165 para famílias de 43 comunidades em Unidades de Conservação do Estado. Além da RDS Rio Amapá, são contempladas as Reservas do Rio Madeira (Novo Aripuanã, Borba e Manicoré), Juma (Novo Aripuanã), Puranga Conquista (Manaus) e Igapó-Açu ( Beruri, Borba e Manicoré).
A escolha foi feita a partir do monitoramento das comunidades mais impactadas pela falta d’água em 2023. A articulação para atender as áreas protegidas ocorreu por meio da Sema, responsável pela gestão dos territórios. A iniciativa já faz parte das ações de mitigação dos efeitos da estiagem deste ano.
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A previsão é que a entrega dos materiais para as comunidades seja concluída até o dia 21 de abril. A logística recebe apoio financeiro do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, por meio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
A entrega faz parte da parceria entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), a Defesa Civil do Amazonas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Para a presidente da Associação de Moradores de Boa Esperança, Maria Ana Hipi, vê no trabalho desenvolvido o início de uma alegria, uma forma de facilitar a vida dos moradores.
“Porque para a gente que está na frente, o plano é ajudar todas as famílias, que não fique nenhuma família de fora desses. Eu estou muito feliz por isso, vai melhorar muito a nossa água, vamos ter onde guardar com essas caixas, isso é uma felicidade”, completou.