Nicolly Teixeira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – No dia 29 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma data que foi instituída em 2004 para celebrar o orgulho e a resistência da comunidade trans, além de destacar a luta contra o preconceito e a marginalização enfrentados por esse grupo minoritário no Brasil.
A escolha do dia 29 de janeiro como data simbólica se dá pela realização do lançamento da campanha “Travesti e Respeito” no Congresso Nacional, um marco histórico para a causa trans no país. A campanha, promovida pelo Ministério da Saúde em parceria com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), foi a primeira ação voltada diretamente para o combate à transfobia no Brasil.
Ela possibilitou a alteração do nome e do gênero nos documentos civis de pessoas trans sem a exigência de cirurgia de adequação sexual, além de garantir o uso do nome social e estabelecer um protocolo de atendimento específico no Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar de ser um momento de celebração das conquistas da comunidade trans, a data também é um lembrete de que ainda há um longo caminho a ser percorrido para assegurar os direitos civis e a dignidade de todas as pessoas trans. A luta contra o preconceito e a violência persiste, e os membros da comunidade trans continuam sendo expostos a diversas formas de vulnerabilidade social.
De acordo com dados da ANTRA, o Brasil segue sendo, pelo 16º ano consecutivo, o país com o maior número de assassinatos de pessoas trans no mundo. Embora tenha ocorrido uma redução de 16% em relação ao ano anterior — quando 145 mortes foram registradas —, a situação ainda é alarmante.
Para discutir a importância do Dia Nacional da Visibilidade Trans, o portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com duas importantes representantes da comunidade: a assistente social Joyce Gomes e a técnica de enfermagem Karla Eshiley. Ambas são mulheres trans e compartilham suas perspectivas sobre a data.
A importância da data
Joyce Gomes destaca que o Dia Nacional da Visibilidade Trans é um momento essencial para amplificar as vozes da comunidade trans, que frequentemente são silenciadas ou desvalorizadas em razão do preconceito arraigado na sociedade brasileira. Ela também aponta a ausência de políticas públicas eficazes para garantir os direitos e a proteção da população trans no país.
“O Brasil continua sendo o país que mais viola e assassina pessoas trans no mundo, e a maioria das vítimas, infelizmente, são mulheres trans e travestis entre 15 e 29 anos”, afirma Joyce. “Esta data traz à tona as nossas demandas e fortalece nossas vozes, ao mesmo tempo em que nos faz refletir sobre a necessidade urgente de políticas públicas que garantam nossa segurança e bem-estar.”
A assistente social também enfatiza a subnotificação dos homicídios de pessoas trans, o que agrava ainda mais o quadro de invisibilidade e negligência por parte das autoridades. “É triste que muitos assassinatos de pessoas trans sejam arquivados ou tratados como casos de menor importância, como se nossas vidas não tivessem valor. Esse dia é um chamado à reflexão e à ação. Ele nos dá a oportunidade de compartilhar nossas experiências e os desafios que enfrentamos diariamente”, afirma.

A retificação de nome como um ato de identidade
Para Karla Eshiley, o Dia Nacional da Visibilidade Trans também é uma oportunidade para reforçar a importância da retificação do nome para as pessoas trans. A mudança de nome nos documentos é um gesto simbólico e fundamental para o reconhecimento da identidade de gênero de cada pessoa.
“A retificação do nome é uma conquista significativa para nós, pois, ao mudar nossos documentos, passamos a ser reconhecidas pelo nome com o qual nos identificamos. Isso representa uma grande felicidade, algo que muitas pessoas cisgêneras não compreendem a profundidade. Para nós, trans, essa mudança é um marco de libertação e de afirmação da nossa identidade”, explica Karla.
Desafios ainda presentes

Apesar das conquistas, os desafios para a população trans no Brasil são imensos. Além da violência e da discriminação, questões como o acesso à saúde de qualidade, ao emprego e à educação ainda são barreiras significativas.
Por isso, o Dia Nacional da Visibilidade Trans é, ao mesmo tempo, uma celebração das vitórias e um alerta sobre as mudanças que ainda são necessárias para garantir que todas as pessoas trans possam viver com dignidade, sem medo de serem marginalizadas ou violentadas.