Elen Viana – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Javier Milei (Liberdade Avança) conquistava 15 milhões de votos há um ano e tornava-se o presidente mais bem votado da história da Argentina. Com propostas ultraliberais, o economista derrotou o candidato Sergio Massa, prometendo enfrentar o Estado e recolocar a economia argentina nos trilhos.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com economistas para avaliar o desempenho do presidente argentino. Entre as principais promessas de Milei estão o corte de gastos públicos, a substituição da moeda local pelo dólar e o afastamento de países considerados “comunistas”. Mas, será que o político de 54 anos obteve resultados concretos? Entenda essa questão com base nas análises dos especialistas.
“A Argentina está saindo do fundo do poço, o que é extremamente benéfico para o Brasil e o Mercosul”, avalia a professora Michele Aracaty, do Departamento de Economia e Análise da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial indicam que a Argentina poderá crescer 5% em 2025, superando o status de economia em retração.
Líder libertário
Aracaty destaca a relevância histórica do mandato de Milei, o primeiro presidente argentino com uma ideologia libertária. O libertarianismo é uma corrente filosófica que preza a liberdade individual como valor político supremo.
“O presidente Javier Milei é o primeiro economista e o primeiro político libertário a liderar a Argentina. Os governos anteriores descontrolaram os gastos públicos, gastando mais do que arrecadavam. Esse excesso foi financiado pela impressão de papel-moeda. Mesmo sem apoio significativo da oposição, Milei surpreendeu o mercado e especialistas internacionais ao reduzir a inflação e regular o valor do dólar após um ano de gestão”, explicou Aracaty.
A pobreza no país
Apesar de avanços na diminuição da inflação, o número de argentinos vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou no primeiro semestre de 2024, atingindo 15,7 milhões de pessoas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), divulgados em setembro.
“Atualmente, quase metade da população argentina (cerca de 53%) vive em condições de pobreza, incluindo sete em cada dez crianças. Além disso, o consumo per capita caiu 3,4% em comparação ao mesmo período do ano passado”, ressalta Michele Aracaty.
A economista Denise Kassama aponta os custos sociais das medidas econômicas adotadas, destacando o impacto humano dos cortes radicais de Milei.
“A economia está relativamente melhor, mas o custo social é altíssimo. Milei conseguiu reduzir a inflação de 25% para 3,5% ao cortar gastos e benefícios públicos. Isso estabilizou o risco-país, mas a pobreza atingiu níveis históricos, com mais da metade da população (52,9%) vivendo em condições precárias. Isso equivale a mais de quatro milhões de famílias, cerca de 42% do total no país. Esse tipo de “remédio” pode salvar a economia, mas mata o paciente”, enfatiza Kassama.
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Corte de gastos
Entre as medidas mais polêmicas de Milei estão as políticas de austeridade ou como ele chamou “motosserra”. O setor da construção civil, por exemplo, foi duramente afetado após a suspensão de obras públicas, parte de seu esforço para reduzir o déficit fiscal.
A dívida externa argentina também permanece como um desafio, incluindo um empréstimo de US$ 44 bilhões junto ao FMI em 2018, feito pelo ex-presidente Mauricio Macri.
O vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), Altamir Cordeiro, reforça que os cortes eram necessários.
“A contenção de gastos, como a redução de ministérios e outras despesas públicas, resultou em um superávit orçamentário após anos de déficit. Embora impopulares, essas medidas trouxeram avanços significativos. Elas foram fundamentais para restaurar a confiança dos investidores e estabilizar a dívida pública”, explicou ele.
Altamir Cordeiro destaca ainda a percepção positiva do mercado: “Somente um governante comprometido com o saneamento econômico do país tomaria medidas tão impopulares. O governo Milei passou a mensagem de que os investidores podem confiar na Argentina novamente”, ressalta ele.
Dolarização e política externa
Entre as propostas mais ambiciosas de Milei está a substituição do peso pelo dólar como moeda oficial. A ideia busca combater a inflação, mas tornaria a economia argentina dependente do Banco Central dos EUA.
Atualmente, o dólar é usado na Argentina em contas-poupança e como referência para grandes transações, como imóveis, embora o pagamento final seja no peso, é comum que a população guarde suas economias em dólar. Com a mudança, a moeda americana passaria a ser usada também nas transações correntes, como pagamentos de salários.
“Milei desvalorizou o peso em mais de 50% ao assumir o cargo, o que elevou a inflação inicialmente. No entanto, cortes rigorosos nos gastos e a recuperação das reservas em dólares fortaleceram a moeda desde então”, explica Cordeiro.
No campo diplomático, Milei adotou uma postura pragmática, alinhando-se aos Estados Unidos e tornando-se o primeiro líder estrangeiro a se reunir com Donald Trump após a vitória do republicano.
Durante sua campanha, ele criticou duramente a China, classificando o país como “comunista” e declarando que não faria negócios com eles. Após ser eleito, Milei mudou o tom e já tem conversado com os chineses em busca de investimentos.