Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Do bairro da Compensa para as telas do horário nobre da TV brasileira, Adanilo tem se tornado o nome mais comentado do cenário artístico amazonense. Com uma trajetória que começou em 2011 no teatro experimental e passagem pelo cinema nacional e internacional, o ator contou ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS sobre seu trabalho que tem orgulhado os amazonenses, como “Deocleciano”, da primeira fase de “Renascer”.
Em uma conversa descontraída nas dependências do Ateliê 23, companhia por onde Adanilo passou, o ator compartilhou sua experiência e os desafios que enfrenta. Para ele, participar de “Renascer” foi uma experiência marcante, pontuando a importância de ocupar um lugar de destaque na teledramaturgia nacional.
“Foi muito bonito participar da primeira fase de ‘Renascer’. Eu fiz outros trabalhos que foram legais, de alcance interessante também, mas com o ‘Renascer’ foi quase que um alívio, sabe, de estar participando de uma coisa que você sabe que vai dar certo. Ou seja, a gente nunca deixa de estar com medo, com nervoso de como vai ser. Mas agora se confirmou para mim. Eu me sinto muito privilegiado, com muita sorte de ver que funcionou, que as pessoas gostam, que se interessam. Isso interferiu muito lindamente na minha vida”, declarou.

Para Adanilo, a novela não apenas proporcionou uma oportunidade única em sua carreira, mas também representa um marco na representatividade regional. Ele destacou o fato de que a novela conta com quatro personagens indígenas, o que reflete uma nova abordagem na teledramaturgia brasileira.
“Nós, pessoas do Norte, pessoas amazônicas, a gente tem que está nesse lugar e eu acho que “Renascer” é muito feliz nisso. A novela tem quatro pessoas indígenas fazendo personagens não estereotipados. Eu acho isso muito forte e muito novo para teledramaturgia também. Acho que nossos corpos, a nossa diversidade está começando a ser aceita. Isso inclui os diversos contextos em que a gente está inserido, como no meu caso, uma pessoa da periferia de Manaus e indígena com essa vivência, por exemplo. Nós somos muito diversos e temos que aproveitar isso”
Adanilo, ator

‘Manauarazão’
Adanilo ressaltou a importância da representatividade e valorização da identidade cultural, especialmente na arte, que considera um espelho das pessoas. O ator acredita que ao valorizar e celebrar a diversidade, é possível construir uma sociedade mais inclusiva e empoderada, refletida também nas produções artísticas.
“Eu demorei para entender de que eu sou um ‘manauarazão’, sabe? Demorei mesmo. É uma pena. Mas eu acho que a gente vem melhorando isso da representatividade, de como as pessoas se enxergam. Eu espero que a gente possa se valorizar mais mesmo. Isso vai trazer coisas muito positivas porque a arte é o maior retrato da nossa sociedade. Se você quiser ler uma sociedade, é só buscar os artistas. Sem desmerecer nenhuma outra área, cientista, política, exata. Mas a arte faz esse espelhamento, que às vezes é cruel, é difícil, é bonito de se olhar. E sempre vai ser bonito olhar para Manaus. Então essas imagens que eu quero guardar enquanto artista, criador de coisas pessoais”, apontou.
Diversidade amazônica
O ator enfatizou a diversidade presente na região amazônica e a importância de valorizar essa pluralidade na mídia nacional. Além disso, destacou a riqueza de detalhes e nuances do seu personagem, Deocleciano, que traz uma mistura de comicidade e drama, refletindo aspectos da cultura e vivência amazônica.
“Eu estava revendo a cena do capítulo dez, em que o neném de Deocleciano e Morena morre e tem um pouco de comicidade também, né? Eu comecei a pensar nisso. De algum jeito que não sei explicar, o Deocleciano é muito positivo. Ele encontra muitas maneiras de ser. Eu nunca vi um personagem tão puro assim. Eu não acredito em pureza e acho que eu não tenho. Tem certa inocência nele, sabe? Eu acho isso bonito. Então, quando era pra brigar, não parecia briga, ou quando era pra ter raiva, ele tenta compreender”, declarou.
“Por exemplo, junto de Jupará, Deocleciano foi o único personagem amigável do Pai Boi (Fábio Lago), que é um personagem que todo mundo teme e fala muito mal. Ele vai lá e é o único que toca no cara. Eu pensava nesses pequenos detalhes. É um diplomata, né? E isso inclui o contexto do Sul da Bahia, da zona cacaueira, que tem esse jogo de cintura de ‘tenho que contar as coisas, os causos, tenho que fazer os trabalhadores que estão ali comigo rirem, se divertirem’. Isso traz a comicidade e um lado meio trágico também, meio faroeste”, compartilhou.

Elenco estrelado
Adanilo também comentou sobre sua relação com os colegas de elenco, especialmente com Evaldo Macarrão (Jupará) e Humberto Carrão (José Inocêncio), com quem desenvolveu uma forte identificação. Ele ressaltou a dinâmica dos bastidores e a liberdade criativa proporcionada pela novela, que permitiu explorar diferentes nuances do seu personagem.
“Eu e o Macarrão nos aproximamos muito desde sempre. A gente fez o teste juntos. Então, se criou uma identificação muito forte. E com o Humberto Carrão, que já tinha trabalhado no ‘Marighella’, foi muito fácil. De algum jeito, aconteceu mesmo a dinâmica do jogo”, contou o ator.
Novos projetos
Quanto aos seus projetos futuros, Adanilo expressou o desejo de expandir sua atuação para além das telas da TV, incluindo longas-metragens e séries. Ele também revelou sua vontade de explorar projetos pessoais como roteirista e diretor, buscando um equilíbrio entre sua carreira e sua vida pessoal, especialmente sua relação com Manaus, sua cidade natal.
“Quero aproveitar pra fazer coisas maiores. Eu tenho tanta vontade de fazer uma longa metragem, uma série. Talvez isso me possibilite conhecer mais gente ou conhecer uma pessoa que me ajude a produzir. Mas a verdade é que os processos são os mesmos. Em se tratando de Brasil, principalmente, todo mundo é meio artista igual. Não que não tenha ninguém que é mais privilegiado do que o outro, mas digo que é muito ralado ser artista”, afirmo Adanilo.

“Agora é continuar fazendo filmes, séries e novelas, conciliar o maior tempo possível com a vida da minha filha, que é minha família, estar com meus pais também. Por isso, eu gosto tanto de estar em Manaus, embora muitas produções sejam em outros estados. Vou desenvolver projetos que eu tenho vontade, essas coisas que eu quero falar, que é principalmente como roteirista, diretor. Pra mim, faz muito sentido. Meu coração diz ‘cara, faz isso aqui que é o que tem que ser feito'”, confidenciou.












